É sabido que precisamos de muita paciência e
dedicação para obtermos sabedoria capaz e hábil para lidar com o coração do
homem - o nosso. "Na vossa paciência possuí as vossas almas",
Luc.21:19. A intenção deste escrito é apetrechar todos aqueles que
gostariam de entender melhor o coração do homem e suas vertentes para
aconselharem melhor e aprenderem a lidar e a limpar seus próprios corações
também. É urgente estarmos limpos e irrepreensíveis diante de Jesus e através
d'Ele. O instrumento que tento usar aqui para uma melhor compreensão do
funcionamento dos nossos corações é a ilustração de que todo o coração do homem,
toda a virtude ou defeito tem sempre dois lados (e, por vezes, mais que dois). A
verdade que pretendo realçar é que existem mais factores a levar em conta quando
lidamos com pecados ou virtudes. Tendo esta ideia dos dois lados de cada coração
mais enraizada em nós, é óbvio que obteremos uma melhor perspectiva de como nos
aprofundarmos na justiça de coração, na santidade e na simplicidade de uma vida
celestial aqui na terra. Precisamos ter em conta como nosso coração funciona,
expondo defeitos na luz e evidenciando a vida de Jesus, ainda que essa vida se
manifeste em nós ou através de nós sem que nos apercebamos.
Precisamos saber lidar com a esquerda e com a
direita em simultâneo. Por exemplo, não saberemos lidar com o fanatismo,
anulando-o, se não soubermos que devemos lidar com aquela impulsividade e
impaciência de pular por cima dos meios que levam aos fins, isto é, lidar com
aquelas coisas que fazem o fanático esticar a mão para os fins sem querer passar
pelos meios. Sabemos que o fanático não é aquilo que tenta ou aparenta ser
porque não gosta de passar pela regeneração de tudo que é e faz. Um fanático é
um mentiroso e engana-se a ele mesmo. Existem essas vertentes nele que muito
poucos se dão conta porque ele exerce pressão para desviar as atenções e os
sentimentos daqueles com quem fala, fazendo as pessoas sentirem aversão e
repúdio pelo que faz. Fanatismo é tentar pular o muro e recusar entrar pela
porta. É a recusa de ter de passar pela vergonha de fora do arraial e tentar
obter acesso directo à vida eterna sem abdicar do coração terreno,
Heb.13:12,13. Precisamos saber quais as origens do fanatismo vendo seus
outros lados e causas. É a causa que dá à luz o comportamento, o sentimento, a
atitude, etc. "Então a concupiscência, havendo concebido, dá à luz o pecado",
Tiago 1:15. Eu creio firmemente que cada coração tem seus dois próprios
lados, seja esse coração bom ou ruim. Creio, também, que precisamos saber
lidar aprofundadamente com ambos os lados, sob pena de os pecados
permanecerem intactos devido à sua escassa exposição à luz e, no tocante às
virtudes, evitar que permaneçam pálidas e sem vida se não nos apercebermos como
elas funcionam em nós. Só assim "a paciência terá sua obra completa em nós". E
na medida que nos formos apercebendo que a obra exclusiva do Espírito Santo na
terra é a transformação de corações desde a sua raiz, logo nos dedicaremos a
essa obra com maior dedicação e atenção. Só os sábios conseguem salvar almas. "O
que ganha almas, sábio é", Prov.11:30.
Sem sabedoria, ninguém ganha almas para Jesus, ainda que as ganhe para a igreja.
Podemos ter a certeza que toda a obra incompleta não será considerada obra no
juízo final. Que Deus consiga que todos nós, sem excepção, sejamos achados tão
inocentes diante d'Ele quanto achou Daniel na cova dos leões. E Deus não nega o
que vê e nem altera a Sua percepção ou visão das coisas.
Irei exemplificar, na medida de minhas
capacidades e dentro daquela visão que Deus me deu, esta vertente da duplicidade
do coração. Mais não será possível. Mas, creio que importante é prevalecer a
ideia de que precisamos urgentemente de lidar mais aprofundadamente e mais
amplamente com nosso coração na aplicação de todas as verdades do evangelho. Um
dia, surgiu-me esta revelação sobre os dois lados do coração do homem quando
seguia em meu carro, meditando. Achei-a maravilhosa demais, mas, mais a maneira
simples como tudo se processou dentro de mim. Com o tempo, tudo se foi abrindo e
expandindo para outras áreas e aquilo que começou por ser uma página é agora um
livro. É bom ver como o mais ignorante e mais simples dos seres também é capaz
de ter acesso e retirar proveito da sabedoria de Deus. Basta pedir-Lhe. Sinto,
contudo, que poderia escrever indefinidamente sobre este assunto. Mas, muito mel
cansa, ainda que seja mel bom. Existem muitos mais exemplos, mas, como disse,
importante é enraizar esta ideia de que devemos contar com as varias vertentes
do nosso coração. É bom que você tenha a liberdade e a sabedoria de conseguir
saber mais desta faceta humana e que consiga chegar ao ponto onde a verdade
"penetra até a divisão de alma e espírito, de juntas e medulas para discernir os
pensamentos e intenções do (seu) coração". Espero, também, conseguir evitar que
se façam muitos juízos esporádicos, precipitados e errados sobre o coração do
homem. Que Deus nos abençoe muito. Amém.
-
A simpatia dum hipócrita é encantadora e logo colhe a atenção dos que olham;
o parecer dum homem humilde e sério na sua simplicidade é penetrante e por
vezes desconcertante, desencorajando-nos a aproximarmo-nos dele. Mas, em
nenhum dos casos deve seguir os primeiros instintos de seu coração, isto é,
entregar-se ao hipócrita ou afastar-se da simplicidade, pois não existe
simpatia maior que a de um homem honesto e simples de consciência e de
coração, como também não existe maior dureza de coração que a dum hipócrita
simpático e fingido.
-
A porta da paz de espírito encontra-se, muitas vezes, entre as dunas das
dúvidas acertadas, enquanto as portas para as tempestades de alma acham-se
entre as certezas em erro.
-
Toda a tentação é o oposto daquilo que você é ou então será o oposto daquilo
que deveria ser. Muito raramente será aquilo que você é, pois, então, seria
um modo de vida e não uma tentação.
-
Quem se abrasa em desejo será sempre alguém que nunca se satisfará, nem
mesmo quando se enche de tudo quanto o seu desejo pode assimilar e receber;
mas, quem não se vicia emocionalmente, será uma pessoa quase sempre
satisfeita e facilmente alegre.
-
Um inimigo é alguém que ajudará seu inimigo contra você; amigo é aquele que
ajudará seu inimigo a arranjar-se com seu Criador e consigo a ponto de se
amarem para sempre e não aquele que tenta manter-vos afastados um do outro.
Quem o ajuda contra seu inimigo, é inimigo se sua alma. Quem o
ajuda a concertar-se com quem tem algo contra si, ama sua alma e defende o
seu bem-estar.
-
Qualquer língua tem tantos músculos para falar quantos terá para se conter.
Mas, seu motor de arranque está dentro do coração e o botão para ligar e
desligar acha-se na paz de espírito e na paz de consciência. Quem fala
demais, fala porque nunca tem paz e por essa razão necessita que outros
pressionem seu botão por ele.
-
Uma língua que se cala acertadamente conhece sempre o teor da tentação de
falar quando não deve, pois de que outro modo tomaria conhecimento de quando
se deve calar? Muitos preocupam-se porque são tentados quando deviam dar
graças a Deus pela maioria de suas tentações, pois são elas que nos
manifestam que caminho não devemos trilhar e em que não devemos pensar.
O contraste que a tentação oferece abre a porta para a santidade se estivermos fazendo
as coisas através do Senhor. Se estivermos de acordo com o Senhor e,
assim, obtivermos graça, a tentação servirá para ajudar-nos a ver o caminho
que devemos seguir ou, no mínimo, o caminho que não devemos seguir. Não
devemos ter receio de sermos tentados se estivermos no caminho da santidade.
As tentações contrastam o caminho para nós. Vamos regozijar-nos nas
provações e sob tentações. É durante uma tempestade que se destacam os
lugares quietos e sossegados.
-
A tentação tem o poder de nos atrair para cair, quanto tem o poder de nos
fazer subir o próximo degrau da santidade. Sem tentação não existiriam
demónios, é certo, mas sem ela também nunca existiriam santos num mundo como
o nosso.
-
Estar calado quando se deveria falar é pecado, tal como quem fala muito peca
muito; mas, quem sabe calar-se sabia e oportunamente, será homem para ser
sempre tentado a estar calado quando deveria falar. Todas as virtudes têm
sua contra-semelhança pecaminosa – acautele-se.
-
Qualquer boca que lisonjeia é boca feita para criticar, pois quem lisonjeia
e quem critica têm o mesmo coração. Quem agrada pessoas é pessoa feita para
desagradá-las também - só a pessoa que agrada pode tornar-se desagradável ao
interromper os agrados. Quem agrada pessoas é egoísta e quer ser agradado.
Quando não é agradado, pode desagradar os outros. Só desagrada quem agrada e
só agrada quem é capaz de desagradar. Se você não tiver boca ou coração para
lisonjear, não terá boca ou coração para críticar. O problema é que, aquilo
que somos para com as pessoas e lhes fazemos, faremos para Deus assim que as
circunstâncias se proporcionarem. Todo aquele que lisonjeia pessoas, pode
lisonjear Deus achando que isso é louvor. São esses os tais que se amarguram
e criticam Deus facilmente, também. Lisonjas e críticas nunca funcionam.
"Falareis falsamente por Deus, e por ele proferireis mentiras? Fareis
aceitação da sua pessoa? Contendereis a favor de Deus? Ser-vos-ia bom, se
ele vos esquadrinhasse? Ou zombareis dele, como quem zomba de um homem?
Certamente vos repreenderá, se em oculto vos deixardes levar de respeitos
humanos", Jó 13:7-8,10. Os amigos de Jó eram
culpados neste aspecto e cometiam esse tipo de pecado.
-
Não existe orgulho que não esteja
construído sobre sentimentos de inferioridade. Deixem-me explicar.
Quando uma pessoa sofre de complexos de inferioridade, a sua natureza
contra-ataca achando algo do que se sentir orgulhosa. O mesmo acontece em
relação a sentimentos de culpa onde a pessoa recusa reconhecer suas culpas.
O sentimento de culpa leva a pessoa a encontrar instintivamente onde se
auto-justificar. É assim que o mecanismo humano funciona. As pessoas
encontram sempre o seu próprio caminho como saída para algo que parece ser
uma crise. "Cada um se desviou por seu próprio caminho". Por isso, sempre
que lidar com problemas desses ou similares, tente lembrar sempre o outro
lado invisível da questão, isto é, o outro lado do coração do homem e da
verdade. O homem sente orgulho porque se sente inferior ou inferiorizado
devido à verdade que se expressa dentro de si em relação ao seu estado
decaído. Todo homem foi criado conforme a imagem de Deus. Nenhum homem tem
como escapar à sua própria criação ou constituição e natureza. Logo, vivendo
de maneira diferente daquilo que sua natureza entende como sua constituição,
leva qualquer ser a sentir-se inferior ou perdido. Todos os sentimentos de
orgulho, a partir de então, são uma mera consequência da busca de
estabilidade e de compensações. Como o homem recusa conhecer seu estado
pecaminoso, busca alternativas para sua própria estabilidade interior. O
orgulho, a auto-justificação e outras coisas mais são apenas duas formas de
"caminhos próprios". Existem muitas mais. A afirmação que quero fazer aqui é
que todo o ser orgulhoso é um ser que se sente inferior ou, no mínimo,
inferiorizado. O orgulho é uma 'necessidade' de afirmação. O orgulho é um
contra-ataque, uma reacção. O homem vive num estado inferior ao da sua
criação. Por essa razão reage como bicho orgulhoso. O homem faz tudo isso
porque recusa fazer o que deve: voltar às suas origens usando todos os meios
da graça. Mas, a graça é precisamente o poder oposto àquele que o orgulho
concebe e onde se revê. Quando Deus nos chama a "voltar", significa isso
mesmo: voltar às origens da criação. Por essa razão é que só os mais
pequenos deste mudo poderão ser os maiores. Os mais pequenos deste mundo são
seres satisfeitos e assegurados em Jesus e Seu poder. A falta de satisfação
ou de segurança advém do facto do homem encontrar-se separado de Deus e de
estar vivendo de uma maneira para a qual não foi criado. Por essa razão
busca refugio no orgulho e na auto-justificação. Pense em Jezabel e na razão
por que ela "pintou-se em volta dos olhos, enfeitou a sua cabeça". Ela era
uma pessoa má e sentia-se feia. Ela era feia e sua consciência não mentia.
Por essa razão tentou encontrar uma forma de compensação. A sua maldade era
um tormento e ela reagia mal quanto a isso.
-
Qualquer um que diga boas coisas de si lisonjeando-o, será sempre alguém que
também pode dizer coisas más a seu respeito caso não receba um piropo ou
recompensa como retribuição pelo bem que acha que lhe fez falando.
Acautele-se contra lisonjeadores e nunca confie neles, antes trate-os como
quem pode espalhar questões sobre o seu próximo. Quem lisonjeia também é
maldizente, sem sombra de dúvida - são uma e a mesma pessoa!
-
A morte interior é a causa e a consequência do pecado no homem, a qual, em
seu engano, acha-se sempre viva; mas, quem é vivente por se haver encontrado
com Deus pessoalmente e factualmente, pode ser assolado pela dúvida sobre a
Vida porque a sua vida tornou-se diferente daquilo que estava habituado e
porque ouve a morte falar em sua soberba alegando ser ela a vivente. As
pessoas acreditam mais naquilo que ouvem do que na verdade, mesmo que possam
ouvir a verdade também. Por isso, o morto, frequentemente, acha-se vivo
sentindo a morte dentro dele, tanto quanto os vivos podem ainda achar-se
mortos sentindo a vida pelo lado de dentro. O maior engano, no entanto, é
quando o morto é crente evangélico ou o crente evangélico for morto - ele
achará que é muito vivo!
-
Qualquer pessoa que diz ser algo em sua soberba, é sempre alguém que irá
desesperar em tempos difíceis, pois qualquer tipo de arrogância é sinal de
fraqueza camuflada. É a forma que os humanos adoptaram para encobrir, a qual
tornou-se natural e inconsciente. Mas, todo aquele que confia e despeja
simplicidade diante da turbulência, estando seu Deus, será sempre alguém que
nem no meio da riqueza deixará de ser simples e um humilde honrador do seu
Criador, pois reflecte a imagem com que foi criado e não o que possui; (a
soberba é tentar reflectir aquilo que possuímos (ou não possuímos) como
garantia de segurança, enquanto a humildade é deixar transparecer aquilo que
somos - não o que achamos que somos - independentemente do que possuímos ou
somos). Em todo caso, tal como a paz de espírito é uma tentação para
qualquer soberbo, também a turbulência pode vir a afectar quem conhece Deus
embora nem um nem outro consigam sair de seu posto por eles, a não ser que o
soberbo seja transformado encontrando o seu Criador ou o homem humilde e
confiante se deixe seduzir pela soberba do rico e peque. Qualquer um que se
ensoberbece ou confia quando tudo lhe corre bem, será sempre alguém que
desespera quando as coisas, aparentemente, correm mal. Quem se ensoberbece
no abastecimento, é alguém que, na verdade, nunca confia em Deus e o seu
coração não está fixado em Deus e, por essa razão, irá entrar em desespero
facilmente assim que Deus o cobrir de males que não fazem mal a ninguém e os
quais têm o poder de nos fazer bem por haverem saído com o mandamento de nos
transformar.
-
Alguém que se acomoda quando tudo lhe corre bem será sempre alguém que foge
diante de problemas e obstáculos. São os dois lados do mesmo coração.
Qualquer pessoa que enfrenta males com um sorriso e os vence sem ser
hipócrita sorridente, achando-se ainda em Deus no final, será pessoa útil e
trabalhadora em tempos de paz. Quem não faz nada em tempos de paz, também
nunca conseguirá fazer alguma coisa em tempos de preocupações, mesmo que
pareça estar muito atarefado por preocupar-se muito sem motivo. O motivo, a
origem das preocupações somos nós e não os problemas que enfrentamos.
-
Crer em Deus apenas quando tudo nos corre bem é sempre sinónimo de luxúria
escondida; mas, crer em Deus dentro duma tempestade (sendo verdade que Deus
está ali presente de facto) e estar descansadamente confiante sem
fingimento, significa que tal pessoa, mesmo dentro da prosperidade e
fartura, nunca deixará de segurar a mão de Quem criou o mundo em seis dias,
para desviar-se por causa da plenitude que lhe choveu do céu. E lembremo-nos
que Deus descansou depois de trabalhar - não antes e nem durante o trabalho.
-
Toda a língua que diz coisas erradas em momentos certos também é língua para
dizer coisa certa fora de tempo ou de forma errónea. É por isso que muitos
pregam a verdade sem ser por Deus e não juntam com Jesus, sendo achados
espalhando. Mas, para sintonizar a sua língua bastará ser liberto por Cristo
(e não pela igreja); sintonizar a língua com a inspiração; ser agradável a
Deus de essência; perder o medo de errar; e desterrar para
sempre o desejo de agradar pessoas, sejam estas religiosas ou não, sejam
líderes bíblicos ou não.
-
Qualquer coração que exige, será coração que se recusará receber quando lhe
for dado pela graça.
-
Homem que não crê na verdade, por invisível que esta seja (pois, para o cego
a lua não existe fora da sua imaginação), crê facilmente na mentira e deixa
a sua alma ser levada para a ilusão uma e outra vez sempre que esta lhe bate
à porta, mesmo que note que volta vazio sempre e cada vez que paira longe de
seu Criador crendo em mentiras. Qualquer orgulhoso está tão apto a descrer
da verdade, mesmo sabendo que pode ser verdade, quanto estará apto a
acreditar em uma mentira, mesmo sabendo que não passa de uma ilusão. Por
essa razão, as pessoas trocam a leitura da Bíblia por novelas e romances
imaginários tão facilmente - apenas porque se deixam seduzir por algo
susceptível de lhes intrigar a ponto de se deixarem levar para a anestesia
da morte trazida pelo pecado. Mas, o facto é este: quem não consegue crer na
verdade, acredita na mentira; e quem crê na verdade, dificilmente crerá na
mentira. Todo o coração tem estes seus dois lados.
-
Alguém que confia quando está em Deus, vivendo de Sua presença por dentro e
por fora, será sempre alguém que facilmente entra num ciclo de dúvida assim
que se achar fora dessa mesma presença. Isso ocorre sempre que a presença é
real e o crente simples. Ambas as coisas são fé, pois até a dúvida que se
manifesta é uma reacção espontânea a uma verdade, a um facto e a fé é crer
na verdade e reagir a ela. E quando duvidamos fora da presença de Deus,
estamos a reagir a um facto verdadeiro - estamos a reagir bem. Mas, todo o
homem que descrê dentro da presença de Deus, será sempre alguém que crê com
maior facilidade fora dela – ambas as coisas são descrença, tanto o descrer
quando tudo é real e verídico, como o conseguir crer ilusoriamente. É o
mesmo coração que reage dessa maneira distinta em circunstâncias diferentes,
sendo o factor determinante a presença ou a ausência de Deus. Tanto os
crédulos como os incrédulos crêem e duvidam, mas, onde um crê, o outro
duvida e vice-versa. Algumas dúvidas de um crente são, na realidade,
consequência duma fé real e que em nada é fingida, enquanto as certezas de
alguém afastado de Deus são sempre consequência da incredulidade.
-
É preciso ser-se humilde para se receber de uma mão humilde sem sentimentos
de contrariedade, tanto quanto é preciso ser-se arrogante para se ter de
exigir de uma mão caridosa e cheia de simplicidade. O orgulho só recebe do
humilde exigindo dele. No orgulhoso junta-se o egoísmo de querer aquilo que
o amor tem para dar, com o desprezo pela humildade. O fruto, a consequência,
dessa mistura é exigir. Exigir é a saída para o orgulho receber do seu jeito
para, muitas vezes, evitar ter de agradecer. No entanto, será tão penoso
para um humilde receber da mão do orgulho, quanto será para qualquer
orgulhoso receber dum homem simples e humilde. Mas, o orgulho recebe dele
próprio ou de um igual a si, por muito que recuse transparecer por fora
aquilo que é por dentro.
-
O egoísta dá sempre que pode receber algo como contrapartida, mesmo que
aquilo que recebe de volta seja uma mera ovação e o vazio de um elogio.
Dizer que um egoísta não dá, é o engano e a ignorância a falar. No entanto,
é relutante em dar sempre que sabe que não receberá reconhecimento ou
contrapartida pelo que faz. Por outro lado, o amor real sente relutância em
dar sempre que sabe que vai receber uma contrapartida e tem maior liberdade
para dar quando sabe instintivamente que é uma obra que não será
recompensada. No entanto, creio que um homem perfeito dá sempre livremente
em ambas as circunstâncias, pois não tem coração para se deixar seduzir ou
impressionar com aquilo que alguém pode roubar dele ou dar-lhe em retorno; e
tal homem só faz e age conforme é, independentemente do que se possa passar
a seguir. Ele não age conforme a retribuição.
-
Qualquer crente mundano é pior que pagão e tem sempre tendência a crer
apenas quando o Deus verdadeiro é uma mera ilusão ou uma memória de sua
mente que já está ausente dele. O crente mundano acredita no que deseja que
fosse verdade e não consegue crer na verdade. A sua fé é uma forma de tentar
Deus para o poder abençoar em seu próprio proveito, é moeda de troca e nunca
uma constatação de verdades, factos e realidades. Fé é crer na verdade - é
poder crer em uma verdade - e não é moeda de troca.
O crente são e puro crerá apenas quando se trata da verdade e não consegue
crer quando está lidando com uma mentira. O descrente consegue crer de
acordo com seus desejos e egoísmos, mas, é descrente quando Deus lhe fala de
verdade. Na verdade, é o tipo de coração que cada um tem o responsável por
crer e descrer da verdade ou da mentira. Um descrente crê facilmente em
qualquer mentira, enquanto o coração do crente nunca lhe permite crer em tal
coisa. Afirmar que o ímpio é sempre descrente é estar longe da verdade,
pois, qualquer ímpio crê avidamente em mentiras. Jesus falou sobre
"aquele que pode crer...",
Mar.9:23. Existem pessoas
que não conseguem crer na verdade devido ao tipo de coração que alimentam,
tal como existem pessoas incapazes de crer na mentira. Fé é poder crer na
verdade - não é crer.
-
Um crente são e puro, na sua simplicidade, entrará em dúvida caso aquilo que
crê seja ilusão, mas, a sua confiança e segurança será tão simples e natural
quanto seu respirar caso não esteja separado de Deus. Na verdade, nem lhe
passa pela cabeça esforçar-se para crer sob tais circunstâncias e a
incredulidade é, para ele, coisa que não entende e nem assimila facilmente
dentro de si. Mas, será preciso um ímpio lutar para crer em Deus e de que
Deus está com ele, tanto quanto será necessária uma luta para um limpo de
coração descrer sempre que a verdade lhe seja real. Embora pareça, à
distância, tratar-se da mesma luta, na verdade, são coisas muito distintas.
Um ímpio luta para crer na verdade e um puro precisa lutar para crer na
mentira. Foi isso que Jesus tentou explicar
quando disse que "todo o homem emprega força para entrar no Reino de Deus",
Luc.16:16. Por isso, sempre que precisar lutar para crer em
Deus, prefira limpar o seu coração acima de tentar crer. Também é verdade
que lutar com Deus da maneira que Jacó lutou no ribeiro de Jaboque torna-se
necessário quando nosso coração não consegue crer em Deus ou na verdade que
Ele falou. É preferível isso que morrer de incredulidade. E Jesus morreu
para que aqueles que crêem não pereçam,
João 3:16. Isto significa que podem
perecer caso abracem uma mentira ou caso seu coração não se consiga rever
numa verdade. A mentira mata qualquer pessoa por dentro e por fora.
-
A verdade faz sentido ao coração sadio, tanto quanto esta será algo
questionável para quem tem a natureza do seu coração calcinada pela
incredulidade, a qual deve-se ao facto de haver pecado e separado de Deus;
ou, então, nasceu sendo enganadora e perversa. Ambas as coisas são
originadas pelos maus-tratos que sofreu vivendo fora da realidade de um Deus
Vivo, achando-se entregue às tempestades e à erosão de uma consciência
tranquilizada (calcinada) pelo mal, a qual acredita estar com Deus
sempre que não está. Mas, da mesma forma que um incrédulo
questiona a verdade, assim faz o crente que não é fictício ou iludido em
relação à mentira e à ilusão, pois questiona-a de imediato, surpreendendo
mesmo os que se agradam mutuamente entre si e a si próprios porque são
fictícios e fingidos.
-
Quem agrada os outros é fingido e não ama quem quer agradar. Quem agrada,
ama-se a si próprio e 'ama' para poder ser amado e não para abrir a porta
para derramar o amor que foi derramado em si - se é que foi. 'Amam' aqueles
que poderão 'amá-los' de volta. "Não fazem os gentios o mesmo?" Qualquer
pecador fará qualquer coisa para ser amado e aceite. Agradar os outros é uma
forma de amor-próprio. E tais pessoas podem mesmo tornar-se más e vingativas
caso não alcancem aquele retorno que pretendem alcançar através de suas
acções.
-
Um hipócrita é como um adúltero: tem uma vida alternativa ou paralela da
qual cuida diligentemente. O adúltero tem outra mulher que não é a dele e o
hipócrita apresenta uma vida que não é dele. Essa vida paralela não
necessita ser má em aparência para ser considerada hipócrita por Deus e pelo
bom senso. A outra mulher do adúltero pode ser bonita, bem comportada e bem
educada. Contudo, é a outra mulher e ser bonitinha não dá direitos ao
adúltero para envolver-se com ela e desprezar a sua. O facto é que, sempre
que cuidar da sua vida paralela, a sua verdadeira essência e vida serão
desprezadas ou, no mínimo, menosprezadas. Depois, temos um outro problema em
relação a isso: sempre que ouvir uma palavra bonita, sempre que ouvir um
sermão ou uma palavra capaz de curar a alma, irá aplicar essa verdade que
ouviu à vida paralela e não à essência do seu carácter e coração. O adúltero
dá à amante e não à esposa. A vida paralela deve estar extinta e não ser
cuidada e encorajada. Na verdade, ou cuida de sua vida verdadeira ou de sua
vida paralela. Não é possível cuidar das duas ao mesmo tempo. Sempre que
você se esconde por trás daquilo que acha que é ou que acha que deve ser e
sempre que isso se torna razão para causar uma boa impressão aos demais e a
si próprio, lembre que a verdadeira vida dentro de si está sendo morta aos
poucos pelo desprezo. Jesus veio para libertar essa vida e para que ela seja
verdadeiramente livre. Já alguma vez se sentiu seco por dentro? Não será
isso porque a sua essência da sua vida está sendo desprezada e morre à sede?
Por essa razão é que o fim dos tempos será muito difícil: o conhecimento
sobre os bons modos e as boas virtudes estará disseminado pelo mundo
inteiro. É lógico que a hipocrisia irá alimentar-se desse conhecimento que
se encontra espalhado por todos os cantos do mundo. Certamente que, ao
cuidar da vida paralela, a humildade extinguir-se-á, pois sermos o que somos
é a base, a verdadeira essência da humildade. A única alternativa que resta
para quem cuida da vida paralela é o orgulho - até mesmo quando a vida
paralela esconde bem esse orgulho. Na verdade, a vida paralela só serve para
uma coisa: para esconder e disfarçar. A vida paralela só existe para poder
encobrir aquilo que achamos que não podemos revelar. Nunca poderá expor,
cuidar e purificar através da luz a sua verdadeira essência enquanto cuidar
da vida alternativa. Cuidar da outra vida é o oposto de andar na luz, pois,
é esconder. Qual das duas vidas você irá manter e cuidar? Da sua ou da
outra? A verdade é: se cuida de uma, a outra morrerá. São os dois lados da
mesma verdade. Você escolhe qual das duas irá cuidar e qual das duas irá
desprezar.
-
Qualquer homem que mente é sempre alguém que tem dificuldade em crer em uma
verdade também, da mesma forma que um homem de coração verdadeiro logo se
questiona acusando a dúvida assim que surge uma mentira no ar ou dentro de
si, mesmo que camuflada. A diferença reside no espírito de quem ouve e no de
quem fala, algo que se sente e se nota no ar. Também existe um género de
pressentimento à verdade entre dois verdadeiros, pois as pessoas entendem-se
mais por aquilo que são, do que por aquilo que dizem uns aos outros. "Acaso
andarão dois juntos se não estiverem de acordo?" Amos
3:3. Por norma, as pessoas do mundo tentam entender-se ou
desentender-se através da hipocrisia e do fingimento. Ser mau é o outro lado
dos que são hipócritas. Os filhos do reino tentam entender-se por aquilo que
realmente são por dentro e os hipócritas através daquilo que não são. E o
comportamento das pessoas costuma ser condicionado pelo jeito daqueles com
quem dialogam ou conversam. Aquilo que sou, influencia o que a outra vai
demonstrar ser diante de mim. Sempre que você vive abertamente e
espontaneamente tudo aquilo que é, qualquer homem mau é incitado e tentado a
fazer o mesmo. É uma consequência ou resposta natural ao seu comportamento
sincero. Só vai depender de quem influencia quem. Ora, os maus não
conseguirão manter esse tipo de comportamento aberto e sincero por muito
tempo, pois, acham que têm muito para esconder. Estando expostos sentem-se
ameaçados. Essa é a melhor maneira de evitar que os escarnecedores se sentem
à nossa mesa. Não se "aguentarão na assembleia dos justos",
Sal.1:5. As pessoas só andarão juntas sendo
iguais. Seja você aquilo que é, tal qual Deus é o que é. Nunca se atreva a
esconder a sua justiça, o seu coração, a sua vida diante de quem é errado de
coração. "Porquanto, qualquer que, entre esta geração adúltera e
pecadora, se envergonhar de mim e das minhas palavras, também dele
se envergonhará o Filho do homem quando vier na glória de seu Pai com os
santos anjos", Mar.8:38.
-
Qualquer hipócrita sente dentro dele uma necessidade e uma força impelindo-o
para justificar-se tanto a ele próprio, quanto tudo aquilo que sente. Ele
crê instintivamente que precisa parecer aquilo que não é colocando nele
próprio um sorriso que acha que não pode ter naturalmente e nem de outro
modo. Nenhum hipócrita pode achar que temos condições para sermos simpáticos
e tratar as pessoas de forma cordial e amigável espontaneamente mostrando
apenas aquilo que realmente somos por dentro. Porque o hipócrita crê que
precisa fingir para sorrir, ele afirma que os bondosos são hipócritas. É o
outro lado do seu coração. Ele vê nos outros os próprios defeitos. Ensina os
seus filhos a fingir e a agir de forma premeditada, pois, crê não ser
possível vivermos espontaneamente sem manifestarmos amargura ou qualquer
outro pecado. Ele crê ser seu dever cívico fingir. Com o tempo, o fingimento
torna-se seu instinto natural e reage a tudo de forma hipócrita e fingida. A
água suja acaba por penetrar em todos os cantos da sua vida. É a isso que
Jesus chamou "o fermento dos fariseus". Por isso, sempre que qualquer
fingido deseje ficar longe de certa pessoa, ele não leva em conta a
possibilidade de falar francamente que não deseja a sua companhia, isto é,
dizer as coisas de forma simples e calma. Logo, tem aquele instinto e
necessidade de tornar-se mau falando a verdade ou, no mínimo, ver-se como
mau. Muitas vezes, grita sem necessidade. Na verdade, crê ser necessário
exaltar-se para ser franco, tal qual crê ser necessário fingir para parecer
bondoso. Ele não consegue ser simples e sem fingimento na simpatia e, por
essa razão, não consegue ser franco e sem fingimento no confronto. Por essa
razão é que creio que a gritaria é própria dos hipócritas e fingidos.
Somente aqueles que agradam pessoas têm um coração capaz de se tornar
desagradável. Se você não agrada pessoas, não tem condições para tornar-se
desagradável para com elas - nem mesmo quando elas se desagradam de si por
culpa própria ou por motivos pessoais. As pessoas sentem-se mal e
desagradadas por causa daquilo que são e não por causa daquilo que você é
quando é sincero.
-
Quando um mentiroso hábil diz uma verdade, todos duvidam do que diz, pois
não sabe ser verdadeiro e todos notam a tremedeira da sua voz. O mesmo já
não acontece quando mente. Do mesmo modo, sempre se ouve um terramoto na voz
dum verdadeiro de coração quando mente e nota-se a sua segurança sempre que
diz a verdade. Um mentiroso não é experimentado a falar a verdade e o
verdadeiro a mentir. Caso um mentiroso queira ser convincente sempre que
fala a verdade, precisa muitas palavras para expressá-la da mesma forma que
expressaria qualquer mentira, ora acrescentando argumentos e palavras, ora
agindo de forma contraditória, suspeita e mentirosa.
-
Quando você acrescenta qualquer coisa à verdade, mostra que você não crê
totalmente nela. Este é o outro lado verdadeiro do seu coração. Isso é o que
os mentirosos fazem com a mentira, pois precisam acrescentar muito para que
possa parecer verdade. A verdade não precisa de predicados e complementos.
"Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; não, não; pois o que passa daí,
vem do Maligno",
Mat.5:37. Por que outra razão Salomão afirmou
que quem acrescentasse às palavras de Deus seria tido como mentiroso?
É porque qualquer mentiroso acrescenta na verdade tal e qual faria com a
mentira. É um instinto maligno e mentiroso que faz as pessoas agirem dessa
forma. Realmente, esse comportamento provém do Maligno e é comportamento
próprio de quem é ou foi mentiroso.
-
Quando alguém sente culpa e nem sabe do quê, isso nunca pode ser considerado
como convicção de pecado. Isaías especificou que era a sua língua que estava
impura porque aprendeu com o seu povo de impuros lábios, talvez pensando que
era cultura e dever, Is.6:5-7. Uma culpa pouco
definida e pouco específica pode vir a ser considerada como acusação
maligna, desejo masoquista ou outra coisa qualquer, mas, nunca como
convicção de pecado. O mal-estar de espírito é um dos derivados do pecado,
mas, vai ter de tornar-se algo específico porque a pessoa que pode sentir-se
culpada sem o ser, por certo, nunca se sentirá culpada quando e onde deve e
evitará olhar as suas culpas verdadeiras de frente também, porque, as culpas
sem nexo, confundem quem tem dificuldade em reconhecer a verdade e o pecado
que realmente
cometeu. Quem se culpa e se acusa morbidamente é sempre alguém que encobre o
seu verdadeiro ser ou tem ainda o hábito de assim proceder, culpando-se e
recusando manifestar as suas verdadeiras culpas. Culpar-se é encobrir ou
tentar desculpar e quem encobre seus pecados nunca prosperará,
Prov.28:13. O coração de cada homem tem sempre
esses dois lados. E também será verdade que, quem olhar suas culpas reais de
frente nunca se aperceberá da ilusão em forma de culpabilização.
-
Quem evita alguém porque não gosta dessa pessoa, será sempre alguém que se
aproxima de quem gosta também e nem num nem no outro caso levará em conta a
vontade de Deus para elas. Quem desagrada por escolha pessoal, desagrada
Deus e agrada aos homens. Só desagradará pessoas quem quer agradá-las,
porque a promessa faz a dívida e a dívida gera a cobrança.
-
Quem evita um servo de Deus porque não aprecia alguns dos seus jeitos, sendo
mesquinho sobre certos assuntos em detrimento de outros, também terá
tendência para aproximar-se de um servo de Satanás se não desgostar de suas
maneiras, aceitando mesmo o mal final também porque gosta do jeito inicial
dele. Por isso é que os maus ainda se apresentam como bons: porque os
humanos seguem as aparências mesmo que digam que não o fazem e mesmo que
tenham conhecimento dessa situação. Depois de se desapontarem, correm para
voltarem atrás e tornam a fazer o mesmo uma e outra vez até sua vida chegar
ao fim. Caso pudessem viver mil anos, mil anos correriam atrás de todo tipo
de engano desse tipo. Esse é o estado de espírito de quem foi criado
perfeito e que agora vive do mal, morrendo para Deus cada dia enquanto acha
que vive d'Ele.
-
Quem se torna desgostoso e amargurado devido àqueles jeitos que a verdade
usa e são absolutamente necessários para o progresso da Vida em uma
pessoa, aceitará os jeitos dele próprio, os quais nunca se transformarão em
Vida e apenas geram a morte.
-
Quem se torna mesquinho sobre coisas insignificantes quando alguém lhe quer
trazer outras importantes e salvadoras, levando as coisas insignificantes
preferencialmente em conta, certamente também aceitará a morte oferecida
subtilmente. O mal e o bem não se acham nas infantilidades das pessoas, mas,
na essência do mais secreto do coração. A pessoa implica com a casca porque
não gosta do grão que está dentro dela ou aceita a casca porque gosta do mal
oco que ela contém. Se alguém implica e se aborrece com o exterior de alguma
coisa, certamente está evitando o seu interior.
-
Se sei lidar com o menor dos seres muito naturalmente sem sentir-me superior
a ele em nenhum aspecto, também tenho um coração que se sentirá à vontade
com a pessoa mais importante de todas. Se me sentir superior ao menor,
sentir-me-ei em tudo inferior ao maior. É uma lei da natureza. Quem se sente
igual ao que é considerado menor, sentir-se-á igual ao maior também, pois
sabe que as pessoas que Deus criou são todas iguais.
-
Todo homem que recusa ver uma boa conduta ou de encetá-la, será sempre
alguém que recusará desviar o olhar duma má conduta porque só ele próprio
sabe o que faz. Existem coisas que acontecem sempre juntas, conjuntos de
atitudes, dois lados de um mesmo coração. Então, quem se desvia do bem
dirige-se para o mal e quem se desvia do mal dirige-se para o bem. "...Se
não procederes bem, o pecado jaz à porta e sobre ti será
o seu desejo", Gen.4:7. Por isso é que
a Bíblia apenas diz para nos desviarmos do mal, pois o viver do bem estaria
claramente implícito.
-
É aquele presunçoso que acha que consegue fazer tudo que também dirá antes
do tempo: "Não consigo!". O presunçoso nunca dirá "Não posso" quando não
consegue fazer - só quando pode! Por essa razão é que os presunçosos são
sempre os primeiros a desistir, pois, não conseguem fazer aquilo que acham
que conseguem. Mas, quem sabe que não consegue é pessoa apta para ser
ajudada por Deus e pelo poder da graça.
-
O humilde em Cristo nunca se achará pequeno demais para grandes tarefas
(porque sabe que é Cristo que as faz mesmo através dele), nem se achará
grande demais para pequenas tarefas.
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Aquele que se abate quando se acha pequeno e inútil é aquele que quer ser
exaltado. Têm um e o mesmo pecado, um e o mesmo coração. Ambos não levam
Deus em conta. Só se abate quem se exalta e só se exalta quem será abatido.
E quem não se importa de ser pequeno porque o é, também poderá ser exaltado
porque não será afectado sendo-o. Só os que se humilham e assim podem
permanecer serão e permanecerão exaltados.
-
Todo aquele que se culpa e culpabiliza de algo é sempre uma pessoa que
também se desculpa. É o mesmo coração que tem dois lados e é coração que
recusa corrigir-se.
-
Quem se aflige contra um malfeitor, é pessoa que terá inveja se esse
malfeitor obtiver algum sucesso, Prov.24:19.
É o mesmo coração com os seus dois lados, como as moedas.
-
Qualquer pessoa ansiosa por uma mudança é pessoa insatisfeita e levará com
ela o coração que tem para onde quer que vá, isto é, se mudar de lugar
continuará igual. Não se deve buscar mudança por causa da insatisfação que
não vem de Deus. Devemos antes buscar mudança de coração e não mudança de
lugar, ambiente ou emprego. "Filho meu, teme ao Senhor e não te envolvas com
os que gostam de mudanças", Prov.24:21.
-
Qualquer apressado é sempre pessoa que se atrasa - ele terá as faculdades de
se atrasar porque é apressado e deixa coisas pendentes que exigirão atenção
mais tarde ou mais cedo, como também terá a faculdade de se apressar porque
se atrasa.
-
O coração que se aquieta facilmente na presença de Deus, é coração que se
inquieta com a Sua ausência. Todo coração que se aquieta na ausência de
Deus, inquietar-se-á com a Sua presença.
-
Quem está errado e quem está certo acham-se num mesmo ponto de partida, pois
devemos ter em conta que estar certo ou errado e reconhecê-lo, nunca será o
fim de uma questão porque pode ser o inicio de uma vivência em conjunto,
sendo que o entendimento não separa ninguém - antes une as pessoas. Quem
está certo ainda pode vir a errar até ao fim do seu percurso e quem parte
errado pode corrigir-se a tempo. O homem na cruz não se corrigiu no último
momento?
-
Não critique quem está errado porque está errado, pois se o fizer terá
inveja de quem está certo em vez de aproveitar para usufruir da alegria o
que Deus deu a outro para beneficiá-lo a si.
-
Esta moeda também tem dois lados: quem reconhece seus erros facilmente será
a primeira pessoa a conseguir estar certa. Quanto mais naturalmente alguém
reconhecer o seu erro, tanto mais fácil será para tal pessoa conseguir
prosseguir em seu caminho com aquilo que tem de certo. A pessoa que desiste
do que está certo é precisamente aquela que não desiste daquilo em que erra.
A pessoa que se corrige é lúcida e a que não se corrige não é.
This coin also has its two respective sides:
if you recognize and acknowledge your sins and errors easily and openly, if
you indeed walk in the light that way, it shall be very easy for you to be
right and securely guided. It is impossible to be misled if you indeed walk
and remain walking in the light. The easier it is for you to see or to face
an own error in the Light, the happier you shall be to be able to straighten
your ways that way; the easier it shall be to be right and in full peace
with the decisions you make in the Lord; and the easier it shall be to
ignore misleading temptations. The person who finds it difficult to
acknowledge own errors easily slips to wrong decisions and wrong ways with
confidence. That is the other side of not walking in the Light. That person
shall easily feel confident in slippery grounds and shall doubt in solid
ground. That's the curse he gains from not walking in the light, showing
all.
-
Andar com Deus implica andarmos com Deus e também Deus connosco e que isso
seja real e não uma mera crença que assim é. Mas, a pessoa que crê que Deus
está andando com ela sem que isso seja verdade, também irá descrer e achar
que Deus não está com ela quando estiver. Quando um pecador aparecer na
presença de Deus antes da morte, terá de modificar o seu próprio coração
também, pois toda a vida nova requer e exige um coração novo. Também podemos
dizer que todo desviado crê que Deus ainda está com ele. Sansão levantou-se
contra os Filisteus crendo que Deus ainda estava com ele quando já não
estava. Deu-se muito mal. Assim acontecerá consigo também se você tiver de
enfrentar algum pecado gigante e Deus já não estiver consigo por algum
motivo.
-
Um espírito obstinado não persiste em vencer: insiste em destruir-se. Um
espírito humilde e submisso a Deus não é obstinado, mas, persiste em vencer.
As pessoas acham que obstinação é sinónimo de persistência, mas, na verdade,
é sinónimo de desistência; quem teima, ou desistiu ou desistirá daquilo que
Deus tem para ele. Submissão e humildade são sempre acompanhadas de vitória,
vontade e força para chegarmos ao fim de tudo. Devemos ter em conta que
todas as atitudes humanas conseguiram apoderar-se das palavras de Deus e da
verdade para fazerem em sua vida prática o oposto daquilo que dizem que
fazem. Falam de amor quando são amados e egoístas e não quando só amam sem
motivos extras; falam em desistir sempre que se submetem; falam em vitória
quando se orgulham. Muitas coisas mais poderíamos concluir devido à
duplicidade que cada coração humano tem.
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Os que menos fazem são os que mais se atrasam e as pessoas mais ocupadas são
aquelas que mais frequentemente são pontuais.
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É mais fácil para Deus corrigir um erro nosso cometido na sinceridade de
nosso coração, mesmo que seja a longo prazo, do que corrigir uma coisa bem
feita através da falsidade.
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Quem tem coração para terminar as obras que Deus lhe confiou, tem coração
para desistir das obras que não vêm de Deus. Não se sinta mal desistindo de
algumas coisas se está dentro da vontade de Deus. Do outro lado, quem tem
coração para levar as suas próprias obras até ao fim, tem tudo para desistir
das obras de Deus. Quando se render a Deus, o Senhor apenas aproveitará o
coração que tem, aquele que sabe terminar as tarefas que começa. E não se
sinta culpado em abandonar aquelas coisas que não considera que sejam coisas
erradas. Pedro abandonou a pesca e não existe nada de errado em querer
alimentar uma família.
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Quem desespera esperando uma promessa é pessoa para se alegrar fora de tempo
também. Quem desespera pode facilmente ser enganado com cumprimentos falsos
de tudo aquilo que Deus tem para ela. Quem sabe esperar, sabe livrar-se de
falsos cumprimentos e de enganos.
-
Existe, realmente, o tempo de Deus. Esse tempo pode ser agora, depois ou
pode ter passado por nós sem que nos déssemos conta ou sem que tivéssemos
sido obedientes. Quem não for pessoa para estar atenta e completamente
reconciliada com os tempos de Deus, certamente que é pessoa que tem seus
próprios interesses escondidos, os quais exigem que Deus cumpra e torne
possível. Contudo, esse não é o único problema que tais pessoas enfrentam
sempre que não dão importância ao ritmo e aos batimentos do relógio de Deus.
Elas são pessoas que desesperam facilmente e têm tudo nelas todas as
condições para perderem tudo aquilo que Deus tem para eles no momento que
vivem. A verdade é que, todos quantos não estão plenamente conciliados e
uniformizados com as maneiras, os tempos e os modos de Deus fazer as coisas d'Ele neles, trocam o dia de amanhã com o de hoje facilmente.
Também não terão a percepção do tempo de Deus haver passado por eles. Caso isso
esteja acontecendo consigo, caso queira viver o dia de amanhã hoje,
certamente perderá o que Deus teria para si hoje. O dia de hoje será
negligenciado ou mesmo desperdiçado. Não temos como servir dois senhores ao
mesmo tempo e nem viver dois dias ao mesmo tempo. Certamente que um será
negligenciado. Qual dos dois negligencia agora só você poderá decidir. As
pessoas que facilmente se esticam para o dia de amanhã, negligenciam o dia
de hoje e, seja porque razão for, não dão seus passos juntamente com Deus.
E, se se chegam a juntar alguma coisa, não juntam com Deus, nem para Ele e
nem através d'Ele. Tal comportamento assegura que amanhã fará o mesmo com o
dia de amanhã, pois, o hábito que tem de negligenciar o dia de hoje, faz
distrair-se com aquilo que não pertence fazer agora. O coração que
tem irá com tal pessoa para o dia de amanhã também. Não pense que o seu
comportamento será diferente amanhã se não começar a mudar essa atitude já.
Não vivendo o dia de hoje implica que amanhã também não viverá o dia de
amanhã porque é esse tipo de coração que tem dentro de si. E vivendo o dia
de hoje somente hoje garante que amanhã também viverá o dia de amanhã
somente amanhã. Você será uma pessoa atenta e simples. Tenho a certeza que
isso é, em parte, a verdadeira essência de vigiar quando se ora.
-
"Porque não é aprovado aquele que se recomenda a si mesmo, mas, sim aquele a
quem o Senhor recomenda", 2Cor.10:18. Se isto é
verdade, logo, quem se critica a ele próprio também não obterá mérito. Quem
se recomenda e quem se critica é a mesma pessoa e tem os mesmos motivos
quando faz uma e outra coisa. Não podemos esquecer que qualquer coração
normal tem seus dois lados. Existem muitas auto-criticas que são
auto-defesas e ninguém dá por isso. Não devemos esquecer isso.
-
Aqueles que não conseguem confiar em Jesus por haverem pecado têm um outro
lado igualmente fatal: eles confiam em suas próprias justiças quando são
justos. O que confia em Jesus e em Sua capacidade de regeneração e de perdão
para sair de qualquer pecado, ao tornar-se justo nunca confiará no facto de
haver-se tornado justo. "A justiça do justo não o livrará no dia da sua
transgressão (...) Quando eu disser ao justo que certamente viverá e, ele,
confiando na sua justiça, praticar iniquidade, nenhuma das suas obras de
justiça será lembrada; mas na sua iniquidade, que praticou, nessa morrerá;
quando eu também disser ao ímpio: Certamente morrerás; se ele se converter
do seu pecado (...) certamente viverá, não morrerá",
Ez.33:12,14.
-
Os crentes que andam fora da vontade de Deus (e são muitos), por regra,
acreditam serem pessoas agradáveis a Deus. Na verdade, buscam seus próprios
interesses e desejos e interpretam tal coisa com aquilo que Deus quer para
eles porque são eles que querem. Pensam que satisfazê-los é
satisfazer Deus. Na verdade, esta atitude inconcebível e tão estranha ao
evangelho faz, também, com que as pessoas busquem as coisas de Deus do jeito
deles (para manterem pelo menos um pouco da sobrevivência da carne); ou,
então, buscam que Deus faça, através de Seu poder e glória, o que eles
próprios querem e desejam. De uma forma ou de outra buscam agradar-se a eles
próprios e buscam que Deus os agrade também. Usam o nome de Deus em vão.
-
Qualquer um que sinta a liberdade de seguir a opinião de outra pessoa, caso
fosse aquilo que Deus diria, também tem nele a liberdade intrínseca de
descartar as más opiniões de pessoas sem sentir-se minimamente afectado com
isso. Liberdade na obediência é, também, libertação da carne e do mal. Os
libertos deles próprios conseguem ser obedientes a Deus e ao que é certo
fazer-se. Por outro lado, todo aquele que não tem a liberdade natural de ser
obediente a uma opinião correcta de outra pessoa, terá tudo nele para ouvir
sempre uma opinião errada e enganadora. Tal coração tem um preparo especial
para ser obediente à carne, ao mal, ao próprio e ao diabo. Está preparado,
pronto e pré-disposto para fazê-lo. Do mesmo modo, o coração obediente tem
um preparo e uma formação para ser obediente naturalmente, sendo essa a sua
natureza.
-
Caso consiga aceitar facilmente que alguém destrua a sua vida espiritual,
com certeza que também tem todas as capacidades de rejeitar prontamente e
instintivamente que alguém venha reconstruir a sua vida de forma real e
verdadeira. Terá uma aversão natural por cada tijolo espiritual, por cada
fundamento que tenha vida e que seja claro e incisivo. Vai sentir-se,
também, ressentido com tudo aquilo que opera uma mudança verdadeira e eterna
em sua atitude.
-
Todo aquele que consegue ser obediente a Deus de forma natural e de maneira
instintiva e simples, tem tudo dentro dele para desobedecer e descartar com
simplicidade aterradora tudo quanto não vem de Deus. Em outras palavras, se
quiser ter uma aversão natural para tudo quando vem da carne ou de um
enganador, basta tentar viver a vida de Deus de forma natural - tão natural
como se nunca tivesse experimentado outro tipo de vida. É só tentar que
funcionará com os limpos de coração. Obediência forçada não é próprio de
ovelha e quem se força a ser obediente a Deus ainda tem um tipo de coração
errado. Caso não consiga ser obediente a Deus de forma simples, sábia e
quase inconsciente, é claro que tem todas as aptidões para sê-lo para com a
carne e o mal. A obediência forçada não pode ser considerada como
obediência. Quando muito, pode ser uma candidata a ser tornada ovelha.
"Oh Senhor, não desejas sacrifício..." Então, busque a obediência de ovelha
- busque tornar-se ovelha.
-
Sempre que tenha medo de entregar-se ou de render-se à vontade de Deus sem
hesitações ou medo e colocar condições para entregar-se a ela
incondicionalmente, precisa saber que esse mal tem seu outro lado: você tem
medo de perder o seu estilo de vida, sua própria força e meios de conseguir
as coisas que ainda deseja. Não teme apenas aventurar-se incondicionalmente
na vontade de Deus, mas, também teme sair da sua própria vontade. Assegure
que resolve o problema pelos dois lados, caso contrario ele voltará uma e
outra vez com mais força.
-
Se você se tornou morno devido a algum pecado que cometeu em alguma fase de
sua vida e nunca o confessou ou, digamos, se você tolera algum pecado mesmo
que nunca o pratique, estamos perante um dilema: nem vive para Deus e nem
vive para o diabo. Isto é, as pessoas mornas para com o pecado certamente
que também serão mornas para com Jesus. Se você for frio (gelado!) para o
pecado, será quente para Deus. Só não pode ser morno para o pecado se quiser
ser um fogo de Deus. "...De seus anjos faz ventos e de seus ministros
labaredas de fogo", Heb.1:7.
-
Sonhar acordado tem um problema duplo: abre a porta para se crer na mentira
e fecha a porta para a fé, isto é, para poder crer somente naquilo que é
verdade e real. Contudo, a parte mais perigosa é quando a pessoa crê na
mentira e na verdade em simultâneo, pois, irá, com toda a certeza, lidar com
verdades da mesma maneira superficial que lida com as suas mentiras e
fantasias. E quem crê em mentiras raramente crê que sejam mentiras. Enquanto
a verdade for verdade e a mentira for mentira em nossa cabeça (e por muito
que a verdade nos desaponte quando não anda misturada com a mentira), existe
maior esperança do que quando a mentira e a verdade são colocadas a um mesmo
nível. As pessoas nunca se entregam de maneira séria ao que sabem ser
mentiras e sonhos. Logo, criam um coração que não se entrega a Deus por
crerem na verdade da mesma maneira que creriam na mentira e, também, criam
um coração que desconfia da verdade (tal e qual desconfiaria da mentira).
Por isso, fica sempre com um pé atrás quando é Deus quem fala, criando um
coração que não leva as coisas a sério. E o coração que criamos andará
sempre connosco. Parte do salário de uma vida de mentira é lidar com a
verdade de maneira superficial, pois o coração torna-se superficial,
desconfiado, protagonista, proteccionista, sonhador e melancólico porque
aloja fantasias. Sabe instintivamente que não pode lidar com mentiras de
modo profundo e sério e, por essa razão, lida com as verdades com esse mesmo
espírito superficial. Então, lembre-se de complementar a sua decisão de crer
somente na verdade com uma transformação de hábitos e de coração muito
profunda e séria. A entrega total à verdade é uma condição inegociável para
podermos ser viventes. Crer na verdade sem mudar os hábitos superficiais do
coração seria um maior desastre do que crer na mentira. Lembre-se
constantemente que estamos perante uma luta entre vida e morte e não apenas
perante um mero desafio do desejo. Leve sempre em conta esta duplicidade de
seu coração e trate de seu coração levando-a em conta se quer realmente
viver de e para Jesus. Precisamos saber que é necessário mudar o coração e
ensiná-lo a levar a sério toda a verdade quando aprendemos a crer na verdade
incondicionalmente.
-
Sem qualquer margem para a dúvida, podemos afirmar que a intenção clara de
Deus com cada palavra que expressa é que surja a fé e que se creia
incondicionalmente e infalivelmente no que Ele diz (porque Ele é
verdadeiro). É por essa razão que faz promessas sobre aquilo que ainda não
pode fazer connosco. Dito isto, podemos afirmar que quando o fruto final do
que Deus diz é a fé sóbria (uma que não seja apenas sentimental e fingida),
então, não importa se tal palavra foi uma promessa ou a se foi uma maldição.
Quando Deus pronuncia uma maldição e dela nasce a fé em algum coração, essa
pessoa salva-se. Aconteceu inúmeras vezes que as pessoas creram e
arrependeram-se através de pré-anúncios de maldições ou castigos. Um dos
casos mais conhecidos foi o da cidade de Níneve sob a pregação de Jonas.
Quando a fé é o objectivo exclusivo das palavras de Deus, não importa que
sejam promessas ou maldições que Deus pronuncie ou anuncie. João Batista
chamou raça de víboras aos Fariseus e eles creram, isto é, não rejeitaram as
suas palavras porque era a verdade o que lhes dizia. Por isso, não tema
expressar cada palavra de Deus da forma mais clara, mais simples e mais
directa. Importante é que, no final, exista uma fé não fingida em quem
gostou ou não gostou daquilo que você disse. Quem gostou do que ouviu não é
(em nada) diferente de quem não gostou de ouvir, pois, quem gosta de ouvir
deve ouvir porque é verdade o que ouve e não porque gosta. E se alguém que
não gosta de ouvir sabe que aquilo que ouve é verdade, estará sempre em
vantagem sobre quem ouve com gosto, pois, está mais perto de assumir a
verdade como verdade em sua vida através do temor. Por essa razão é que é
crime não falarmos a verdade, acrescentar-lhe ou tirar algo dela. Você teme
que alguém alcance fé e se salve? Mas, agora pense comigo: por que razão
Deus pronunciaria uma promessa ou uma maldição antes do tempo? Deus não
poderia fazer logo aquilo que promete fazer mais tarde ou pronunciar-se
somente no momento que fosse fazer o que diz, ou não pronunciar-se sequer? E
é aqui que vemos toda a sabedoria de Deus no tocante à duplicidade do
coração do homem: se Deus pronunciar uma maldição sobre alguém e essa pessoa
ressentir-se de modo a amargurar-se ou afastar-se definitivamente de Deus,
ela também não estaria apta para receber uma promessa sem orgulhar-se da
atenção recebida, algo que também terminaria em condenação. Isto é, quem se
ressente de uma repreensão também se orgulha da atenção de uma promessa e
muito mais da concretização. Na verdade, não importa se a palavra de Deus é
uma promessa ou uma repreensão - desde que seja verdade que irá acontecer. O
efeito final deve ser o mesmo: a fé pura e humilde.
-
Existem duas fases em nossa vida cristã que parecem, em tudo, ser
semelhantes não o sendo. Uma é aquela quando ainda nutrimos um certo amor
secreto pelo pecado. A outra é quando nutrimos um ódio secreto pelo pecado.
A única semelhança é serem fases de secretismo. Aqui, vemos que podemos
tirar melhores apontamentos e conclusões sobre a verdade se levarmos em
conta esta verdade sobre a duplicidade do coração do homem. Sempre que a
pessoa ama o pecado secretamente, irremediavelmente crê que odeia o pecado.
E quem odeia o pecado secretamente, muitas vezes, só o faz em segredo porque
crê que o ama. As acusações em quem odeia o pecado, ainda que seja um ódio
limitado pela falta de sabedoria e do conhecimento de Deus, fazem-no sentir
ou crer que ama o pecado. A confiança e a ausência de acusações (por parte
do diabo) em quem ama o pecado secretamente, fazem-no crer que odeia o
pecado e que está livre de si próprio. As acusações convencem e inibem a
confiança dos puros de coração e a confiança arrogante dos impuros fá-los
cair no poço do engano e, eventualmente, no lago de fogo. Mas, tem mais: os
que se sentem acusados também são presas fáceis da amargura e da
incoerência. Os seguros na falsidade parecem ser seguros e coerentes, isto
é, aparentemente felizes. Os acusados pelo diabo confundem tentações com
pecado e os arrogantes confundem pecado com tentação. Os acusados também
aprendem a ser misericordiosos porque são colocados em terrenos de acusação.
Logo, a tentação de acusar e de julgar é o terreno onde um coração puro
resolve fazer o oposto, isto é, ser misericordioso de coração (não apenas na
aparência) e coerente com a verdade. Mas, tais pessoas só se tornarão
verdadeiramente misericordiosos recusando aceitar o pecado e demonstrando o
poder que liberta dele. Aceitando o pecado sob desculpa de ser
misericordioso, não torna ninguém misericordioso e antes conivente e
cooperador do pecado. Os que não se tornam misericordiosos de verdade
poderão ser lavados por cominhos que os fazem julgar os outros e julgam,
principalmente e preferencialmente, aqueles que estão certos.
-
Todo aquele que se torna incapaz de confiar no seu próprio entendimento das
coisas será sempre a pessoa mais convicta quando recebe e vê o entendimento
de Deus sobre essas mesmas coisas. O inverso disto também é verdade: quem
confia no seu próprio entendimento sobre coisas importantes, desconfiará do
entendimento que Deus dá - caso lhe seja dado a ver como Deus tenciona
resolvê-las. Você quer ter fé em si próprio ou em Deus? As duas coisas
juntas não será possível ter. O mesmo podemos dizer dos que se sentem fortes
e fracos, capazes e incapazes. Todos os que, pela carne, são incapazes,
serão vasos de puro poder e força nas mãos de Jesus. "Diga o fraco, 'Eu sou
forte'". Mas, conte com a realidade desta verdade em todos os
casos.
-
Existe um outro lado perigoso naqueles que não sabem ou não querem separar
verdade de verdade e mentira de mentira, isto é, colocar cada coisa em sua
própria perspectiva. Distinguindo entre coisas do mesmo género seria o
equivalente a distinguir entre os membros de uma família. Só assim será
reforçado o discernimento (um dom raro e muito útil nos dias de hoje). A
pior coisa que pode acontecer a pessoas que não conseguem discernir é
tornarem-se capazes de rejeitar verdades por troca de mentiras. As verdades
são desprezadas somente porque alguém não consegue entender, aceitar ou
encarar alguma verdade tal como é. As mentiras, contudo, são bem aceites
pela carne porque confortam-na. A maneira da mentira conseguir entrar em uma
vida é, também, ser aceite como um todo, isto é, sem ser dissecada e
desmembrada. Sabemos que aquele que evita discernir está mais apto a aceitar
mentiras e todo aquele que é honesto e persistente na avaliação das coisas
de Deus e dos homens é pessoa mais apta a viver da e na verdade. Os
cientistas não separam genes de genes e bactérias de bactérias? E o
desenvolvimento do conhecimento nessa área não se deve maioritariamente a
essa prática? Tal como a doença prevalece onde não há investigação séria e
paciente, também a mentira prospera onde o discernimento não é pratica
constante em uma vida espiritual. Do mesmo modo, podemos afirmar que a
verdade prevalece sempre onde o discernimento é sério, honesto, simples,
dedicado e objectivo, tal e qual a saúde existe onde a investigação é
dedicada e precisa. São os dois lados desta verdade.
-
Aquele que se justifica também tem uma mão que facilmente lança pedras sobre
os que, em sua perspectiva, erram. Quem se justifica também se sente acusado
do nada, pois, o seu coração criou o hábito ou instinto macabro de se
justificar por tudo e por nada. Os que se justificam sentem-se ameaçados até
quando não existe ameaça. Na verdade, a auto-justificação pode ser a
consequência da obra da própria consciência ao longo dos anos. A pessoa
sente-se acusada do lado de dentro e a defesa torna-se a sua segunda
natureza, seu instinto natural. Lançando pedras sobre os outros, ou
concordando com quem as atira, ou tecendo culpas a estranhos, ou tendo um
coração que ordena que se lancem pedras sobre alguém que fala, cria a
oportunidade para uma consciência manchada escapar desviando as atenções
dela própria. Tal agitação faz crer que um outro é culpado daquilo que se
sente acusada. Por essa razão é que Jesus afirma que, quem julga, será
julgado pelos mesmos pecados que acusa e vê nos outros, pois, por alguma
razão tem consciência deles. "Aquele que nunca pecou, seja ele a atirar a
primeira pedra". Jesus é muito sábio em inverter a direcção das pedras para
o próprio. Na verdade, todos os acusadores se justificam a eles mesmos na
mesma medida com que acusam. Auto-justificação não é nada mais que uma
cobertura para o pecador-acusador. O outro lado de um acusador é e será
sempre a auto-justificação e quem se justifica tem necessariamente de acusar
e justificar-se porque não quer reconhecer os seus pecados.
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Existem mais duas coisas onde se detecta esta dualidade do coração do homem:
na paciência e na impaciência. A impaciência é parceira frequente de sonhar
acordado. Sonhar acordado e impaciência são inseparáveis, tal como paciência
e fidelidade. Sonhar acordado permite à pessoa "viver" aquilo que Deus não
pode dar logo ou, então, não vai dar sequer. A paciência, por seu turno,
consegue esperar e receber as coisas certas em seu devido
tempo. Por essa razão é que a paciência se consegue preparar para receber e
a impaciência nunca permite essa preparação. A impaciência adia ou anula por
completo o momento de receber, pois, quem sonha nunca se prepara e só
recebem os que estão preparados. A paciência adianta a obra da preparação
porque não perde tempo com banalidades irreais. Deus só pode dar a quem é
pessoa preparada para receber e, depois, continua sendo pessoa que permanece
igualmente fiel após haver recebido. Se não o fizesse assim, não seria um
Deus de amor. Por isso, a paciência tem como virtude o conseguir acabar com
o sonhar acordado. Daí que sobra tempo para a pessoa preparar-se, caso se
dedique à preparação em vez de dormir. Mas, não é apenas isso que consegue:
na verdade, liberta-nos de um tipo de escravatura que é a principal causa da
despreparação. Uma pessoa convenientemente preparada é pessoa para manter-se
fiel ao que recebe. Isso significa que é pessoa que está apta para receber
sem, com isso, destruir a própria alma. José não mudou depois de haver-se
tornado a pessoa mais importante do Egipto. Ele saiu do posto mais vil para
o mais importante do Egipto de um dia para o outro. Você conseguiria sair da
escravatura directamente para o cargo mais importante do seu país sem mudar
seu coração em relação a Deus e ao seu próximo? Por que razão José o
conseguiu? Você está preparado para ser fiel a Deus? Deus pode dar-lhe o céu
neste preciso momento? Sonhar acordado, além de ser uma forma de preguiça, é
uma forma de teimosia. Quando é que começaremos a ver as coisas grandiosas
de Deus como reais, as quais esperam encontrar pessoas prontas, isto é,
pessoas que as recebam como se nunca tivessem vivido de outra maneira?
"...Preparar para o Senhor um povo bem disposto (prontificado)",
Luc.1:17. Sonhar acordado estará sempre
associado ao irreal e ao impossível. E sonhar com o que poderia tornar-se
real é uma das faces da impaciência. Outra face é a despreparação e a falta
de fidelidade. Também existe um perigo real em quem sonha acordado: quando
vier o que Deus promete, a pessoa pode descrer e ofender Deus ou mesmo
rejeitar o que Deus lhe traz por não ser igual ao que imaginava receber em
seus sonhos de preguiça. Os judeus não rejeitaram Cristo? Por que razão,
você acha, veio João Baptista "preparar um povo (com coração) disposto para
Deus"? Não estavam preparados para receber o Cristo que tanto esperavam
porque Cristo chegou até eles de uma forma que não esperavam. "Veio para o
que era seu e os seus não o receberam", João 1:11.
Jesus veio sem nada para oferecer além de Vida Real. Mesmo que O recebamos,
mas, sem alegria, é, para Deus, uma forma de rejeição. Mas, tem mais. Você
já viu pessoas terem medo da realidade? A impaciência e o sonhar acordado
estão estreitamente ligados à timidez que Deus condena. "Por que sois assim
tímidos? Ainda não tendes fé?", Mar.4:40. "Mas,
quanto aos tímidos (...) a sua parte será no lago ardente de fogo e enxofre,
que é a segunda morte", Apoc.21:8. Por outro
lado, encarar a realidade das coisas grandiosas de Deus permite-nos, mais
dia, menos dia, receber o céu aqui na terra como se nunca tivéssemos
experimentado outra coisa. "...Os dias do céu sobre a terra...",
Deut.11:21. A paciência aliada à realidade das
coisas grandiosas de Deus também impulsiona a obediência, pois, motiva o
homem a preparar-se criando um coração entregue, rendido e submisso
continuadamente. Sonhar acordado também permite à pessoa uma vida
própria paralela. E como ninguém consegue viver duas vidas ao mesmo
tempo e nem servir dois senhores, essa vida paralela anula a vida de Deus em
nós depois de descartá-la. Sonhar não permite a realidade de Deus que está
para além daquilo que possamos imaginar. E se Deus entrar em alguma vida de
sonhador, Ele será sempre um hóspede indesejado porque Ele é real. E nenhum
dono de um coração deve sentir-se hóspede naquilo que é seu por direito -
muito menos um hóspede indesejado.
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Agora falemos sobre esquecer e lembrar. Muitos crêem que esquecer é um mau
hábito. Pode ser. Contudo, nunca nos podemos esquecer que tanto o lembrar
quanto o esquecer são faculdades humanas das quais dependemos para nosso
dia-a-dia. Tenhamos em conta que lembrar o mal é tão mau quanto é esquecer o
bem ou aquilo que é bom e oportuno lembrar. Eu creio que tanto o esquecer
quanto o lembrar podem ser boas faculdades da criatura. Esquecer e lembrar,
quanto a mim, estão em pé de igualdade e ambas as coisas podem ser usadas
tanto de forma útil quanto pecaminosa. Esquecer de certas coisas abre espaço
para nos lembrarmos de outras. Não é fácil e nem útil lembrar de várias
coisas ao mesmo tempo. A concentração exige uma boa memória quanto uma boa
facilidade para "esquecer" (abandonar) o que está fora do contexto daquilo
que nos devemos lembrar em dado momento. Esquecer da maneira certa, isto é,
não lembrar delas, permite que pensemos, meditemos e analisemos o que é
importante lembrar naquele momento. Não será isso a concentração? Esquecer
não pode ser pecado, a não ser que se esqueça por negligência daquilo que
devemos lembrar. Temos vários exemplos na Bíblia onde, esquecendo, as
pessoas fizeram a vontade de Deus. O mordomo de Faraó disse que havia pecado
esquecendo-se de José durante dois anos na prisão. Nós, contudo, sabemos
hoje que não foi pecado e sim providência de Deus. Devemos ter em conta,
também, que para nos lembrarmos de certas coisas não podemos ter mentes
ocupadas com aquilo que Deus não considera importante ou prioritário em dado
momento ou em termos eternos. Mentes ocupadas com preocupações, amarguras,
brigas, assuntos deste mundo (entre outras coisas), não são espontâneas e
aptas a lembrarem do que devem lembrar no momento certo. Mas, como se aplica
isto no contexto dos dois lados do coração do homem? Deveria haver uma
mentalidade que reconhece que lembrar e esquecer devem e podem ser parceiros
e não oponentes. Esquecimento ajuda-nos a lembrar e lembrar ajuda-nos a
esquecer. Existe uma cumplicidade entre uma e a outra coisa que devemos e
podemos aproveitar ao máximo sem sentimentos de culpa. É verdade que todas
as coisas boas têm o seu demónio, isto é, cada virtude tem a sua imitação
pecaminosa. Existe uma aplicação errada e pecaminosa desta cumplicidade
entre esquecer e lembrar. Esquecer o que devemos abrirá a porta para nos
lembrarmos do que não devemos. Esquecer de forma natural aqueles pecados
confessados pelo nome e verdadeiramente perdoados abre a porta para nos
lembrarmos do Senhor e vê-Lo tal e qual Ele é. Mas, lembrarmo-nos de pecados
que nunca confessamos pelo nome será muito útil para qualquer um que deseja
viver na luz e confessá-los um por um. Dependendo das circunstâncias,
esquecer ou lembrar tanto pode ser bom como mau. Vemos, por isso, que deve e
pode existir uma verdadeira cooperação, utilização ou gestão inteligente e
útil entre esquecer e lembrar. Ninguém consegue lembrar de uma coisa
importante sem esquecer o que não é importante. Ninguém consegue lembrar sem
esquecer e nem esquecer sem lembrar-se de algo diferente. Evite antagonizar
cooperadores, isto é, os dois lados da mesma virtude.
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Já conheceu pessoas que mudam de ideias por tudo e por nada ou de um momento
para o outro? É mais difícil destacar um só problema do outro lado deste
coração. Existem, de facto, vários problemas em um tal coração instável. É
um lado com muitos deles - é um conjunto. Vamos destacar alguns deles
apenas. Mas, não podemos separar uns dos outros, pois, estão interligados e
são um conjunto de inseparáveis. Normalmente, também morrem juntos quando se
é salvo desses pecados. A pessoa de coração instável vive de acordo com o
que sente e, por vezes, de acordo com aquilo que pensa em dado momento e
todas as suas decisões e atitudes mudam conforme o seu estado de espírito.
As decisões são adaptáveis ao estado de espírito. Estão aptos (programados)
para decidir e fazer de acordo com aquilo que sentem em cada instante
diferente. Mudam como o vento. Esse problema pode e deve ser resolvido
optando pela vontade de Deus, a qual nunca muda. Mas, o mais importante será
achar graça para se manter nessa vontade, custe o que custar. Essa graça
precisa ser achada e mantida fluente e em estado crescente. Outro problema é
a pessoa com esse tipo de coração estar muito segura sobre um assunto e
insegura sobre a mesma coisa no momento seguinte. Descobrindo a vontade de
Deus de forma inequívoca e clara, segurando nela após essa revelação e até
mesmo quando a revelação já estiver meio apagada da memória, também resolve
tal anormalidade caso também haja uma estreita cooperação com a graça e um
negar efectivo da vontade e vida própria. Também será necessário achar
aquele poder vivo e sublime (suave) para executar tudo com perfeição e
espontaneidade crescentes. Isso trará paz de coração e de espírito igual à
do céu. Descobrindo as coisas de Deus de forma real e viva inspirará e
aprofundará a fidelidade e a lealdade, algo que estorvará para sempre
mudanças de humor e de ideias. Outro problema, (talvez o mais despercebido e
disfarçado de todos), é a impaciência. Podemos ter a certeza que uma das
razoes para alguém mudar de ideias constantemente é a impaciência, muitas
vezes aliada à insatisfação sobre coisas que vão mudando a cada hora por
culpa própria. Isso deve ser o que mais priva alguém de experimentar e achar
(de forma viva) a vontade de Deus para a sua vida total. Tal impaciência
nunca permitirá que a vida abundante tome conta de todo um coração porque
essa vida é constante, isto é, eterna. O coração precisa mudar e tornar-se
eterno também, isto é, constante, sem altos nem baixos. Após essa
transformação, uma confiança mútua entre Deus e homem fará o resto. Se a
nossa vida for honestamente abundante, seremos capazes de confiar em Deus na
mesma medida que Ele confia em nós e vice-versa - isso se formos
profundamente honestos. Você é fiel e quer tornar-se fiel?
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Quando o homem tem um relacionamento limitado com Deus (ou não tem qualquer
relacionamento real ou digno desse nome com Ele, através do qual tanto o
dom da fé quanto o fruto da fé brilham
intensamente, transformando tudo aquilo que o homem é e pensa), certamente
que tal criatura terá um tipo de fé própria, sustentada na/pela força da
carne. Não existem descrentes. Existem afastados de Deus com crenças
próprias, seja essa crença ateísta ou não. Ninguém deveria fabricar um tipo
de fé própria onde Deus não está realmente presente. E isso é o que faz quem
não se relaciona com Deus de forma real. É inevitável que assim aconteça.
Antes, deveriam tomar consciência de não terem o relacionamento com Deus que
teriam de ter obrigatoriamente. Em vez de reconhecer a sua situação
deplorável e lamentável, criam a sua própria fé, análise, explicação ou
doutrina. Se o Espírito de Deus não estiver presente de tal forma a poder
alimentar e sustentar a fé do homem de forma exclusiva,
devemos parar
tudo para nos relacionarmos com Deus primeiro. Tudo o resto é de
menor importância - muito menor! O outro lado do homem afastado de Deus é
ter crenças próprias e substitutas e uma insegurança que passa invisível, a
qual substitui aquela segurança natural de uma percepção viva da verdade
realmente viva. No homem vivente, contudo, nota-se a ausência de crenças
próprias de auto-preservação e auto-defensivas. Esse é o seu outro lado,
pois, além de não necessitar delas, tem-nas como uma séria ameaça à
realidade da verdade. Se o homem tentar fabricar uma fé sua,
mesmo já estando a relacionar-se com Jesus de certa forma e de maneira real
e inequívoca por haver-se desviado de seus pecados e, em especial, de
pecados de estimação como a impaciência, má-língua, teimosia e outros,
certamente que evitará a todo custo ser activo no desenvolver e no viver de
uma fé viva e crescente, pois, ainda mantém o hábito de tentar ter a sua
própria. Logo, tornar-se-á uma pessoa apta a crer em doutrinas convenientes
e falsas da graça inactiva ou pouco produtiva que crê experimentar. Dispensa
os frutos reais e consequentes de uma comunhão viva com Jesus. Certamente
que também terá tendência para tornar-se activo e produtivo nas coisas do
mundo. Na verdade, tal aberração de criatura nunca saberá distinguir a
verdade da mentira que criou em seu próprio coração, isto é, que devemos
fazer tudo pela fé, incluindo o que não levamos connosco para a morte. O
homem que fabrica a sua própria fé só saberá viver e conviver com um tipo de
fé que não funcione e que não seja viva e real. Uma fé viva e real atrapalha
a sua vida mundana e tal criatura aberrante precisa de rejeitar essa fé viva
como falsa para poder manter a sua de conveniência como verdadeira. É um
jogo de conveniências para qualquer tipo de consciência suja. Nenhum crente
carnal prescinde do seu "braço da carne", seja esse braço qual for ou de
quem for. Do outro lado, a verdadeira fé é activa, relutante em estar parada
ou sem obra feita, isto é, sem apresentar resultados práticos. Contudo, tem
a sua própria maneira de viver através do óleo que vem do céu. Seu maná, sua
fonte de alimento vem do céu, é invisível e, também, real. Todo descrente ou
crente carnal tem a necessidade de manter a sua falsa fé sob pena de
sentir-se perdido e inseguro. Mas, perguntemos: um perdido real, alguém
realmente afastado de Deus deve ou pode dar-se ao luxo de sentir-se seguro?
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Existe uma estranha associação entre pecado e tentação da qual raramente nos
apercebemos. Isto é, a maioria das pessoas confunde tentação com pecado e,
consequentemente, o pecado passa muitas vezes despercebido como tentação. E
é uma das circunstâncias onde melhor nos apercebemos de como esta dualidade
do coração do homem funciona. Tenho a certeza que todos quantos sejam
capazes de ver a tentação já como pecado, também serão capazes de ver o
pecado como uma mera tentação. São os dois lados duma mesma verdade. Isso
acontece apenas porque não se diferencia entre pecado e tentação. Não existe
discernimento. Devemos levar sempre em conta esta dualidade dentro de cada
coração. Existem estes dois lados que devemos ter em conta. Por outro lado,
todo aquele que vê pecado como pecado, certamente que estará apto a ver a
tentação como tentação também. Tentação não é pecado e pecado não é
tentação.
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A fé real, para existir, exige de nós duas coisas: que Deus realmente fale e
não seja mera ficção da cabeça do homem; e, também, que o homem tenha ou
esteja na fase de ter um relacionamento puro, incondicional e igualmente
real com Deus. Sem essas duas coisas não existirá fé não fingida. Sem uma
dessas duas coisas haverá fé deficiente ou fé ineficiente. Não existe fé
fora de um relacionamento genuíno com Jesus, ainda que se ouça a verdade. E,
também, ninguém poderá crer honestamente sem que Deus haja falado. Uma
palavra vinda de Deus é sempre indispensável para haver fé. Nenhuma planta
crescerá fora do solo e, uma vez no solo, não crescerá sem alimento e água.
Bom solo não basta e uma boa semente também não chega. Tem de haver uma
combinação das duas coisas. A fé, a partir de uma palavra da boca de Deus,
precisa ser cuidada, alimentada e banhada com a presença de Deus. E essa
presença não pode ser uma presença de ficção - precisa ser real. A verdade é
que a fé falsa cresce muito rapidamente fora da presença de Deus e, também,
quando existe uma mentira que afirma que Deus disse o que não disse. Quando
isso acontece, é óbvio que a fé verdadeira deixa de ser opção e desejo. Não
se admire, pois, se sob essas circunstâncias a fé verdadeira seja vista e
tida como a falsa. E, também, podemos concluir que a fé verdadeira precisa
de abolir todas as esperanças falsas e enganosas que se formaram no coração
de qualquer homem ou mulher. A fé verdadeira nunca sobreviverá aliada a uma
falsa e nem a fé falsa sobreviverá aliada a uma clara intenção de sermos
verdadeiros. São os dois lados da mesma verdade. A fé falsa é inconstante e
emocional, por vezes, emotiva mesmo, enquanto a real é paciente, objectiva e
eterna, isto é, constante (sem altos nem baixos). A fé falsa busca a força
da emoção para se assegurar (busca ser fé directamente, saltando o muro para
entrar no aprisco), enquanto a fé verdadeira busca o relacionamento com Deus
e uma palavra da boca d'Ele, seja essa palavra de confirmação ou não. A fé
verdadeira assume que deve ser consequência de um relacionamento e do ouvir
de uma palavra verdadeira, quando a fé falsa se auto-fabrica e se cria a ela
própria, induzindo-se a existir. Quanto mais vivo e quanto mais constante
for o relacionamento com Deus, tanto mais espontânea e mais perspicaz será a
fé verdadeira, a qual não usa a força da carne e do auto-convencimento para
existir e permanecer para sempre. Aliás, a fé verdadeira anula e despreza
tais coisas e tais maneiras de proceder. Na verdade, a fé verdadeira recusa
convencer-se a ela própria e sente repulsa por tal comportamento. Tenha o
cuidado, por isso, de mudar a sua atitude se está abandonando o fingimento
em troca da realidade. A fé real será sempre fácil de obter e é simples em
seu parecer. As fés falsas serão precisamente o oposto disso e só sobrevivem
à custa da força da carne, da complicação, de desculpas e evasões, as quais
precisam resistir a Deus e à verdade para se estabelecerem como são e onde
não devem.
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As pessoas têm (ou absorvem) esta ideia de que mansidão é tolerância. Ser
manso não é ser brando ou tolerante quando o pecado bate à porta. Aliás,
quanto menos tolerante a pessoa é para com o pecado, tanto mais mansa ela se
torna. O pecado traz dureza ao coração e a dureza de coração é o oposto de
mansidão. Então, o que é ser manso? Mansa é aquela pessoa que não é nada
branda com o pecado (principalmente o seu próprio pecado) e, ainda assim, é
muito bem aceite e ouvido. A mansidão torna-nos capazes e mais audazes para
irmos mais longe do que aquilo que imaginaríamos ser humanamente
aconselhável ou possível. Exterminar o pecado em nosso coração torna-nos
mansos e nunca duros.
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Aqueles que falam a verdade e pedem desculpa em seguida por haverem sido
verdadeiros e aqueles que gritam e brigam para dizer uma verdade a alguém
são uma e a mesma pessoa. Ambos buscam justificação para aquilo que fazem ou
dizem. Um pede desculpa para não ficar mal na fotografia e o outro quer que
creiam que a verdade se justifica somente através da ira. São os dois lados
do mesmo coração. Ambos agradam pessoas, pois, só quem as agrada será capaz
de tornar-se desesperadamente desagradável. Todo o tipo de ira no ser humano
é e será sempre uma forma de se justificar a ele próprio. Ira é
auto-justificação e quem pede desculpa por haver falado a verdade, também se
está justificando e perdendo a oportunidade de tornar-se útil ficando
calado.
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Agora vejamos os outros lados da ignorância e da sabedoria. Você já viu
alguém que sofra de ignorância pensar que não sabe nada? É frequente que
quem sabe pouco pense que sabe muito, pois só consegue avaliar as coisas
através dos escassos conhecimentos que tem. Só usa o que tem para pensar e
só pensa com o que tem. Também é frequente vermos que só os sábios
reconhecem saber pouco, pois, fazem uma melhor avaliação das coisas.
Conclusão: quem sabe pouco acha-se sempre sábio aos seus próprios olhos ou
quer mostrar-se sábio; quem é sábio tem sempre a noção de quão pouco sabe.
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A verdadeira obra de Deus, aquela obra genuína de um avivamento real, só
ocorre quando as pessoas estão aptas a receber e aceitar Deus como Ele é e
quando Ele se manifesta de maneira real e da maneira que Ele quer. Se Deus
se manifestar dessa maneira genuína e as pessoas fugirem, rejeitarem-no ou
optarem por suas próprias vidas de uma forma ou de outra, a maldição de Deus
prevalecerá e ninguém conseguirá impedir a maldição sobre tais pessoas, por
muito que tente. Quem rejeita uma tal manifestação genuína de Vida Eterna
nunca ficará impune. Lemos em Lucas que João Baptista tinha como missão
preparar um povo que estivesse afim do Senhor em Sua vinda. E Deus disse que
enviaria João antecipadamente para não ter de ferir a terra com maldição,
Luc.1:17; Mal.4:6. Queria ter um povo preparado e afim, isto é, "bem
disposto para o Senhor". Contudo, quando Deus desce sobre as pessoas de
forma real como aconteceu em Pentecostes e como ainda acontece em alguns
lugares do mundo - e Deus só desce quando um mínimo de condições e
requisitos são preenchidos - as pessoas começam a crer que se tornaram
perfeitas ou Deus não haveria descido sobre elas. É verdade que é
indispensável que haja uma limpeza de vida, de motivos e de pecados prévia a
qualquer avivamento genuíno. Mas, acontecendo o avivamento desejado, logo
todos facilmente assumem estar acima de qualquer suspeita e que já têm tudo
que precisam, esquecendo que a vida apenas começa com um avivamento. É por
essa razão que alguns avivamentos terminam mal, como foi o caso do
Avivamento no Uganda, entre outros. A tentação após o inicio de qualquer
avivamento é e será sempre a arrogância espiritual. Também é por essa razão
que muitos avivamentos são evitados por muitas pessoas honestas e sinceras
em suas opiniões, pois, esses avivamentos tornam-se torcidos e incoerentes
com a verdade, com a humildade, com a santidade e com a exclusividade da
pregação totalmente centrada em Cristo e em Sua obra no interior de cada
homem. A outra tentação é começarem a crer que não existe mais o que limpar
vidas em quem experimenta um avivamento genuíno e eficaz. Não conseguem crer
facilmente que a limpeza, a purificação total e incondicional, só começa
verdadeiramente após uma experiência genuína com o Espírito Santo. Começam a
crer que, se ainda houvesse algo por limpar, Deus não haveria descido. Esta
é a forma que opera todo o coração. Devemos estar supra atentos contra estas
ciladas de arrogância que caem sobre nós como laços - como redes sobre
presas fáceis, pois, as pessoas que experimentam avivamento podem tornar-se
em presas fáceis. Nunca se candidate à arrogância assim tão facilmente.
Comece com Deus e faça tudo para terminar em Deus ainda. Lembre-se que seu
coração tem e terá sempre dois lados.
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Existe um grupo de pessoas que gostaria de conseguir estar perto dos outros
sem serem tentados a julgá-los. Mas, também existe outro grupo onde as
pessoas são mais ignorantes sobre a verdade, os quais fazem questão de
julgar todo tipo de aparência do mal para se imporem como separados dos
pecados que tão facilmente julgam e desejam condenar. Também fazem questão
de fazerem crer que estão separados de quem pertence ao mundo e as suas
coisas. Estes dois grupos parecem, na verdade, muito diferentes e distintos
em sua maneira de ser. Mas, é fácil concluir que se trata de um e o mesmo
coração com os seus dois lados. Existem interesses mútuos em ambos. Existem
pessoas que são uma simpatia para o mundo porque as coisas do mundo ainda
exercem um certo tipo de fascínio sobre elas. A sua simpatia para com o
mundo não é uma demonstração de misericórdia ou de amor e é antes um tipo de
amor secreto por coisas que crêem não mais amar. "Não é bom ter respeito à
pessoa do ímpio, nem privar o justo do seu direito",
Prov.18:5. E aqueles que julgam asperamente toda a aparência de
pecado também provam com isso ter um amor secreto pelas coisas do mundo e
querem fazer crer que desprezam o mundo e seus pecados. Com essa atitude
também demonstram que querem convencer-se a eles próprios que odeiam tudo
que é pecado. Ambos os grupos mantêm amores secretos pelo pecado. Contudo,
parecem ser diferentes. Mas, são apenas os dois lados do mesmo tipo de
coração. Os que se separam também buscam os seus próprios interesses. Se não
fosse verdade, não estariam a julgar todos a torto e a direito sem se
julgarem, preferencialmente, a eles mesmos. Julgar é um hábito de um coração
que esconde e engana-se a ele próprio. Maquina aparências. Não é um acto de
sabedoria - é um acto de auto-justificação e de auto-defesa contra a
consciência. Julgam por temer serem vistos como amantes secretos do pecado,
como se a opinião das pessoas contasse ou fosse o poder que convence.
"Aquele que se isola busca seu próprio desejo; insurge-se contra a
verdadeira sabedoria",
Prov.18:1. Se você é daquelas pessoas que
deseja ardentemente parar de julgar seu próximo, entre fundo em seu coração
e extermine todo amor secreto que ainda nutre pelo pecado e pelo mundo e
deixe o seu próximo em paz. O deixar de julgar e o deixar de buscar atenção
será mais uma consequência óbvia da exterminação desse amor secreto pelo
mundo e seus muitos afazeres.
A conclusão de tudo isto que dissemos aqui é:
um coração que se condena ou uma consciência suja e condenadora pode levar
alguém a uma de duas coisas. Pode levar a julgar quem tem os mesmos pecados
ou pode levar a agradar pessoas. E nenhuma dessas opções é uma boa opção.
Tente, antes, exterminar todo tipo de amor pelo pecado e pelo mundo dentro
do seu coração colocando tudo na luz e verá que as duas opções que citei
deixam de ter razão de ser, pois, a sua consciência deixa de ser
condenadora.
-
Muita gente esforça-se bastante para ter ou ganhar uma boa opinião sobre
algumas pessoas das quais não gostam. Na verdade, a maioria faz isso apenas
porque existe um desejo carnal de obter um sentimento de segurança (ou
amizade) através dos outros ou, então, através de um confronto ou
cumplicidade que resulte em algum tipo de segurança futura desse género. E
sabemos que os dependentes de pessoas vivem independentes de Deus. Os tais,
na verdade, buscam uma opinião para eles próprios, isto é, querem pensar bem
deles mesmos e, para isso, querem agradar outros para serem agradados e
tidos em alta estima para que as opiniões dos outros a seu respeito
substanciem as suas. As opiniões dos outros influenciam as suas. Sabemos que
a nossa opinião sobre nós mesmos raramente é válida, tal como a maioria das
opiniões das outras pessoas sobre nós também não o é. Só através da luz de
Deus podemos e devemos formar opiniões sobre tudo que somos ou sobre aquilo
que nos rodeia. E se é Cristo que vive em nós, que nos importa aquilo que
somos ou o que pensam de nós? Normalmente, as pessoas que precisam ter uma
boa opinião sobre os outros para os conseguirem amar, além de não amarem
verdadeiramente, assumem que é preciso, também, serem alguma coisa para
serem amados por Deus e pelos santos. É o modo do mundo e a forma do mundo
pensar. Também não buscam ver a realidade dos corações para poderem ajudar
melhor e tentam antes ficcionar ou fabricar aquilo que querem pensar de
alguém. Precisam de uma boa opinião (ou mais do que uma) sobre eles mesmos e
sobre outros para se sentirem seguros e confiantes naquilo que fazem. Também
não assumem que somente Deus tem uma opinião válida sobre tudo e que só
através d'Ele nos conhecemos a nós próprios e, também, só através d'Ele
conseguiremos ver os corações dos que nos rodeiam tal e qual são. Mas, Deus
só nos dá a ver toda a realidade dos corações alheios quando não precisamos
mais que alguém seja bom para lhe termos amor ou consideração. Também não
confiam em Jesus se não lhes for permitido confiarem neles próprios.
Precisam saber que a confiança neles mesmos é sinónimo de desconfiança em
Jesus ou em Suas capacidades. Devemos saber que Jesus nos ama como somos e
que devemos amar sem a necessidade de forma opiniões sobre alguém
antecipadamente, isto é, devemos amar incondicionalmente. Amar também é
corrigir. Por isso, concluímos que todo aquele que procura ter uma boa
opinião sobre outros para poder amá-los também busca que pensem bem dele.
São os seus dois lados.
-
Não disse que acharíamos alguma outra coisa para além d'Ele. Lembra-se dos
Israelitas que negaram Deus na intensidade do deserto? Mesmo tendo a Vida
Abundante tão perto, acompanhando-os passo a passo, sempre foram um poço de
queixumes e amarguras. Eles haviam sido pessoas que resmungavam sob o jugo
de Faraó. É óbvio que, se eles houvessem sido perfeitos sob Faraó, tê-lo-iam
sido, também, andando perto de Deus. Aquele que se submete a Faraó,
facilmente se submete a Deus também. Mas, o coração que tinham no Egipto
seguiu caminho com eles atrás de Deus. Esse coração não deveria ter seguido
caminho com eles. O coração que temos vai connosco para onde vamos. Por isso
é que se torna necessário mudá-lo. Se não fossem pessoas de reclamar debaixo
do jugo de Faraó, certamente teriam amado Deus incondicionalmente na areia
escaldante do deserto. Também existe o reverso da medalha: se você for uma
pessoa supra fiel a Deus tendo riquezas e herdades, certamente que não se
queixará facilmente quando for provado pela agonia da perseguição, da dor ou
da caminhada. Lembra-se de Jó? Ele era riquíssimo e nunca negou Deus sob
essas circunstâncias. O Senhor mesmo deu testemunho disso. E o que aconteceu
quando ele perdeu tudo? Manteve-se fiel, pois Deus era realmente a sua única
e exclusiva porção - sempre havia sidoEis aqui outra verdade sobre quando já
nos comprometemos solenemente em conseguir fazer tudo através do Senhor e
para Ele. A Bíblia destaca a necessidade de fazermos tudo aqui na terra da
maneira que se fazem todas as coisas no céu. Conseguir fazer tudo dessa
maneira é o selo de admissão no céu impresso em nossa alma. "Tua vontade
seja feita aqui na terra como
no céu". O que mais conta é a obtenção desse jeito especial, desse caminho,
daquele poder da simplicidade de viver naturalmente com coisas grandiosas e,
por vezes, demoradas e eternas. O que conta é o tipo de fogo que se coloca
no altar de Deus, o tipo de vida que gere os templos d'Ele - você e eu. Anda
colocando fogo estranho no altar de Deus? Cuide-se! Podemos concluir que o
ênfase está mais no modo como se faz a vontade de Deus do que na vontade em
si. É cómodo que se pense que o ênfase está na vontade e não no modo de
fazê-la. É assim que muitos pulam o muro para tentarem entrar no aprisco das
ovelhas, pois, assim, evitam ser trabalhados e transformados por dentro. E
porque as pessoas dão ênfase à vontade e não ao modo de fazê-la, logo estão
a um passo de assumir que tudo quanto Deus quer eles não podem estar
querendo ou, melhor dizendo, tudo que possam querer nunca poderá estar de
acordo com a vontade de Deus. Pensam que, porque Deus quer, eles não querem;
e, quando eles querem, Deus não pode estar querendo simplesmente porque eles
querem. Também assumem por instinto que, aquilo que querem, nunca poderá
tornar-se uma bênção e nem ser abençoado por Deus. Precisam sentir que se
sacrificam e que se negam. Eis aqui um conselho para aqueles que fazem todas
as coisas através de Jesus e, também, para aqueles que ainda não conseguem
fazê-lo. Tudo aquilo que você conseguir fazer através do poder
de Deus é a vontade de Deus. Só pode ser a vontade de Deus. Deixem-me
explicar. Se ainda existem coisas que consideramos nossas; e se nos
aproximamos de Deus com elas; e se Deus responde a essas orações; e se Ele
ainda junta connosco e não estamos juntando sozinhos; se tudo isso é real e
verdadeiro, não poderemos considerar tais coisas como egoístas e nem mais
como nossas, pois Deus nunca abençoaria qualquer tipo de egoísmo. Quando as
coisas são claramente empreendidas, abençoadas e acompanhadas por Deus não
são egoístas. Ana, a mãe de Samuel, desejava muito ter um filho ao ponto de
tornar-se egoísta acerca dele. Todas as circunstâncias levavam-na a desejar
um filho intensamente. A certa altura ela prometeu entregar aquele filho a
Deus para sempre - e nem Deus aceitaria uma entrega temporária. Ela viu como
a intensidade de seu desejo a havia tornado egoísta. Depois da criança haver
nascido e de ter sido desmamada, ela cumpriu a sua promessa e entregou-a a
Deus. Não parece que ela levou tempo demais a desmamar a criança para
segurá-la por mais tempo do que o necessário. Ela havia quebrado a praga do
egoísmo dentro dela. E para acabar com o egoísmo, não recusou ter aquele
filho ou pedi-lo de Deus. Antes, pediu-o com lágrimas e maior intensidade.
Do outro lado, vemos pessoas tentando fazer algo que sabem ser a vontade de
Deus e que não é a sua. Neste caso, entram em conflito com Deus de outra
forma. E é precisamente aqui onde a maioria das pessoas comete erros
infantis ou crassos. Porque sentem que devem negar-se ou sacrificar-se,
assumem que devem efectuar a vontade de Jesus na própria força e do modo
mais sacrificial possível. Jesus subiu para a cruz sozinho? Desceu sozinho?
Devido ao esforço que aplicam na condução dessa vontade negando-se a eles
próprios, conseguem crer que aquilo é o que Deus quer. Recusam a rendição
total do seu modo de fazer as coisas, preferindo queimar o sacrifício com
fogo estranho no altar. E sabemos que foi por essa razão que os
escolhidos filhos de Aarão caíram mortos. Então, por saberem que
aquilo que fazem é ou seria a vontade de Deus e não a sua, logo assumem que
não existe possibilidade de serem negados e usam meios fraudulentos para
alcançar aquilo que deveria ser feito da maneira que se fazem as coisas no
céu. Socorrem-se "do braço da carne". Por não ser a sua vontade, logo pensam
que o uso do fogo estranho no altar de Deus justifica-se. Recusam fazê-lo
através do Espírito e, assim, evitam e impedem que a obra do Espírito seja
profunda e chegue à raiz do seu ser. Como não consideram o seu esforço ou
intenção como egoísta, esquecem que estão convidando a carne a tornar-se
aliada de Deus. Sabemos que onde a carne se envolve, o que é santo
corrompe-se. A carne pode tornar-se facilmente uma imitação perfeita do que
é santo. Conclusão: tudo aquilo que o homem faz através do verdadeiro poder
de Deus e desfrutando de sua intimidade e sendo Deus a guiar e dirigir o
homem e não o inverso, é santo. E tudo aquilo que o homem fizer através da
carne é corrupto ou corrompido ainda que seja algo que Deus quer. Esperemos
não ser apanhados a espalhar aquilo que deveríamos estar juntando com Ele.
"Aquele que não junta Comigo, espalha", Mat.12:30,
Luc.11:23.
-
Eis aqui mais uma verdade. Se você é daquelas pessoas que se queixam sob
provações e não persiste em buscar Deus por Deus seja sob que circunstâncias
for, mas, busca antes o alívio, pode ter a certeza que tem um coração capaz
de negar Jesus quando estiver a desfrutar de abundância. E, do outro lado,
se você facilmente se esquece de Deus quando tudo lhe vai bem, certamente
que se queixará e resmungará quando for provado. Você precisa buscar Deus
pela pessoa que Ele é e não por aquilo que Ele tem ou pode dar. Deus disse
que o acharíamos a Ele buscando a Ele. Não
disse que acharíamos alguma outra coisa para além d'Ele quando O buscássemos
a Ele. Lembra-se dos Israelitas que negaram Deus na intensidade do deserto?
Mesmo tendo a Vida Abundante tão perto, acompanhando-os passo a passo,
sempre foram um poço de queixumes e amarguras. Eles já haviam sido pessoas
que resmungavam sob o jugo de Faraó. É óbvio que, se eles houvessem sido
perfeitos sob Faraó, tê-lo-iam sido, também, andando perto de Deus no
deserto. Aquele que se submete a Faraó, facilmente se submete a Deus também.
Mas, o coração que tinham no Egipto seguiu caminho com eles pelo deserto
dentro. Esse coração não deveria ter seguido caminho com eles e para isso
não acontecer deveria ter sido mudado há muito tempo. O coração que temos
vai connosco para onde formos. Por isso é que se torna necessário mudá-lo.
Se não fossem pessoas de reclamar debaixo do jugo de Faraó, certamente
teriam amado Deus incondicionalmente na areia escaldante do deserto. Também
existe o reverso da medalha: se você for uma pessoa supra fiel a Deus tendo
riquezas e herdades, certamente que não se queixará facilmente quando for
provado pela agonia da perseguição, da dor ou da caminhada. Lembra-se de Jó?
Ele era riquíssimo e nunca negou Deus sob essas circunstâncias. O Senhor
mesmo deu testemunho disso. E o que aconteceu quando ele perdeu tudo?
Manteve-se fiel, pois Deus era realmente a sua única e exclusiva porção -
sempre havia sido.
-
Um espírito independente também é espírito que busca obter atenções
especiais dos demais. "Aquele que se isola busca seu próprio desejo;
insurge-se contra a verdadeira sabedoria", Prov.18:1.
Isolar-se a si próprio é uma forma de chantagem escondida, pedindo ou mesmo
exigindo a atenção dos outros. Por norma, tais pessoas exigem a atenção que
pensam merecer e assumem que não deveriam ser achadas a buscá-la sequer. Se
você é das pessoas que sofre desse mal de isolar-se por tudo e por nada,
creia que também sofre de pecados como a timidez, fazer exigências
secretamente e alguns outros pecados relacionados com eles. Assegure-se de
que lida com eles todos através da verdade e da luz do Espírito e não de
outro modo se quiser obter santidade.
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Os tímidos são pessoas orgulhosas por dentro. Os audazes acabam por alcançar
misericórdia precisamente por serem humildes. Por alguma razão Jesus diz que
os tímidos ficarão de fora e que os humildes recebem graça. Se os audazes
conseguem receber, é claro que são humildes e se os tímidos não recebem, é
porque Deus "resiste aos soberbos". Existe uma estreita ligação entre
humildade e audácia e entre timidez e orgulho.
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Aquela pessoa ignorante que recusa buscar sabedoria por acreditar que sabe
quase tudo, é seguramente pessoa incrédula e só confia nele próprio. Sabemos
que a fé vem pelo conhecimento (da verdade). E quando alguém confia nele
próprio, desconfia de todos os demais. A ignorância e a incredulidade fazem
parte do mesmo coração, tal como desconfiança está no coração que confia
nele próprio. O ignorante só consegue avaliar usando os escassos recursos
que tem. Por isso, se você realmente deseja parar de ter uma ideia altiva a
seu respeito, basta buscar a verdadeira sabedoria de todo o coração e
em Deus e não na Universidade. Achá-la verdadeiramente significa
demolir todos os preconceitos e conceitos que tem acerca de si mesmo e
daqueles que o apoiam. Por alguma razão se afirma que, "a sabedoria que vem
do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia
de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia",
Tiago 3:17. Ache essa sabedoria, esse tipo de conhecimento prático e
verá se o fruto da humildade não lhe será acrescentado juntamente com outros
logo de seguida porque Deus dá graça aos humildes. Note-se aqui que a Bíblia
diz que Deus dá graça aos humildes e não que dá humildade aos que crêem que
receberam graça.
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Todo aquele que busca obter o seu descanso nas riquezas será sempre pessoa
ansiosa e preocupada por natureza. As riquezas não são segurança para
ninguém - e tão pouco deviam poder tirar as pessoas da verdadeira segurança
porque as suas mentiras e falsidade são óbvias. Por isso, quando concluir
que não deve achar o seu descanso nas incertezas do dinheiro e do luxo,
assegure-se, também, que vai deixar de manter aquele hábito sujo de
manter-se preocupado por tudo e por nada. Precisa lidar com esses problemas
particularmente e autonomamente, embora estejam interligados. Ou, caso
comece da maneira inversa, isto é, lidando com e exterminando a
impulsividade dum espírito preocupado primeiro, faça questão de lidar, logo
de seguida, com aquela ideia fictícia de que as riquezas ou as pobrezas
influenciam a nossa vida em algum aspecto. Muitos querem deixar de ser
pessoas preocupadas para que Deus as enriqueça. Extermine essa ideia
mentirosa do seu coração - ainda que seja somente a ideia. Procure sempre
lidar com os dois lados do seu coração sempre que se coloca debaixo da luz
de Deus para ver tudo mais claramente.
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Todos quantos procuram fazer algo pelos outros incitados por desejo próprio
ou por algum outro interesse pessoal, seja esse interesse sentimental ou
material, têm uma grande dificuldade em fazer seja o que for pelos motivos
adequados do amor. Não é possível fazermos coisas por Deus e por nós
próprios ao mesmo tempo. Também é igualmente verdade que, quem faz as coisas
usando o braço da carne ou a sua força, experimentará a impossibilidade de
fazer seja o que for através do poder de Jesus. E todos quantos fazem toda a
sua vida prática através de Jesus de forma real e prática, nunca conseguirão
entender-se vestindo a armadura da carne ou usando a visão curta, instável,
pouco clara e pouco objectiva do egoísmo. Os que estabilizaram a sua
normalidade usando e usufruindo do poder pleno de Jesus nunca se entenderão
com métodos da carne e vice-versa. São leis da natureza às quais ninguém
conseguirá fugir.
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A grande maioria dos crentes já ouviu falar da inimizade recíproca que
existe entre o Espírito e a carne, ainda que nem todos tenham levado a sério
esse aspecto da realidade. Na verdade, são dois inimigos irreconciliáveis.
Não existe paz no lugar ou no coração onde estes dois se encontrem. Essa
arena será sempre um lugar de morte e de guerra destrutiva. Será um local de
total desassossego e desconforto. E, agora, estando cientes de quão real e
quão brutal é essa inimizade entre Deus e carne (de chegar ao ponto onde a
carne precisar de morrer para Deus sentir-se satisfeito, consolado e Sua
obra consumada), vamos ver como funciona toda esta realidade na prática
dentro do coração do homem, a principal arena dos confrontos dessa
inimizade. Muitos sentem grande dificuldade para lerem suas Bíblias de
maneira ávida e esfomeada. Chegam a adormecer quando a lêem. Chegam a ter
sentimentos de culpa e repreendem mesmo todos os pensamentos capazes de
desviar sua atenção da sua leitura, mas, em vão. Permita que lhe conte um
segredo: ninguém consegue resolver definitivamente esse tipo de pensamentos
no momento da meditação, pois, devem ser resolvidos muito antes. Só
podemos resolver esse tipo de problema eficazmente lidando antecipadamente e
previamente com a falta de objectividade no geral, com a falta de amor por
Deus e suas verdades, com o amor pelo mundo e seus muitos afazeres, com o
desejo de companhia e atenção mundana e selvagem, etc. Existem dois lados,
dois aspectos, duas verdades sobre isto: quem ama o mundo, anseia por ele e
se entretém com ele, não consegue amar Deus ou ter desejo por Ele. Ou ama
Deus ou ama o mundo - as duas coisas juntas não são possíveis. Se você
realmente deseja amar Deus e ter respeito por Ele dando-lhe total atenção
durante seu tempo devocional, precisa lidar de maneira séria e eficaz contra
o amor pelo mundo em seu dia a dia. Se ama o mundo, não conseguirá amar Deus
na hora do devocional e se realmente ama Deus, nunca conseguirá amar o mundo
e nenhuma de suas muitas coisas em qualquer hora do dia. Por essa razão é
que precisa lidar com isso antes, para depois esperar resolver as
distracções durante seus momentos de devoção e isolamento com Deus. E caso
deseje viver Deus intensamente, sendo-Lhe supra fiel em todos os aspectos,
precisa levar em conta que existe uma consequente maldição devido a qualquer
tipo de amor pelo mundo. Essa maldição é a falta de dedicação, as
distracções quando deve estar atento e a ausência de amor verdadeiro por
Deus. Toda a vez que tocar em algo do mundo, pode ter a certeza que em falta
de amor por Deus. E essa falta de amor por Ele e Suas coisas é a principal
causa de todas as nossas distracções nos momentos de devoção. E se isso é
verdade, logo podemos facilmente assumir e concluir que que existe uma
consequente bênção e impulsionamento de amor por Deus sempre que deixamos o
mundo ficar mal ou ficar para trás. Ele que chore por nós, mas, que nós
nunca mais choremos por ele. O nosso amor por Jesus renasce sempre que
negamos o mundo dessa maneira. O nosso espírito só pode acordar ou para Deus
ou para o mundo - não será possível acordar para os dois ao mesmo tempo e
nem adormecer para os dois. Por isso, tudo o que você pensar ou fizer
antecipadamente influenciará todos os seus momentos devocionais também, além
do restante da sua vida. Se ama o mundo, distrai-se durante seus momentos
devocionais e de oração. Existem bênçãos e maldições às quais ninguém
conseguirá escapar e essa é uma delas. A qualidade de tudo que fizermos
agora vai depender muito do que fizermos antes. Por isso, a verdade é esta:
se existe amor por Deus em si e a sua consequente dedicação, é óbvio que
isso acontece porque não toca nas coisas do mundo. E se não toca no mundo,
dificilmente seus pensamentos se dispersarão por tudo e por nada.
-
No tocante ao poder do Espírito e ao poder da carne ou suas respectivas
manifestações, as coisas funcionam com a mesma dualidade. A maioria dos
crentes esperam receber o poder de Deus para que possam vencer aqueles
obstáculos que consideram difíceis de superar. Não consideram que, seja
fácil ou difícil, tudo deve ser feito através do poder e da manifestação do
Espírito de Jesus, incluindo todas aquelas coisas que aparentemente são
fáceis de resolver. Se não for tudo feito através de Jesus, se
Ele não junta connosco e nós com Ele em todos os pequenos aspectos
de toda a nossa existência, é pouco provável que o faça nas coisas grandes e
difíceis quando assim desejamos e imploramos dele. É tudo uma questão de
atitude de nossa parte ou de mesquinhez, pois, para Deus, não existem coisas
difíceis e nem grandes - são todas iguais. Contudo, haverá sempre uma dupla
verdade acerca deste aspecto: se você permitir que a carne intervenha,
interfira, aconselhe, palpite, impeça, anule, aconselhe, recuse, apoie, ou
se associe a qualquer aspecto da sua vida, é seguramente inevitável que o
poder de Deus morra e desapareça na totalidade de toda ela e em todos os
aspectos dela. Viverá apenas com o fôlego de Adão, pensando que é do
Espírito. Não se lembra de como o braço da carne já uma vez crucificou
Cristo? Esse mesmo braço fará o mesmo ainda hoje e matará Cristo dentro de
si. O braço da carne nunca fará outra coisa com Cristo - crucificá-Lo-á
sempre. Lembre-se sempre disto: se carne tentar ser sua parceira em algum
aspecto de toda a sua vida, a sua única intervenção ou intenção é matar
Cristo. "...Estão crucificando o Filho de Deus de novo...",
Heb.6:6. Por outro lado, se você se consagrar
por inteiro a Jesus em todos os aspectos de toda a sua vida, o braço da
carne morre. É uma guerra mortal onde o inimigo não sobrevive. Quem poderá
evitar que assim seja? Não pode ter esperança de vir a experimentar o poder
de Deus nas grandes coisas da sua vida ou naqueles aspectos que só você
destaca como importantes, (sendo que para Deus são todos iguais), se você é
precipitado e não está rendido ou entregue na totalidade a Jesus até nas
coisas pequeninas. A ajuda e a intervenção de Deus nunca dependerá do
tamanho do problema, mas, da qualidade de sua entrega. Já viu algum soldado
render-se entregando os canhões e escondendo uma arma mais pequena? Que tipo
de rendição será essa? Aquilo que você faz ou empreende contribui para
aprender a lidar com Deus? O seu alvo é resolver todos os seus problemas ou
aprender a ser guiado e a ouvir Jesus desde o mais profundo do seu coração?
Qual será mais importante, o problema e sua solução ou o relacionamento? O
seu relacionamento com Jesus é estável? É duradouro? Lembre-se que, para
Deus, conta tudo ou nada e, para a carne, basta ter somente uma parte de sua
vida em sua posse porque sabe que Deus pede tudo e, se não tem tudo, deixa
tudo. Mas, existe um outro aspecto, isto é, o inverso disto que estamos
falando. Existem pessoas, por outro lado, que só deixam Deus participar
naquelas coisas que não consideram relevantes ou importantes para as suas
vidas. Eles nunca se atrevem a confiar em Deus quando a dificuldade aperta -
só quando é ligeira. Fazem de tudo para escaparem do jugo da dificuldade
através de meios próprios. Consequentemente, não poderá crer que as coisas
fáceis são empreendidas e levadas a cabo por Deus, pois não é verdade. Ou
você entrega tudo ou não entregou nada ainda. Não pode ter uma fé fingida. É
muito fácil "crer" quando é a carne a resolver os pequenos aspectos de uma
vida impura e parcialmente rendida. Seja como for e qual o aspecto de sua
vida que lhe custa render para perder todos os direitos sobre
ela, principalmente onde o braço da carne intervém, o Espírito retira-se se
não render. "O Espírito do Senhor retirou-se de Saul",
1 Sam.16:14. Não foi preciso muito para o Espírito sair de Saul - ele
só não esperou por uma hora mais por Samuel! Um ano antes, Samuel havia-lhe
dito: "Descerás adiante de mim a Gilgal (...) esperarás sete dias, até que
eu vá ter contigo",
1 Sam.10:8. "Esperou, pois, sete dias, até o
tempo que Samuel determinara; não vindo, porém, Samuel a Gilgal, o povo,
deixando a Saul, se dispersava. Então disse Saul: Trazei-me aqui um
holocausto e ofertas pacíficas. E ofereceu o holocausto. Mal tinha ele
acabado de oferecer e holocausto, eis que Samuel chegou (...) Então disse
Samuel a Saul: Procedeste nesciamente (...) agora não subsistirá o teu
reino...", 13:8-14. Que coisa séria! Mas, onde
é dado ao Espírito todo o poder e todo o direito exclusivo para intervir
livremente como e quando quiser, a carne apodrece. São dois lados da mesma
verdade.
-
Existem pessoas que não levam em conta o mal e nem vêm como perigoso caírem
nele por crerem que o mal em nada afectará o seu final 'feliz' de crente.
Quão enganados estão! Mas, também existem aqueles que levam o mal em conta
para o combaterem de tal maneira que ignoraram, desprezam e negligenciam
seus deveres quotidianos normais como se o mal fosse mais forte. Na primeira
situação, as pessoas têm, com certeza, uma ideia errada sobre Deus e Seus
princípios firmes de castigar toda a forma de mal e até mesmo toda a
aparência de pecado. O hábito de terem más ideias afecta a maneira
generalizada como olham para o ambiente que os rodeia. O objectivo claro de
Deus é que se entreguem a Ele em total submissão para que saiam ilesos de
tudo quanto lhes possa acontecer. Pena que muitos queiram ser heróis! Deus
não busca heróis - busca rendidos a Ele. Não é verdade que temos de fazer a
vontade de Deus. A verdade é que temos de fazê-la n'Ele, com Ele, através
d'Ele e para Ele. Todos devem ser achados firmes n'Ele, serenos, confiantes
e quietos para serem revestidos de todo o Seu poder. Estando n'Ele, a Sua
vontade deixa de ser difícil. Só é difícil antes por uma razão: o objectivo
é estarmos n'Ele, fazendo através d'Ele e não apenas fazer. Agora, as
pessoas que não levam em conta o mal e não vêm como verdadeiro o facto de
que estão em território inimigo, tentando viver para Deus e falar d'Ele, têm
um outro lado: não estão aptos para viver para Deus sendo exclusivamente
dedicados e fiéis à obra que Jesus delegou em suas mãos apesar das
circunstâncias. Quando são atacados pelo mal não sabem o que lhes
está a acontecer. Logo ali se vê que a sua raiz não é funda e sua vontade de
viver para Jesus não é muita. Querem antes que Jesus viva para eles. Mas, se
tivessem levado em conta a realidade do mal que os espera mais adiante,
diriam ou decidiriam algo assim: "Serei fiel a qualquer custo. Não começarei
a bater em meus conservos fiéis, não serei impaciente com Deus, nem comigo
próprio e nem com os que me rodeiam. Levarei em conta que posso escorregar e
desesperar a qualquer momento",
Luc.12:45. Paulo confirmou-nos, tal como Jesus
o fez, que o mal certamente viria. Não podem existir margens para dúvidas em
nós a esse respeito. "Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que
possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, permanecer
firmes", Ef.6:13. Paulo não falou aqui do dia
mau como uma mera possibilidade, mas, como uma dura realidade. E eis aqui
uma outra verdade aterradora: se não levarmos em conta o mal, se não o
tivermos como uma realidade presente e futura, nunca nos iremos preparar
para a sua chegada inesperada. E as pessoas que não se encontrem preparadas
e prontas para ficar quietas em Jesus, reagirão mal e não poderão ser
achados mais simples e mais leves depois de tudo haver passado. Jesus
quer-nos mais leves e mais simples no final que no início. Concluindo: o
outro lado de um coração despreparado e conformado com o mal é reagir de
surpresa quando o mal se aproxima e será mau gestor do bem quando vier. Foge
de um lado para o outro e recusa ficar quieto e calado, apenas segurando em
Jesus. Na verdade, não sabe ficar quieto - não está preparado.
-
Qualquer homem que se convence a ele mesmo no tocante à fé raramente está
apto a ser convencido por Deus. Escuto frequentemente pessoas tentando
animarem-se a elas próprias, algo que, na verdade, nem sempre está errado. A
parte errada é quando começam a acreditar que isso é fé. Fé é ser convencido
por Deus através da clareza da verdade em toda a sua pureza. Se você deseja
ser realmente convencido por Deus de modo a ter fé capaz de vencer qualquer
obstáculo, precisa parar o hábito de se convencer a si próprio. As coisas ou
são verdade ou não são. O outro lado da fé é a investigação, a comprovação
de factos e de tudo quanto Deus disse da maneira clara que disse. Quando se
convence a si mesmo, pode estar a convencer-se de algo que entende como
verdade e não se deixará convencer pela verdade em si. Pode não ser Deus
falando e sim você próprio. Certamente que irá recusar a opinião da verdade,
quando ela chegar, por já haver formado a sua.
-
Muitos crêem que a admiração e o elogio à obra de homens de Deus - ou de
outros - é uma forma de sujeição e de reverência a tais pessoas. Mas, não é.
Pode ser precisamente o oposto. Lembra-se de Simão? "E creu Simão e (...)
admirava-se"? Act.8:12,13. Foi
precisamente esse homem quem ofereceu dinheiro a Pedro incitado pela
amargura escondida de seu coração. Ele queria obter o que Pedro tinha sem
passar por uma purificação total. Queria saltar o muro para entrar no
aprisco das ovelhas. Assim, evitaria entrar pela porta da consagração
pessoal. Nunca confie em admiradores - são falsos. São pessoas desonestas e
são pessoas igualmente capazes de guardar rancores e esconder amarguras
dentro de seu coração de uma maneira ou de outra, mais tarde ou mais cedo.
Basta só o vento mudar e verá essa outra faceta claramente. Quem elogia é
pessoa capaz de criticar. E, por outro lado, se você ainda é capaz de
guardar raiva ou rancor em seu coração contra alguém, creia firmemente que
tem um coração igualmente capaz de admirar os outros porque deseja para si o
que os outros são ou têm. É simplesmente assim que funciona tal coração!
Admirador esconde dentro de si o desejo de ser igualmente admirado e
aplaudido. Olhe para os santos como pessoas dentro da vontade de Deus e não
como pessoas de outro mundo. Torne-se fiel a Deus, também, anseie por ser
você próprio dentro da vontade que Deus tem para si. Assim sendo, evitará
muitos dissabores e muitos tropeços em sua vida.
-
Existe uma grande associação entre os motivos certos e o encorajamento vindo
de Deus. Muitos desejam ser apoiados e encorajados por Jesus sem haverem,
antes, passado por uma purificação integral e exclusiva de todos os seus
motivos. Não devemos apenas ser encorajados por Jesus - deveremos obter os
mesmos motivos que Ele tem. Deus nunca nos pode motivar, a menos que nossos
motivos sejam os Seus. Só assim funciona. Sempre que buscar o apoio e o colo
de Jesus, lembre-se que não pode usufruir desse privilégio sem antes haver
posto o seu coração em conformidade com os motivos de Deus.
-
Existe outra lei da qual nunca conseguiremos escapar. Assim que começamos a
discordar de Deus ou a não nos entendermos com Ele, também iremos estar em
desacordo com todos os irmãos que permanecem santos diante do Senhor e
iremos, com toda a certeza, estar de acordo com os impuros e com os irmãos
mais mornos e mais mundanos. Contudo, não pense que irá estar sempre
consciente de estar em desacordo com Deus. Nem sempre se dará conta disso.
Vamos ver um outro lado desta verdade. Assim que começarmos a estar em
desacordo com irmãos santos que andam em intimidade simples com Jesus,
certamente que iremos estar em desacordo com Deus e fabricaremos um outro
deus da nossa cabeça, o qual estará de acordo connosco e consentirá com
aquilo que somos ou fazemos. É claro que Deus estará em desacordo connosco
também. E assim que estivermos de acordo com pessoas mundanas, deixaremos de
estar com Deus e com os santos. "Andarão dois juntos se não estiverem de
acordo?" Amos 3:3.
-
Já alguma vez viu um marido (ou uma esposa) exigir do parceiro(a) que as
coisas sejam discutidas entre ambos antes que as decisões sejam tomadas?
Sempre que essa exigência é feita por algum deles pode ter a certeza que,
quem exige, é precisamente quem não deseja discutir as suas próprias
decisões e somente as do outro. Teste-se a si próprio e verá que é assim. E
sempre que alguém discute com seu parceiro todas as decisões importantes que
devem ser tomadas, pode ter a certeza que o outro será tentado a fazer o
mesmo. Se as pessoas se desencaminham, é óbvio que também se podem
encaminhar. Lembre-se que a Lei e os Profetas se resumem a isto: faça com os
outros aquilo que desejaria que fizessem consigo. Discutir decisões não é
dominar os outros, mas, buscar a verdade e o melhor de Deus para todos.
-
Eis aqui um pensamento aterrador para aqueles que ainda se debatem se ter
sexo antes do casamento é pecado ou não. Existem mais coisas erradas no sexo
antes do casamento que possamos imaginar. As consequências estender-se-ão
muito para além do acto adúltero em si. Existem muitas consequências
interiores que afectarão quem comete tal acto. Sexo pré-marital significa
sexo fora do casamento. A pessoa que cria esse coração também herdará a
maldição de, após o casamento, ser tentado a obter sexo fora do seu
casamento. Ninguém poderá evitar tal coisa, pois não apenas criou-se um
coração permissivo e adúltero, como também descansará sobre a cabeça de tais
impuros uma maldição contra a qual haverão de debater-se futuramente em
forma de tentação. As tentações e as oportunidades para a infidelidade
surgirão com certeza. A única coisa que poderá evitar tais tentações ou
actos adúlteros após o casamento de quem praticou sexo pré-marital, é uma
transformação de coração alcançada através da misericórdia de Deus antes que
aconteça. (Nenhum coração se transforma verdadeiramente de outra maneira).
Os praticantes de sexo pré-marital criam uma besta dentro deles próprios
(ainda que não a consigam reconhecer) e esse monstro será, mais tarde,
tentado a comer daquilo que gosta, isto é, sexo fora do casamento. Se seu
parceiro pratica sexo consigo antes de se haverem casado, que o impedirá de
fazê-lo com outras pessoas após o casamento? Se não tem moral agora, por que
haveria de tê-lo mais tarde? Quem busca sexo antes de casar, busca traição
ou ser traído mais tarde, pois, mesmo que consiga controlar-se, terá um
parceiro cúmplice de seus actos anteriores e co-herdeiro da mesma maldição.
Jesus avisou que colheremos aquilo que semeamos. Ou Jesus mentiu ou isso
acontecerá como Ele disse. Libertinagem chama mais libertinagem, pois
ninguém vive sem o coração que criou. Por isso, se você é daquelas pessoas
que pratica sexo com seu futuro parceiro ou parceira, lembre que as
promessas de amor eterno não durarão muito tempo, pois, a frieza no casal
chegará mais cedo do que espera e será mais um pecado se não conseguir
cumprir a sua promessa de amor eterno. Sexo pré-marital torna os casais
frios e desapontados a prazo. É uma sentença a prazo da qual ninguém
escapará. Você está preparado para isso? Se não está, por que razão se
entrega à boca do lobo fazendo aquilo que é ilícito e amaldiçoado por Deus?
Sexo foi um presente de Deus para os casados obedientes e não para os
solteiros. Sexo pré-marital é uma usurpação, um roubo desse presente e
qualquer roubo será punido severamente. Lembre-se que esta verdade tem seus
dois lados: sexo pré-marital leva à traição futura e só não cairão nela
aqueles a quem a misericórdia vier transformar a tempo de evitá-lo.
-
Eis aqui outra verdade sobre humildade e orgulho. Aquilo que Deus sabe ser
humildade ou orgulho, nunca é considerado como tal pela carne. A carne tem
sempre uma opinião diferente. Apenas usam o mesmo vocabulário e as mesmas
palavras para descrevem situações distintas. Humildade é transparência. A
carne busca humildade na aparência. E sabemos que a aparência é o oposto da
transparência. Sermos transparentes e claros é a maior evidência de
humildade. Eu creio que a base da humildade é sermos nós próprios, isto é,
sermos como somos. A carne encobre e recomenda a aparência para parecer
humilde. Esconder é a base principal de qualquer tipo de orgulho. Tendo isto
em conta, você deve ter em mente o seguinte: se ganhar um coração igual ao
de Deus, deve preparar-se para ver a "humildade" da carne como orgulho e,
também, estar preparado para que a carne considere a verdadeira humildade
como orgulho e insensatez. Ninguém conseguirá evitar que isso aconteça. O
mesmo princípio pode ser aplicado em relação a qualquer outra virtude ou
defeito. Por exemplo: os que permanecem em Deus serão vistos como
desistentes, pois desistem do mundo e de todas as suas maneiras de ser. Os
perseverantes em Deus serão tidos como teimosos e os que têm a audácia de se
entregarem e renderem a Jesus integralmente poderão ser vistos como
cobardes, tolos e medrosos.
-
Cada pessoa deve ter, obedecer, provar e beber de seus próprios rios de água
viva e aprender a beber deles pessoalmente. Não podemos beber dos rios de
outros e, consequentemente, não esperar que sejam os outros a beber dos
nossos quando os temos. Uma mentalidade leva à outra e o outro lado desta
verdade é: quem quer beber dos rios dos outros achará que o procedimento
normal será pregar para os outros sempre que ele próprio tiver rios de água
viva. Não podemos querer ser admiradores, pois isso significaria que temos
uma certa apetência para ser admirados. Quando aprendemos que devemos beber
dos rios dos outros, instintivamente aprendemos a ideia de que os outros
devem beber dos nossos, pois, as duas coisas estão intrinsecamente
interligadas e associadas. Seria o mesmo que ouvir para aplicar nos outros o
que aprendemos de Jesus. Quem prega para os outros normalmente tenta escapar
do laço que foi lançado para ele para salvá-lo. E deveríamos saber que, se
Jesus nos ensina, ensinará os outros pessoalmente também. "O lavrador que
trabalha deve ser o primeiro a gozar dos frutos",
2Tim.2:6. Os outros beberão quando o nosso cálice transbordar. Você
tem aquele hábito feio de desviar a palavra que Deus tenciona aplicar em si,
pregando para os outros tudo que aprende d'Ele? Não seja um desviador da
verdade.
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É verdade que tanto o orgulho quanto a humildade são próprios do coração e
não se devem a circunstâncias exteriores. Um pobre pode ser humilde ou
orgulhoso, tanto quanto o rico também pode ser pessoa orgulhosa ou humilde.
O orgulho e a humildade devem-se ao coração que o homem tem e não a
circunstâncias externas. A hiper-consciência impede qualquer um de vir a
Deus, seja pobre ou rico. Discípulo torna-se consciente de Cristo e não dele
mesmo. A hiper-consciência pode nascer tanto via pobreza quanto via riqueza.
Então, temos estes dois lados do coração do homem: quem está ou é somente
consciente de Cristo, morre e morto não é orgulhoso - nem pode ser. A
humildade é aquela onde o homem nunca aparece, mesmo quando está em primeiro
plano, no palco. Discípulo é pessoa consciente de Cristo e discípulo falso é
pessoa consciente dele próprio. Podemos, ainda, agregar outra verdade a
esta: a desmotivação ou desânimo de alguém que está em Deus deve-se à
hiper-consciência. Pode comprovar que não existe desânimo em qualquer pessoa
que tem somente a consciência de Cristo dentro de si. Já viu algum morto
desanimado? Hiper-consciência e desânimo andam de mãos dadas e são
companheiros inseparáveis. E será fácil concluir, então, que a perseverança
está inquestionavelmente associada à consciência de Cristo dentro de nós
quando a Sua presença é verdadeiramente real e não é uma mera
suposição fictícia.
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Tenha extremo cuidado sempre que achar duras as palavras de Jesus. Se isso
estiver acontecendo consigo, ou se tem ideias de encontrar ou de inventar
outro evangelho mais fácil e mais cómodo para si, pode ter a certeza que ama
o mundo e que não é Deus quem está sendo duro consigo e antes você a querer
escolher o mundo acima d'Ele. Você é quem está agindo de forma dura para com
Ele. O duro é você. É seu coração que está endurecido e não Deus. É você
quem está endurecendo o seu coração em relação a Deus. Você prefere que
Barrabás seja solto. Então, sempre que você disser que existe dureza em
alguma palavra de Jesus, siga meu conselho e diga ao seu coração: "Coração,
és duro!" Coração experimentará as palavras de Deus como duras e sabemos,
pela verdade, que Ele é manso e suave - sempre foi. Você não pode desejar
palavras mais doces e mais aprazíveis sempre que Deus fala. Alcance um
coração diferente e verá se não é assim. Que terrível será quando Deus o
proclamar como mentiroso diante de todas aquelas pessoas perante quem você
tentou atenuar as Suas palavras por haver dureza no seu coração! Assim que o
seu coração mudar, todas as palavras de Deus lhe soarão bem aos ouvidos. "E
não é assim que fazem bem as minhas palavras ao que anda rectamente?",
Miq.2:7.
-
Por norma e pela lei da espiritualidade, toda a pessoa que entende certas
coisas já as pratica de certa forma. Por isso as entende. É uma lei da
criação. Por essa razão é que Jesus disse que, "todo aquele que pratica,
saberá (entenderá)" e não disse que todo aquele que entende, fará e antes o
inverso: todo aquele que pratica entenderá. Se você entende o pecado é
porque pratica o pecado. Se deixar de o praticar certamente deixará de o
entender. O mesmo princípio pode ser aplicado à santidade, à sabedoria ou a
qualquer outra forma de vida, seja oração, linguagem, idioma ou outro. Se
você entende o inglês é porque já o pratica ou não o entenderia. Ganhe ânimo
se já entende a santidade. Procure vivê-la mais pontualmente e entenderá
melhor os caminhos de Deus. Tenha em mente que só entenderá aquilo que
pratica. Por essa razão é que, muitas vezes, as pessoas hesitam em
lançarem-se para a santidade ou para Jesus, pois não entendem porque
ainda não praticaram. E é difícil entregarmo-nos a qualquer coisa
que não entendemos. Parecerá arriscado demais. Mas, haja fé! Haja quem
pratique as coisas certas da maneira certa sem entendê-las, pois, isso
significa que haverá mais pessoas sábias ou, então, pessoas mais sábias
depois de se aventurarem na solidez da obediência e da fé. Por isso é que o
temor do Senhor é o princípio da verdadeira sabedoria, pois, as pessoas, ao
temerem, praticam e, ao praticarem, ganham sabedoria e entendem melhor as
coisas de Deus. A sabedoria é a principal consequência de quem pratica, pois
"àquele quem tem, ser-lhe-á dado mais",
Mat.25:29.
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Nunca tema
recusar adiantar os tempos que Deus determinou para certas
ocasiões específicas, pois, todo aquele que recusa o adiantamento dos tempos
facilmente recusará os seus adiamentos. Recusando adiantar as coisas não é
adiá-las - é colocá-las no lugar certo dentro do esquema e do tempo de Deus.
Contudo, querendo adiantar os tempos de Deus atrasá-los-emos porque,
enquanto a pessoa está ocupada tentando adiantá-los, não se ocupa com o dia
de hoje e nem com aquilo que a prepara para receber os amanhãs como coisas
naturais. Então, temos esta lei com dois lados: quem recusa adiantar o
relógio pontual de Deus, certamente recusará atrasá-lo também. E quem tenta
adiantar, atrasa, pois, o dia de amanhã depende inteiramente da perfeição
daquilo que se faz hoje!
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É frequente ouvirmos a queixa de que alguém tem falta de fé. (Aqui
deveremos distinguir entre o dom da fé, o qual opera milagres dentro das
especificidades dos tempos e ocasiões de Deus e sob Sua orientação
exclusiva; e o fruto da fé, o qual todo o crente deve manifestar,
independentemente de quem seja. Os que têm o dom também devem ter o fruto. O
fruto é a característica - o dom manifesta-se ocasionalmente pela obra).
Existem crentes que não têm fé, os quais tentam pular o muro evitando entrar
pela porta que dá acesso directo a essa fé. Se não entrarmos pela porta,
seremos considerados ladrões e salteadores. Normalmente, é algum pecado que
mancha a consciência o responsável pela falta de fé, o qual impede a fé de
existir. A fé afunda sempre que a consciência não permaneça limpa. A única
alternativa para tais pessoas que se recusam limpar é tentarem crer pela via
da força e da falsidade. Forjam fé, criando emoções e sentimentalismos
enganosos, ditando a Deus as coisas nas quais desejam crer. Eles decidem no
que vão crer - e que vão crer. Sua fé não se baseia em algo que possam ter
ouvido de Deus. Que tipo de fé é a que não está sustentada em algo que Deus
é ou disse? Pense por si e responda. Mas, parece sempre mais fácil tentar
crer sem ser pela via da verdade no íntimo. Devemos saber que a verdadeira
fé existe devido a uma comunhão real e continuada com Jesus.
É essa comunhão que fornece a segurança àquelas palavras de Deus que
entraram no homem para lá habitarem. Por essa razão é que Jesus fala
daqueles que podem crer. Existem os que não conseguem crer.
"Aquele que
pode crer...", Mar.9:23. Contudo,
isto é apenas uma parte da verdade. O outro ponto é que a fé também nasce
através de uma verdade expressa, a qual conseguimos tomar lucidamente como
verdade. Essa fé também pode, ocasionalmente, começar a existir através de
uma mentira que consigamos rejeitar como mentira. Conseguir crer na verdade
e descrer da mentira são ambas fé. Mas, existe uma coisa que nunca podemos
esquecer: a fé está intrinsecamente ligada e relacionada à verdade. Sem
verdade, não existirá fé. E o outro lado desta verdade é este: a falta de fé
ou a incredulidade está, também, directamente relacionada com o pecado e a
transgressão. Onde houver pecado, existe falta de fé nos mais sinceros e
existe fé falsa nos desonestos e enganadores. Onde houver pecado por limpar,
com certeza que haverá falta de fé ou incredulidade, muitas vezes, atenuada
por fé falsa e esperanças sem sustentação na verdade. Também sabemos que,
para alguém poder aceitar a verdade como verdade, precisa ter ou obter um
coração verdadeiro. O coração que é mentiroso desconfia da verdade e confia
preferencialmente na mentira. "Andarão dois juntos se não estiverem de
acordo?" Amos 3:3. A conclusão é esta: para
alguém poder crer, tem necessariamente de ser verdadeiro ou de estar em vias
de tornar-se verdadeiro por dentro. Existe uma ligação profunda entre a
verdade no íntimo e a verdadeira fé, uma cumplicidade profunda entre a
verdade expressa e um coração verdadeiro. Caso você descubrir que não
consegue confiar em Jesus, deverá ter em mente que a verdadeira fé não é
somente uma decisão do coração. Fé, a real, é sustentada pelo Espírito Santo
tanto quando é assegurada através da verdade no mais íntimo da pessoa. Se
quiser crer de maneira normal, profunda e natural, precisa trabalhar a sua
sinceridade e a sua espontaneidade nela. Se quiser crer de forma legalista,
não precisa ser sincero consigo próprio e nem com os outros. Para ter fé
real, não fingida e simples, precisa conseguir crer naturalmente sempre que
Deus diz alguma coisa, reagindo até às Suas meias palavras, as quais
provocam em nós a busca de sabedoria e de verdade; e precisa conseguir ficar
naturalmente quieto e calado, expectante e resoluto em alcançar essa
palavra sempre que Deus permanece calado. Só depois dela poderá
afirmar que Deus fará aquilo que deseja ardentemente. Deus não se calará
para sempre. Quando você tem esse acesso à fé, esse relacionamento exclusivo
e sincero com Jesus, seu coração pode decidir crer na verdade e descrer
abertamente da mentira sem, com isso, estar a enganar-se a si próprio. Mas,
para isso ser válido, lembre-se dos dois lados da semente da fé: você
precisa ser sincero em sua comunhão real com Jesus; e precisa
realmente ouvir alguma palavra da boca d'Ele. O sustento da fé é a verdade.
O jardim da fé é um coração verdadeiro e sincero. O coração que mente para
si mesmo, que altera as palavras de Deus por conveniência, que esconde a
mentira ou o pecado e refuta a verdade, que se empolga com discursos e
doutrinas, é e será sempre incrédulo e não importa quantas vezes diga
e afirme que crê. O seu tipo de fé falsa só prova o quanto descrê.
Por isso, sempre que quiser crer em Jesus, lembre-se de que precisa ser
sincero e ouvir a verdade. É necessário existirem essas duas coisas para
haver fé genuína e para que a sua decisão de confiar e crer possa ser
vinculativa, segura, constante e decisão essa que não se altera com o
decorrer do tempo.
-
Caso você seja uma daquelas pessoas que vê erros onde Deus não os vê, também
será pessoa para colocar virtudes onde elas não existem. São os dois lados
da mesma verdade. Você agrada pessoas? A pessoa que agrada uns, certamente
julga outros. Aplaude o que Deus condena? Endurece seu coração para aquilo
que vem de Deus? Assim que começar a ver mais claramente através das névoas
dos seus motivos e formas de pensar, também precisará levantar os juízos de
onde os costuma colocar (e aqueles juízos a favor de supostas virtudes
também). Certamente que deixará, também, de condenar os inocentes e de
soltar Barrabás. Não terá mais interesses próprios sempre que olhar para
alguém. Será pessoa isenta. Também deixará de usar os erros dos outros para
encobrir os seus, acusando-os para desviar a atenção de si e de seus
pecados. Não alimentará a amargura e nem a admiração. Como vê, existe um sem
numero de pecados que serão extintos assim que abandonar, na luz, esse tipo
de pecado, isto é, o de achar defeitos e virtudes onde não existem - ou onde
você desejaria que existissem. É dessa maneira que somos purificados através
da luz.
-
Existem aqueles que, vindo a Jesus e experimentando aquilo que é a
transparência de ver e viver na luz, ficam abismados com a impureza de seus
próprios corações. Esses, ou se desculpam e continuam como estão; ou
arranjam maneira de ser transformados devido à vergonha que sentem. Se você
é uma daquelas pessoas que deseja ser transformada, lembre-se de levar em
conta os dois lados desta questão: quem tem um coração perverso é pessoa
independente de Jesus, por muito que se ache dependente d'Ele. Para
exterminar toda a impureza, precisa aproximar-se de Jesus, limpando tudo na
medida que for enxergando e isso logo a partir dos primeiros raios de luz
que começarem a cair sobre seu coração, motivos, pensamentos, etc. Um
coração enganoso é a consequência mais óbvia e mais natural de um
afastamento de Deus. O problema é que muitos não se consideram distantes de
Deus. A Bíblia também afirma que as pessoas consolidam esse tipo de engano
através da sua forma de olhar para as coisas e suas maneiras de pensar.
Quando pensam como o mundo, distraem-se com o mundo e passam muitas horas do
seu dia a pensar nas coisas do mundo ou a pensar nas de Deus da maneira que
o mundo pensaria nelas, é óbvio que conviverão com um coração enganoso sem
se darem conta disso. Defendem tal coração esquecendo que guardam um leão
dentro do seu próprio peito. "O engano existe no coração dos que pensam no
mal",
Prov.12:20. Pense no mal e fará permanecer o
engano. E se isto é verdade, podemos facilmente concluir o inverso desta
verdade: todos aqueles que se entregam a meditar na palavra em sua pureza,
experimentar a verdade e transformá-la em vivência prática diária,
certamente que só podem vir a ser justos ou cheios de justiça. "Quem respira
a verdade manifesta a justiça",
Prov.12:17. "Bem-aventurado o homem que (...)
na Sua lei medita dia e noite",
Sal.1:1,2. "Meditarei nos teus estatutos",
Sal.119:48. Justiça, isto é, sermos justos, não
é algo que se obtêm directamente. A justiça é uma consequência de um
conjunto de coisas que começam a acontecer em nós. Justiça é uma cidade que
precisamos conquistar passo a passo, pensamento a pensamento, indo de glória
em glória e de pureza em pureza. Mas, para haver em nós "a mente de Cristo",
a independência de Deus precisa ser exterminada. E a independência de Deus
significa a dependência de pessoas e, também, a criação de um enganador
dentro de nós. Lembre-se, então, que a dependência de Deus é o oposto de
todas essas coisas e precisará exterminar o coração perverso e a dependência
de pessoas.
-
Lemos assim: "O caminho do insensato (tolo) é recto aos seus olhos",
Prov.12:15. É obvio que alguém que se considere
certo a seus próprios olhos nunca acreditará ser insensato ou tolo. Paulo
fala em buscarmos a aprovação de Deus e em abandonar a nossa própria
convicção e aprovação até que tenhamos a mente de Cristo formada em nós e
nos sintamos bem com ela. Buscá-la não basta. Se assim fizermos, certamente
teremos uma outra visão sobre muitos dos assuntos que prezamos ou
desprezamos. Eu creio que é impossível convencer um tolo de que ele é tolo.
Nunca consegui tal proeza. Ao considerarmos os nossos PRÓPRIOS caminhos
correctos a nossos próprios olhos, atropelamos a questão chave do Evangelho:
submissão e rendição incondicionais a Jesus, sejam os nossos caminhos
correctos ou incorrectos. Então, caso você descubra (ao fazer pleno uso da
Luz) que tem alguns caminhos próprios como certos, pode preparar-se para,
também, ter de reconhecer que existe muita tolice e muita frivolidade em seu
coração. É o outro lado desta questão. Tem necessariamente de existir algum
tipo de tolice no coração de quem tem caminhos próprios e que, ainda assim,
se ache correcto e certo. Só um coração tolo tem aquela capacidade de achar
que vida própria é vida, que caminho próprio é caminho, que amor carnal é
amor, que o egoísmo é um direito, etc. É necessário que quem pensa assim
tenha a certeza da necessidade incontornável de lidar, também, com a
frivolidade de seu coração (por muito escondida que esteja), pois, sabemos
todos que nenhum tolo terá o fim que espera ter. Agora já sabe o que fazer
sempre que sai em defesa de seus pontos de vista devido à atitude que
tem enraizada em si (e não por causa do ponto de vista em si). O
ponto de vista não é a razão por que as pessoas se insurgem argumentando e
defendendo. O coração é o principal responsável por essa forma medíocre e
míope de agir. Assegure-se de que faz uma obra completa assim que deixar de
ter caminhos próprios que lhe pareçam bem a seus próprios olhos, lidando com
a tolice também. Rendição está intimamente ligada à sabedoria. Por isso, a
tolice só pode estar associada à falta de rendição a Jesus.
-
Sabia que buscar e achar a sabedoria de Deus aplica uma sentença de morte ao
orgulho e à soberba no homem? "A sabedoria que vem do alto é, primeiramente,
pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons
frutos, sem parcialidade e sem hipocrisia", Tiago 3:17.
Muitos dizem que ser pobre é ser humilde. Com isso, assumem, ainda que
indirectamente, que os ricos são orgulhosos. Na verdade, não vemos a Bíblia
dizer que os pobres são humildes e nem que os ricos como Jó ou Davi eram
orgulhosos. Você já alguma vez pensou em tornar-se verdadeiramente humilde
de coração, seja rico ou pobre? Então ache, viva e experimente a sabedoria
de Deus e verá quais as consequências! A humildade é uma característica do
coração e não se deve a circunstâncias externas. Um rico orgulha-se da sua
riqueza quanto um pobre se pode orgulhar da sua pobreza. O orgulho busca
sempre algo onde se apoiar ou manifestar, seja riqueza ou pobreza, grande ou
pequeno. Então, se você é daquelas pessoas que deseja ardentemente tornar-se
humilde de coração, leve em conta que ser humilde é essencialmente ser
aquilo que você é. Se anda na luz e se o seu coração vive exposto sem o que
esconder, enfeitar ou realçar, seja para bem ou para mal, está no encalço da
humildade. Tente associar isso a uma vivência prática daquela sabedoria de
Deus que lhe é revelada e a humildade completará toda a sua obra. Humildade
é não fingir - é ser.
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Jesus disse: "Em verdade vos digo que nenhum profeta é aceito na sua terra",
Luc.4:24. Todos sabemos que isto é verdade, seja
por experiência pessoal ou através do reconhecimento de uma simples verdade.
Não quero alongar-me muito nas razões porque um profeta é rejeitado em sua
própria casa. Contudo, desejo mencionar que isso ocorre porque as pessoas
que cercam esse profeta habituam-se demais à pessoa, ao ponto de se
desinteressarem da verdade devido à habituação à pessoa. O mal assume-se
como é por estar à vontade para fazê-lo. E sabemos que o mal sabe sempre
melhor, vê melhor, entende melhor e explica melhor. Por isso, encontrará
irremediavelmente defeitos em quem tem sabedoria e fala por Deus. Se houver
algum membro de sua família cujas palavras se cumprem com regularidade
através do poder de Deus, deve deixar de olhar para essa pessoa como
um membro de sua família e passar a olhá-la como a boca de Deus. Precisa
olhar muito para além dos laços familiares e recusar as tentações de ser
parcial, optando pela pureza no ouvir. Você precisa ter a certeza que
acredita no que Jesus disse a esse respeito, isto é, que é bem possível que
você recuse ouvir um profeta quando ele é seu familiar ou conhecido. Por
isso, se houver uma boca de Deus perto de si cujas palavras são cumpridas
pelo próprio Jesus e nunca caem por terra, certifique-se que não é apanhado
na contra-mão. Não recuse ouvir de forma instintiva devido aos laços
familiares ou a estar habituado demais à pessoa que está do seu lado
constantemente. Existe este perigo: quem tem profeta em casa pode ter
coração que recusa ouvi-lo. E se recusa ouvir o profeta de Deus em casa,
assumimos que ouvirá o falso profeta de fora de casa somente porque é de
fora e fala de outra maneira e é, provavelmente, de parecer diferente. Creia
que é possível acontecer consigo isto que Jesus disse: "Nenhum profeta é
aceito na sua terra". É possível que você rejeite tal profeta.
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Lemos: "Porquanto, quanto não se executa logo o juízo sobre a má obra, o
coração dos filhos dos homens está inteiramente disposto para praticar o
mal. Mas, ainda que o pecador faça o mal cem vezes e os dias se lhe
prolonguem, contudo eu sei com certeza que bem sucede aos que temem a Deus,
porque temem diante dele", Ecl.8:11,12. Caso
conheçamos Deus verdadeiramente, também sabemos que mil anos a seus olhos
são iguais a um dia, embora um dia seja como mil anos também. E Deus pode
castigar o mal agora ou somente mais tarde. Ananias e Safira caíram mortos
no dia da transgressão, mas, existiram outros que só foram castigados muito
tempo depois. Contudo, caso o mal seja castigado só mais tarde e permaneça
impune durante muito tempo, não nos podemos deixar enganar pela visão curta
de nossa perspectiva. Tenha a certeza que o diabo irá tentá-lo nesse aspecto
também. Se o mal se gabar e persistir, assegure-se que você fala com o seu
coração dizendo que mais tarde ou mais cedo qualquer tipo de mal será
punido. Não se deixe enganar por falsas visões da impunidade do pecado e
torne-se sábio. Queira Deus que você O tema e não se deixe enganar pela
aparente impunidade do mal. Não brinque com fogo, pois o outro lado de um
coração que vê que o mal tarda em ser punido, é baixar a guarda para pegar
na abominação. "Pelo que, saí vós do meio deles e separai-vos, diz o Senhor;
e não toqueis coisa imunda e Eu vos receberei",
2Cor.6:17. Esta regra ainda se mantém - ainda é a mesma para todos.
Recuse entrar no jogo da sonolência para não ser apanhado de surpresa. O
castigo de Deus só virá uma vez e não chega com pré-avisos. Viva cada
momento de toda a sua existência como se pudesse acontecer consigo tudo
aquilo que aconteceu com Ananias e Safira e do mesmo
modo, (Act.5).
Neste momento, os dois desejam muito achar uma maneira de saírem do inferno,
mas, em vão. Que não aconteça o mesmo consigo! E para não acontecer,
lembre-se que a aparente impunidade do mal levará o seu coração a baixar a
guarda. Não se deixe enganar.
-
Estagnação espiritual significa actividade carnal e vivência espiritual
significa que a carne morreu. A estagnação espiritual também ocorre sempre
que as pessoas não sabem ou não desejam esperar em Deus para agirem somente
no momento certo e oportuno. Não saber andar ou conviver com Deus leva à
estagnação espiritual. Foi o que aconteceu com os Israelitas no deserto.
Eles tinham Deus tão perto, contudo, não conseguiam ser reinados por Ele
devido ao tipo de coração que tinham e o qual defendiam freneticamente. Ter
Deus perto não é o mesmo quer ter um coração reinável e sujeito. Uma coisa
não significa a outra. Ter Deus por perto é ter um Rei querendo reinar - não
é ter um servo querendo ser reinado. O outro lado desta verdade é: todas as
pessoas que sabem esperar e receber da carne, nunca se sentirão aptos a
esperar e receber de Deus. As maneiras e os modos do mundo são diferentes -
tal como o tipo de coração que espera de Deus e espera da carne são
diferentes. Não pode esperar que uma coisa venha da direita e da esquerda ao
mesmo tempo. Não pode esperar que duas coisas opostas se processem da mesma
forma. Isso seria tolice. Deus afirma que, quem não junta ou não sabe juntar
com Ele ou através d'Ele, espalha. Deus e a carne são e serão sempre campos
opostos, operam de maneira distinta para motivos opostos, pois, são inimigos
irreconciliáveis, são formas de viver incompatíveis. Quem sabe operar
através da carne fica inactivo sempre que a força do Espírito lhe é
disponibilizada ou oferecida. Leve isso em conta se é carnal e não tente
fazer as cosias de Deus do seu modo. O outro lado desta verdade é: a pessoa
espiritualmente madura não sabe ou não consegue agir da maneira da carne.
Leve isso em conta se é espiritual e se ainda cai na tentação de fazer as
coisas do modo da carne. Por outro lado, a criatura espiritualmente adulta
fica atordoada e confusa sempre que a força da carne lhe é apresentada como
alternativa. Não sabe trabalhar através de qualquer meio, mecanismo, motivo,
perspectiva ou outra coisa qualquer vinda da carne. Estas são as duas
principais causas da estagnação espiritual ou da morte carnal - e são os
dois lados de duas verdades.
-
Quando a mente está activa, normalmente a pessoa está parada e fisicamente
estagnada. Já ouviu a expressão "parar para pensar"? Temos um
outro lado inverso: quando o corpo começa a correr a mente deixa de estar
pensativa, pois o corpo exige a orientação da mente na actividade física que
faz. A mente é necessária para cooperar com a actividade para que a pessoa
não tropece ou não pise em alguma pedrinha enquanto corre. Ninguém consegue
funcionar de outra maneira. Fisicamente, as pessoas agem e reagem melhor
sempre que sua mente se encontra disponível para a actividade que se propõem
fazer. É por essa razão que todos os atletas de alta competição levam um
certo tempo para se prepararem antes de cada prova. Eles dizem que é
concentração naquilo que estão prestes a fazer. Na verdade, não estão
propriamente a concentrar-se em algo, mas, a tirar de sua cabeça tudo o que
não tem a ver com a prova. Isso disponibiliza a mente para direccionar
pernas e braços. Pensar ou pensar em outras coisas certamente atrapalharia a
prestação na prova. Actividade física e actividade mental são incompatíveis
quando em simultâneo porque os recursos da mente são exigidos para a
coordenação motora e a mente não pode fazer duas coisas ao mesmo tempo. Se
não acredita que isto seja verdade, tente jogar futebol e pensar em outra
coisa ao mesmo tempo. Esta é uma das razões porque muitos crêem que a
actividade física dá descanso à mente, além de oxigenar o cérebro. Já viu
alguém parar de repente no meio da estrada porque lhe surgiu uma ideia ou
algo que o fez reflectir ou pensar profundamente? Já lhe aconteceu isso
pessoalmente? É assim que funcionam as coisas: ou temos actividade física ou
mental. As duas juntas é difícil de ter, a menos que estejam relacionadas.
Quando temos um misto das duas coisas, ou a pessoa tropeça em coisas que não
vê ou desconcentra-se quando as vê. Não faz bem nem uma e nem a outra coisa.
E agora você me pergunta: o que tem isto a ver com as coisas de Deus e com
os dois lados do coração do homem? Isto significa muito se levarmos em conta
que a Bíblia fala muito em
andarmos no Espírito e em
meditarmos na verdade e na Palavra. Isso significa que pensar
e meditar muito na Palavra de Deus ainda não é andar no Espírito, mesmo
sendo um facto que o Espírito também nos pode assistir na compreensão e na
pesquisa da verdade. As duas coisas são importantes, mas, dificilmente
ocorrem em simultâneo. Meditação concentrada e dedicada é uma
necessidade incontestável e inegociável em todos os seres que se querem
tornar verdadeiramente santos. Os pecadores pensam muito no pecado quando o
estão praticando? Não é verdade que pensam muito no pecado quando não o
praticam? Contudo, você deve ter a certeza dentro de si que sabe que
meditação é meditação e que andar
no Espírito é andar no Espírito. Quantas pessoas se contentam havendo
passado um tempo lendo a Bíblia para, depois, partirem para as actividades
mundanas pensando da maneira que o mundo pensaria e agindo de uma forma a
que Deus se opõe? É verdade que a meditação em oração transforma o nosso ser
pelo lado de dentro. Mas, será que transforma os hábitos e os modos
exteriores também? Temos de saber que, sempre que o nosso coração ou maneira
de pensar sofre alterações profundas, devemos saber adaptar nosso agir e
nossa forma de viver, colocando todo o nosso viver em conformidade com a
verdade revelada ao nosso coração durante aqueles momentos de meditação
abençoada. Obter conhecimento ou o reconhecimento da verdade pede muito mais
de nós do que meditação sobre a verdade. Quando somos justificados, isto é,
quando somos tornados justos, as coisas mudam no lado de dentro. A
santificação é o mudar externo da nossa vivência normal, colocando em
prática exteriormente aquilo em que já nos tornamos por dentro - se é que
nos tornamos! É preciso muito mais que meditar e orar para que a nossa
actividade e santidade se tornem uma parte espontânea de nós, isto é, para
que se tornem a nossa única e exclusiva maneira de ser. Deve ter em mente
que
andar não é meditar. Quanto mais a sua conduta for
espontânea e activa na santidade, menos você medita - enquanto anda e
caminha no Espírito, menos medita e mais se concentra na sua prestação. E
quanto mais você meditar, menos anda. Por essa razão é que não pode
confundir as duas coisas, embora haja certas misturas delas que nos podem
beneficiar. É indispensável a meditação em oração. Mas, isso não chega.
"Procurai a santificação, sem a qual ninguém verá Deus",
Heb.12:14. Embora a meditação profunda seja uma
condição para conseguirmos andar pelo Espírito em toda a
santidade, temos de ter em conta que andar não é meditar e vice-versa. É
assim que nos congratulamos com muitos homens de Deus quando ouvimos que
eles andaram com Deus. "Anda na minha presença e
sê perfeito", Gen.17:1. E que dizer de Enoque
que andou com Deus trezentos anos ininterruptamente!? "Enoque
andou com Deus trezentos anos...",
Gen.5:22.
-
Os temerosos e cobardes costumam prestar muita atenção à sabedoria. Mas,
preferem obedecer à tolice em sua vida prática. A grande maioria dos
medrosos escuta a sabedoria por causa do aconchego da sua companhia e não
porque queiram tornar-se sábios em seu caminhar e viver. A sua conduta será
sempre determinada pela força intuitiva do coração que têm. Essa é uma das
razões por que preferem agradar pessoas. O medo nunca será obediente a Deus.
Não importa por que perspectiva se olhe para o medo - nunca servirá o reino
de Deus. Se você continuar com medo sabendo que Deus está perto - se estiver
perto - precisa reconhecer que o medo é uma atitude ofensiva e decepcionante
de sua parte. Bastaria pedir protecção a Quem pode todas as coisas e
alcançá-la. Mas, se você quiser que todo o seu coração e o seu proceder
mudem logo, deixando de ter medo, precisa levar em conta que existe um outro
lado deste problema igualmente fatal: quem tem medo, também sofre do egoísmo
de buscar atenção nas pessoas e de fazer-se dependente delas. Sempre que se
aproxima dos sábios, fá-lo buscando apoio carnal e não uma conduta ou
resolução permanente para o seu problema. Se o problema for resolvido de
forma permanente, o medroso teme não mais ter como buscar a companhia da
sabedoria. Por isso, sempre que você lidar com o medo de forma definitiva,
leve a Deus o problema de querer ser dependente dos afectos também.
Aproveite e salve-se desses dois pecados em simultâneo, pois, andam juntos.
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Já percebeu quantas vezes as pessoas afirmam que não são amadas sempre que
lhes é negada alguma coisa? "Não me dás porque não me amas!" Pura chantagem!
Contudo, as pessoas nunca se atrevem a dizer abertamente que Deus não as ama
quando as suas orações são negadas ou quando estão sendo provadas, embora
creiam que Deus as despreze de alguma maneira ou as ame menos que aos
outros. Outros afirmam, ainda, que Deus não lhes dá isto ou aquilo porque
devem ter cometido algum pecado do qual não estão conscientes. E isso até
pode ser verdade. Contudo, quando a fé não naufraga devido a qualquer pecado
cometido, o qual faz surgir pensamentos espiritualmente suicidas, Deus opera
em nós a paciência e a virtude sempre que demora a entregar a resposta aos
nossos pedidos conscientes que estejam de acordo com Sua vontade. Deus nunca
se submeteu ao relógio da impaciência e nunca haverá um dia que o fará.
Existe o tempo de Deus, o qual não é, seguramente, o tempo da impaciência.
Na verdade, sempre que as pessoas reclamem da falta de amor para com elas, é
sintoma da existência de direitos próprios dos quais ainda não abdicaram. A
obra mais difícil de ser alcançada no homem é a perda de todos os seus
direitos para Jesus. A rendição a Cristo significa isso mesmo: a entrega de
todos os direitos sobre nossa vida, estejam esses direitos nas mãos de quem
estiverem. Por isso, todos aqueles que usam circunstâncias para provarem que
não são amados por Deus detêm muitos de seus direitos ainda em sua posse.
Esse é o outro lado da verdade. A falta de fé, ou aquilo que comummente
chamam de falta de fé, não é nada mais que a retenção dos direitos sobre uma
vida que se afirma haver sido entregue a Jesus. Concluindo: quem reclama da
falta de amor ou de compreensão da parte de Deus, segura seus direitos. Não
os deseja entregar a Jesus para Ele fazer o que quiser. Essa vida não é uma
vida rendida a Jesus - ainda que pareça ser.
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Existe uma vida que salva humanos, tal qual existe outro tipo de vida que se
esforça para ser divina sem conseguir sê-lo. Uma é celestial e, a outra,
terrena. A vida de Deus nos salvos expressa-se como a própria vida de Deus,
não como uma vida humana que se esforça para ser divina. A vida que se
esforça para ser divina é falsa. Contudo, essa vida falsa acha que a outra é
a falsa, pois faz as mesmas coisas de outro jeito tendo outra essência, a
qual deseja manter para não sentir-se perdida. Jesus veio até nós como
alguém sem qualquer aparência e sem nada n'Ele que nos fizesse desejá-Lo.
Contudo, não deixou de ser santo por isso. E isso só pode significar uma
coisa: Ele ainda é igual e ainda faz o mesmo. "O reino de Deus não vem com
aparência exterior (...) o reino de Deus está dentro de vós",
Luc.17:20,21. O que isto tem a ver com os dois
lados do coração do homem? Aquela pessoa que tem uma vida terrena que se
esforça para ser divina, também terá um coração entregue aos sonhos daquelas
coisas que não se realizam e as quais gostaria que se realizassem sem ter de
mudar nem de coração, nem de vida interior. Deus não é devedor a quem não
muda e Suas promessas nunca se cumprirão com os tais. Deus não deve nada à
carne e nunca prometeu nada à carne, a não ser a morte dela. Se você tem uma
vida terrena que se esforça para ser divina, lembre-se que precisa mudar
duas coisas: o sonhar de olhos abertos e trocar urgentemente a sua essência
e a sua vida terrena pela celestial. Esforçar-se para aparentar vida divina
não é o mesmo que esforçar-se através da vida divina. A vida que se esforça
para parecer divina é carnal.
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"Ninguém há que invoque a justiça
com rectidão, nem há quem pleiteie com verdade",
Is.59:4. É possível invocar justiça sem ser através de rectidão, tal
como é possível defender uma causa importante sem ser pela via da verdade no
coração. É isso que lemos neste versículo. Seu coração é recto e verdadeiro
ou pleiteia as causas próprias? Ou tenta pleitear as causas de Deus de
maneira própria? Existem pessoas que pleiteiam 'honestamente' as causas do
egoísmo, como há aquelas que pleiteiam as causas de Deus mentirosamente,
isto é, sem que todo o seu coração esteja realmente conseguindo rever-se via
o poder de Deus na causa que pleiteiam. Fazem por fora aquilo que o coração
não assimila por dentro. Mas, se pleiteiam causas próprias sem isenção, por
norma, confiam em mentiras e no vento como se fossem realmente causas fortes
e justas. Nunca se deixe enredar em tais caminhos de morte. "...Confiam na
vaidade e falam mentiras; concebem o mal e dão à luz a iniquidade (...) As
suas teias não prestam para vestidos...",
Is.59:4,6. Tais pessoas experimentam vários problemas. Leiamos: 1."O
caminho da paz não conhecem". Isto significa que estão constantemente em
guerra interior, a qual facilmente se exterioriza ou não. 2."Fizeram para si
veredas tortas". Era de esperar que isto acontecesse, pois ninguém pratica a
justiça sendo injusto. Logo, para aparentarem justiça, precisam adaptar seus
caminhos. Existem mais consequências lógicas quando não se pratica a justiça
com rectidão, isto é, não sendo justo. Este capítulo de Isaías fala em
muitos deles. E é óbvio que as pessoas irão tentar fabricar uma paz onde ela
não existe, ou tentar aparentar que são rectos sendo tortos. Isso acontece
apenas porque recusam mudar e ser transformados desde dentro e, por isso,
cuidam das aparências. "O reino dos céus é semelhante ao grão de mostarda
que o homem, pegando nele, semeou no seu campo",
Mat.13:31. Todo aquele que não é justo, envereda por caminhos de
aparência e, assim, concluímos que todo aquele que aparenta ser, não é justo
por dentro. A aparência é o oposto de andar na luz, pois, andar na luz é
transparência e não a aparência. A aparência é andar nas trevas. O outro
lado da pessoa pecadora ou sem justiça é a aparência. Que outra saída teria?
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Deus não respeita o mau-humor. Por norma, o 'respeito' e a consideração é
uma das maiores exigências de todo tipo de mau-humor. Comprove isso e verá
que é realmente assim. Contudo, quando o humor muda para o lado do mal, Deus
não muda junto e continua trabalhando sem deixar em paz quem o tem, pois,
Ele assume que o humor não deveria ter mudado sequer! O mau-humor firma-se
sobre o direito que pensa ter de continuar a ser mau e respeitado. O outro
lado do mau humor é não ser capaz de reconhecer que está errado.
Auto-justificação é onde se firma e a cegueira é a consequência. Deus não
tem tempo para conversar com tal atitude e assume que ela deve ser
prontamente expulsa a pontapé de nosso coração e que somos nós quem deve
fazê-lo sem qualquer tipo de hesitação ou meias demoras. Leve todas estas
verdades em conta sempre que achar estar de mau humor, pois, onde ele
existe, também existe a auto-afirmação e a auto-justificação. Certifique-se
que coopera com Deus para alcançar todas as atitudes e virtudes celestiais
no mais curto espaço de tempo possível.
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Muitos questionam aquilo que ouvem, ficando na dúvida se vem de Deus, do
diabo ou da carne. A única maneira de resolver esse problema é entrarem no
santuário e aproximarem-se muito bem de Deus e isso de forma real. Será ali
onde nos aperceberemos se foi Deus quem falou ou não. Seria como ver os
lábios de alguém mexerem pronunciando certas palavras e seria como
reconhecer a voz de quem fala, associando a voz à Pessoa que conhecemos
intimamente. Nunca iremos ter a certeza da fé sem nos aproximarmos para nos
certificarmos. O problema é que Deus não admite qualquer um em Sua presença.
Por isso, você precisa obter o evangelho de Deus e abandonar o seu. Você
está realmente perto de Deus? Sua presença é real e permanente? Lembre-se
que existem estes dois lados: para ouvir Jesus, você precisa estar próximo
d'Ele. Não tente ouvir - tente tornar-se ovelha e aconchegue-se! Só quem é
ovelha será capaz de ouvir e numca aquele que se esforça para ouvir.
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Viver aquela vida que Deus pede de nós aqui na terra, sendo humanos, deve
ser a coisa mais fácil de todas, pois os fracos e incapazes são os melhores
candidatos a viverem essa vida de plenitude porque ela é vivida através de
Cristo e, também, porque a vida própria é a principal concorrência à vida
eterna dentro de nós. Ora pense comigo: quem se sente forte, busca
fortalecimento? Quem acha que sabe, busca conhecimento? Quem se acha capaz,
busca ser ajudado? Por vezes chega a recusar ajuda! E quem acha que crê em
Deus busca confiar n'Ele? Sendo que ou vivemos a nossa própria vida ou
vivemos através da Vida Eterna em nós, fica claro que os humanos mais fracos
e mais frágeis tornam-se automaticamente os melhores candidatos a essa vida
de plenitude. Sermos humanos não é, por isso, desculpa para não vivermos a
vida de Cristo e sim razão para vivermos uma vida santa - se é que Cristo
realmente vive em nós. "Ora, diga o fraco, 'Eu sou forte'".
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Muitos assumem que uma coisa difícil deve ser feita através da graça de Deus
enquanto as fáceis podemos realizá-las sozinhos. Na verdade, o segredo é
fazer tudo através da graça, seja a tarefa fácil ou difícil. A chave de
tudo, o mandamento principal do evangelho, é que as coisas se processem cá
na terra do mesmo modo que se processam no céu: pela graça. Você necessita
ter em conta que sempre que alguém manifesta aquela atitude de que precisa
orar muito ou lutar muito quando algo parece ser uma dificuldade enorme,
logo assumirá que aquilo que considera fácil poderá ser desprezado ou ser
feito usando o braço da carne. Não existe melhor maneira de manter a carne
viva do que fazer qualquer coisa através da sua força, dos seus motivos, dos
seus modos e através da sua intuição. O objectivo de Deus é que vivamos
somente pela graça, usando todos os seus recursos, seja sob que
circunstância for. "Aqui na terra como no céu", isto é, do mesmo jeito. É
muito importante aquilo que fazemos, mas, é muito mais importante como o
fazemos e através de que poder. Por isso, deve saber que todo aquele que se
aplica muito para achar graça sob circunstâncias difíceis terá de resolver
um problema paralelo sério sempre que as coisas se tornem fáceis e simples,
pois, nega Deus e Seu poder quando tudo está bem e baixa a guarda,
tornando-se, assim, presa fácil para Satanás. Recuse alimentar a carne, seja
de que maneira for e não a deixe sobreviver. "...Derribando raciocínios e
todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus e levando cativo
todo pensamento à obediência a Cristo", 2Cor.10:5.
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Tem lutado com a impulsividade ultimamente? As pessoas impulsivas são,
normalmente, pessoas mimadas e estragadas pelos outros, sejam esses outros
pais, avós ou filhos. São pessoas que não dão valor à paciência e a outras
virtudes como a persistência e o labor, os quais nunca abdicaram de todos os
direitos sobre sua vida. Desejam (exigem) tudo do modo mais fácil e mais
rápido. Impulsivo é mimado. Impulsividade é superficialidade.
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Somos facilmente perturbados pela ideia de que devemos fazer coisas
extraordinárias para Deus. E todo espírito que se entrega a essa ideia,
normalmente, fica amuado ou irado contra a ideia de que, ao invés de fazer
coisas extraordinárias, deve mudar por dentro. Não devemos fazer coisas
excepcionais e antes ser excepcionais para Deus. Você quer ser
herói ou salvo? Deseja salvar-se, salvar gente ou salvar de maneira
excepcional? Tenha a certeza que se você busca ser herói e fazer coisas
excepcionais resistirá à ideia de ter de mudar por dentro e por fora. Esses
são os dois lados da mesma verdade.
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Vivemos na era do "desconhecimento" onde as
pessoas acham que sabem porque interpretam tudo da maneira que melhor lhes
convém, torcendo as palavras de Jesus e achando-se sábios a seus próprios
olhos. E quem se acha sábio não procura aprender, pois pensa que já sabe. E,
com este tipo de coração, quem não se acha sábio teme porque (só) tem aquela
capacidade de confiar em si próprio. "Confia no Senhor (...) e não sejas
sábio a teus próprios olhos". São duas coisas difíceis de fazer para quem
ainda confia na carne: confiar no Senhor de todo coração e não ser sábio aos
próprios olhos. É um drama ser sincero de coração e, ao mesmo tempo, viver
da carne.
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Todo aquele que se gloria também nutre a
ideia de que o que é bom e certo dura pouco, ou que a bondade é algo
invulgar. Não fosse isso, dificilmente se gloriaria. Os que se gloriam e se
congratulam não têm a noção de que as coisas de Jesus duram para sempre.
"POR que te glorias, ó homem poderoso? Pois a bondade de Deus
permanece continuamente",
Sal.52:1. Quem se gloria não pessoa para
crer que o bem pode durar para sempre e tenta tirar partido das coisas
enquanto pode. Para tais, o milagre é um acontecimento raro, a bondade é uma
raridade e a santidade impossível de ser obtida na presente vida. É esse o
verdadeiro estado de coração de quem se gloria, por muito disfarçado ou
oculto que seja.
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Não podemos crer que uma pessoa frívola e superficial seja incapaz de ser
séria. Isso não corresponderia à verdade. Essa pessoa é capaz de ficar séria
sempre que o assunto seja superficial ou frívolo e sem importância. As
pessoas frívolas só demonstram serem superficiais sobre assuntos importantes
e sérios. Tenha sempre estas coisas em conta, pois, a pessoa superficial
pode enganar e induzir em erro através de seu sério aspecto ocasional quando
os assuntos não têm importância eterna. Precisa comprovar sobre que assuntos
ela é séria e sobre quais se torna frívola. Deve levar em conta esses dois
lados de cada pessoa.
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Jesus
não disse que a pessoa nas trevas não anda e nem que ela acha
que não sabe para onde vai. A pessoa anda e acha que sabe para onde vai. Só
"não sabem o que fazem". Um perdido que acha estar perdido, busca uma saída,
um caminho, uma alternativa. Mas, o perdido que não se ache perdido, não
busca o caminho e segue confiante para a destruição. Você vê os perdidos
buscarem o Caminho? Se não buscam, só pode significar que eles acham que
estão no caminho. Existe maior maldição que essa? Jesus disse: "Quem anda
nas trevas não sabe para onde vai",
João 12:35. Mas, isto não significa que a
pessoa pense que não sabe para onde vai e sim que está enganada sobre como
irá terminar. Dito isto, deixe-me sublinhar alguns segredos com dois lados:
a pessoa que anda nas trevas confia somente quando a luz não brilha e quando
não ilumina seu caminho. O homem da luz sente-se abalado sem luz. Já
imaginou a grande adaptação à luz de um cego que começa a ver? Ele contava
os passos para andar, confiava nos sons, no tacto, no olfacto, nas outras
pessoas que o guiavam e outras coisas mais. Quando recebe a visão não
saberá, momentaneamente, viver dela. Não estará habituado à luz. Vê
precipícios onde nunca viu nada e outras coisas mais que podem assustar quem
andava nas trevas. Deve ser uma grande adaptação e um enorme desafio para o
cérebro e para a personalidade de um ex-cego. Quem nunca usou a luz saberá
usá-la? É lógico que precisará aprender a confiar ganhando outra maneira de
ser e de estar na vida. Espiritualmente, acontece precisamente o mesmo. As
pessoas têm medo da luz. Todo o cego que não sabe o que é luz, faz a sua
própria ideia de como ela é. E quando abre os olhos tudo é diferente daquilo
que imaginava. Além do mais, tudo aquilo que aprendeu a ser até se abrirem
seus olhos fica momentaneamente desactualizado e torna-se inutilizado para
sempre. Já não conta os passos para andar e já não apalpa paredes. Isso
seria o mesmo que perder a vida própria. É uma vida nova, uma outra maneira
de viver. Vamos ver o inverso desta verdade. As pessoas da luz não sabem
andar onde existem sombras ou lugares sombrios. Estes também precisam
aprender a segurar na mão de Jesus, pois caminharão pelos lugares tenebrosos
deste mundo. Saberão eles andar segurando em Alguém que os guia, como os
cegos faziam, tendo luz? Que farão tendo luz de sobra ou sabendo como a luz
funciona? Segurarão na mão de Jesus?
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A confusão e a inoperância encontram-se em quem não sabe esperar no Senhor.
Quem não espera no Senhor ou quem espera as próprias coisas d'Ele torna-se
facilmente inoperante e confuso. Devemos ver a impaciência, a ocupação e a
inquietação como inoperância, pois, os que parecem muito ocupados,
normalmente, são ou tornam-se pessoas inoperantes e enganadas através de
suas próprias ocupações. Não chegam a lado nenhum com tanta ocupação, pois
são activos falsos. Esse é o outro lado desta verdade.
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Cansaço é nadar contra a corrente. Já viu alguém nadar contra a
corrente de um rio sem cansar-se? "Ai que canseira!" É o que acontece sempre
que um injusto tenta aparentar justiça; que um egoísta tenta amar; que um
mentiroso tenta ser verdadeiro; que um pregador usa o evangelho para
abastecer-se ou para enriquecer; ou que alguém ora e ora tendo 'fé', mas, é
manietado pelos motivos errados. Ninguém pratica a justiça sendo injusto.
Ninguém ama sendo egoísta. Por essa razão é que a maioria das pessoas se
sente esgotada nos caminhos de Deus e não consegue voar como as águias.
Desistem ou entram por 'evangelhos' mais fáceis e menos verdadeiros. "Saíram
de nós, mas, não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco;
mas, isto é para que se manifestasse que não são todos de nós",
1 João 2:19. Andam contra a corrente. Por essa
razão é que deve ter em conta que, quando se cansa nos caminhos de Deus,
você está a nadar contra a corrente. Contudo, ao invés de desistir, tente
mudar de coração. Seja uma nova criação, conforme a Sua imagem e não nadará
mais contra a corrente. Para um espírito renovado deveria ser tão fácil
andar com Deus quanto seria nada a favor da corrente de um rio muito forte.
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Vamos ver o outro lado de um coração hesitante. Todo aquele que hesita é
pessoa que ainda acredita (ainda que escondidamente) que alguma coisa
depende dele. Isto é, quando podemos e devemos fazer o impossível, ao
hesitarmos, mostramos que ainda temos a crença enraizada que as coisas
dependem de nós e não de Deus. Assim que tivermos a certeza de que,
realmente, todas as coisas dependem de Deus, deixaremos de ser hesitantes
medrosos e arriscaremos tudo lançando-nos sobre Jesus e Suas capacidades.
Através d'Ele faremos o impossível juntamente com o possível, pois todas as
coisas devem ser feitas através d'Ele. E quem não faz o impossível,
certamente que faz o possível através de meios próprios, pois não conhece o
poder de Deus e não tem experiência própria desse poder.
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Exibicionismo significa engano próprio, o qual forja a aparência da verdade
e cria a crença. Exibir ou ser exibicionista, seja sob que pretexto for, é o
maior perigo para o verdadeiro cristianismo e para a verdade de Deus. Isso
significa que toda a verdade que não seja clara só por si e que não seja
experiência real, intuitiva e natural, será exibicionista. Só através do
exibicionismo falará, pois não terá outra forma de expressar-se e nem de se
impor sobre os demais. Contudo, sabemos que a verdade fala bem mais alto sem
qualquer forma de exibicionismo. Se a verdade falasse através de
exibicionismo, estaria a operar contra ela própria. Exibicionismo é um sinal
que diz: "Eu não vivo nada do que ensino!" O interpretador da verdade
raramente a vive. Quem realmente vive a verdade não interpreta nada -
expressa e tenta colocar em palavras tudo aquilo que se passa em sua própria
alma e coração e, quando lê as Escrituras, recebe as explicações que lhe
faltavam sobre tudo que se passa dentro de si. Exibicionismo e engano
próprio vivem sempre lado a lado em um mesmo coração. Qualquer exibicionista
é enganador ou sofre de engano. Muitas andam untados com a verdade, mas, não
são a verdade. Com ela tentam engodar os outros e enganam-se a eles
próprios.
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Já alguma vez viu um crente supostamente honesto dizer sim num dia e no
outro dizer não com a mesma convicção? Não consultou Deus e aconselhou-se
com a carne. "...Não deliberar segundo a carne, para que não haja o sim e o
não...", 2Cor.1:17. Torna-se óbvio que a
indecisão ou as mudanças de atitudes, opiniões ou decisões devem-se muito ao
facto de alguém não deliberar segundo o Espírito, isto é, não ser guiado por
Jesus, consultando-O. "O coração do homem propõe o seu caminho; mas, o
Senhor lhe dirige os passos", Prov.16:9. Isto
significa que Deus pode transtornar as decisões e as deliberações que o
homem tomou sem consultá-Lo. O outro lado da verdade sobre quem não consulta
Deus sobre sua vida é que irá mudar de opinião muitas vezes. Existem outras
verdades sobre quem muda de decisões e atitudes de um momento para o outro.
Sempre que alguém tem um coração instável, não se revê na firmeza de Jesus e
muito menos no que Ele diz. Logo, esquece facilmente a palavra vinda de
Deus. Irá, com certeza, mudar de posição, opinião ou atitude sobre muitas
coisas muitas vezes. No dia seguinte esquece as palavras de Jesus e segue
seu rumo com incertezas e com mentiras confortantes. Só os firmes nas
palavras de Deus deixarão de ser incertos e inseguros. E existem os
inseguros a nível de emoção e aqueles que se sentem firmes sendo seus
caminhos inseguros e incertos. Esses estão igualmente inseguros.
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Quem não faz a vontade de Deus (ou de outra pessoa), nunca é pessoa
inactiva. Porque existem dois lados nesta moeda, também existem duas faces
em uma vida pura: uma é fazer e a outra é não fazer.
Ninguém pense que devemos somente aprender a fazer a vontade de Deus.
Precisamos ser desactivados da nossa própria também. E quando isso
acontecer, para muitos, seremos preguiçosos desinteressados que buscam seus
próprios lazeres. O mundo dirá: "Vai! Ninguém pode ficar assim sem fazer
nada! Que Deus é esse? Não fiques parado!" E tenhamos a coragem de dizer:
"Meu tempo ainda não chegou", João 7:3-6.
Contudo, todo aquele que ainda se encontra muito activo em sua própria
vontade, será desactivado da vontade de Deus. Nunca saberá fazê-la. E cada
coração obterá sua corresponde recompensa ou castigo. Quem não faz a vontade
de Deus, faz a sua. Quem faz a vontade de Deus nunca faz a sua, a menos que
a vontade de Deus já seja exclusivamente a vontade do coração e da alma do
homem.
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A Bíblia fala-nos muito sobre discernir entre espíritos. E é muito bom
termos esse raro dom do discernimento. O dom do discernimento seria dos dons
mais úteis actualmente. É contudo, dos mais raros e dos menos desejados.
Poucos desejam este dom. Mas, é preciso que, aqueles que o desejam, o
pratiquem e usem independentemente das circunstâncias e das pessoas que
possam ser atingidas pela espada de dois gumes. Dito isto, vamos ver os dois
lados do homem ou da mulher de discernimento. Existe uma grande associação
ou cumplicidade activa entre o discernimento e a imparcialidade ou isenção.
Só o isento poderá discernir como convém. Ninguém saberá discernir
correctamente sem ser isento e imparcial. É óbvio que são necessárias outras
coisas, também, tal como caminhar na luz, discernir o próprio coração de
forma isenta, andar com Deus continuamente, etc. Mas, levemos sempre em
conta que nunca se poderá separar o discernimento da isenção, o entendimento
da imparcialidade, o crescimento espiritual da obediência. Se estas coisas
estiverem separadas, são falsas.
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Falemos agora de mudanças de humor. Não existem mudanças de humor sem falta
de entendimento. Toda a falta de entendimento ou de disposição para aprender
e entender resultará, obviamente, em um espírito que se afecta com mau-humor
ou mudanças bruscas de humor. Será a consequência mais óbvia. Por norma,
tais pessoas buscam ser entendidas pelos outros quando a sensatez e a
verdade afirmam que são elas que necessitam entender-se e esclarecer-se a
elas próprias. Todos os males de coração resolvem-se definitivamente de
joelhos através da obediência e amenizam-se (camuflam-se) resistindo-os. E
quem resiste continuamente persistirá nesse erro de camuflar, escondendo o
sol com a peneira e tornando-se hipócrita esforçado fazendo semelhanças do
que há no céu. Sabia que Jesus salva verdadeiramente de
qualquer tipo de pecado e torna qualquer pessoa
verdadeiramente livre dele para sempre? Isso é a verdadeira
doutrina da salvação - quando somos salvos do pecado. Mas, o que eu gostaria
de frisar aqui, +e que mau-humor e falta de sabedoria estão intrinsecamente
ligados um ao outro.
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Muitos roubam da glória de Deus e atribuem-na a eles próprios com o intuito
secreto de atraírem pessoas a eles para, com isso, preencherem os vazios
causados pela ausência de Deus. A lei da natureza determina seu outro lado
consequente: todo aquele que busca a sua glória afasta as pessoas de si,
seja a longo ou a curto prazo. Não existe glória própria que subsista por
muito tempo. Só a de Deus dura para sempre. Além do mais, quem se gloria,
dificilmente obtém a atenção dos outros, pois, todos buscam a glória própria
também e não prestam atenção à de outros. Ninguém está disposto a dá-la a
outro neste mundo. Concluindo: somente os humildes, quietos em seu canto
silencioso e modesto, serão capazes de atrair todo aquele que está cansado
do barulhento mundo da glória própria. Eles sabem da verdade e vivem-na,
pois, sabem que a glória realmente pertence somente a Deus. Nunca deveremos
esquecer esta combinação: quem rouba glória para atrair, entra na lei de
afastar pessoas de si e quem realmente vive dando glória a Deus, atrai
pessoas.
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Toda a pessoa dominante e controladora também é possessiva e busca total
atenção e satisfação sentimental. Será sempre necessário lidar com as duas
faces de tais pessoas, porque senão, um dos pecados parceiros fará o outro
voltar.
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Existe um outro lado naquelas pessoas que, muitas vezes, não conseguem crer
que podem alcançar certos patamares da vontade de Deus. Existem pessoas, por
exemplo, que não acreditam poder chegar à santidade ou estar à altura dela e
de tudo que isso implica. Sentem-se inferiorizados ou mesmo inferiores de
natureza. São essas mesmas pessoas que se sentirão orgulhosas caso logrem
alcançar aquilo que nunca creditavam ser-lhes possível. Logo, existe uma
certa combinação e uma certa conivência entre o orgulho e os sentimentos de
inferioridade ou de incapacidade. A verdade é que Deus também não pode dar a
quem se vai sentir orgulhoso recebendo. A pessoa com complexos não receberá
de Deus e isso parecerá ser uma confirmação daquilo em que acreditava: que
não iria conseguir tudo quanto Deus pede dele. Podemos, por isso, concluir
que todos quantos são orgulhosos sofrem de algum tipo de complexo de
inferioridade e o seu orgulho é a força que lhes 'dá' seu 'equilíbrio'. E
todos os que se sentem inferiores a alguém são pessoas que não crêem
conforme as Escrituras e conforme a verdade, sendo que Deus criou todas as
pessoas da mesma maneira e morreu por todos com o mesmo amor. A verdade é:
existe uma grande associação entre os complexos de inferioridade e o
orgulho.
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Existem certos factos que não podemos negar. São evidentes
demais. Um desses factos é o das preferências. Sempre que temos preferência
por uma pessoa, podemos ter a certeza que temos coisas contra outras - ou no
mínimo, um coração capaz de guardar coisas contra alguém. Isto é, uma
preferência sobre uma pessoa será sempre em detrimento de outra. Quando
escolhemos entre pessoas, devemos saber que também somos capazes de escolher
contra pessoas.
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Já alguma vez viu uma pessoa que não é totalmente fiel em seu
trabalho de forma contínua e permanente? De acordo com a Bíblia, a pessoa
que gasta mal seu tempo e não é fiel em tudo, é pessoa que também gasta mal
o resto que tem. "O que é negligente na sua obra é também irmão do
desperdiçador (gastador)", Prov.18:9. Creio
mesmo que quem gasta mal seu tempo, gasta mal seu dinheiro e tudo que tem.
Quem é infiel numa coisa será infiel em qualquer outra coisa, pois, a
infidelidade é um estado de coração e não depende das circunstâncias.
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Lemos algo assim na Bíblia: "Pois que tanto gostaram de andar
errantes que não retiveram os seus pés",
Jer.14:10. Qualquer pessoa perdida terá sempre
a energia e a pré-disposição de permanecer perdida. Não vai restringir ou
desviar os seus pés do mal, antes, busca-o. O outro lado desta verdade,
contudo, é: quando uma pessoa tem um coração acostumado ao desvio e à
perdição, ao parar por alguma razão, não saberá mover-se. Ou se desvia, ou
não sabe andar. Caso o caminho da verdade lhes seja proposto, ficam sem
saber caminhar nele. Por essa razão, todos os que se convertem genuinamente
precisam aprender a caminhar havendo-se tudo
tornado novo. Isto significa que os hábitos e os costumes condicionam muito
qualquer pessoa. Esses mesmos hábitos têm aquela capacidade de fazer alguém
duvidar e olhar para trás. Caso a pessoa não consiga ou não queira
restringir os seus pés no caminho do inferno, certamente que não saberá ou
não entenderá o caminho da santidade. Mas, damos graças a Deus que o inverso
também é uma verdade: se alguém não restringe seus pés no caminho da
santidade e se tem total liberdade e inspiração em Jesus e Sua natureza,
certamente que não saberá caminhar no caminho do pecado.
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Todo aquele que tem falhas na obediência ou na fidelidade, seja no trabalho
ou em sua obra, também sofre de exageros para, por vezes, tentar compensar
as suas falhas. Quem tem certas falhas, certamente que ser+a tentado a
exagerar e a criar hábitos maus de se mostrar ou de tentar compensar as suas
falhas. A verdade é quem tem exageros, tem falhas e quem tem falhas sofre de
exageros. Isso também é uma forma de inconstância dos caminhos hesitantes e
inconsequentes.
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Já alguma vez meditou seriamente naquelas
palavras de Jesus onde Ele diz que existem pessoas que preferem saltar o
muro do que entrar no aprisco das ovelhas pela porta? De facto, existem
muitas circunstâncias onde isso acontece. Vamos pensar um pouco sobre isso.
Por exemplo, agradar pessoas é uma falsidade que impede amá-las
verdadeiramente; é uma alternativa ao amor, uma semelhança de algo que
existe no céu. Porque não amam verdadeiramente, encontram uma maneira de
fingir amor para que camuflar e esconder sua falta de amor. Isso é uma das
razões porque creio firmemente que somente aqueles que agradam pessoas são
capazes de desagradá-las. Da mesma forma que a porta do amor é negligenciada
e se pula o muro para agradar pessoas, desse mesmo modo iremos encontrar
imitações de todas as virtudes e de todos os frutos de uma verdadeira
ovelha. Podemos ter a certeza que existem orações que não obtêm respostas; e
que existem esperanças falsas para impedir a verdadeira; e, também que
existem muitas formas de imitar a santidade, a pureza e tudo aquilo que
Jesus opera em nós gratuitamente. As pessoas irão preferir sempre um caminho
alternativo acima de pedir a Jesus uma real transformação. Se, por acaso,
descobriu em seu coração atitudes imitadoras, peça a Jesus para derramar
abundantemente Seu amor em seu coração. Não precisa fingir. Aplique o mesmo
princípio a todas as outras virtudes e a todos os frutos do Espírito.
Devemos estar isentos e libertos de todas as aparências e da dependência
delas. Não precisamos depender mais das aparências. Jesus é real. E para
sermos verdadeiros quando já andamos com Deus, precisamos, inicialmente
começar a ser verdadeiros quando ainda somos maus e ímpios. Jesus transforma
todos quantos são verdadeiros em Sua presença, pois, é precisamente diante
de Deus que qualquer um deseja ter ou manter uma boa aparência.
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Any sinful person is always searching for an
own righteousness to lean upon and to justify himself. A saint seeks own
sins to cleanse his heart and to accuse himself. Now, if a sinful person
comes to genuine conversion, he must know he needs to deal thoroughly with
the sinful habit of justifying self to be assured. This habit was
learned over the years and needs to be dealt with along with all its
ramifications, such as: the 'need' to be assured either by others or by
self; the idea that everybody is a possible enemy of his opinion; the
instinct to hide and the fear to expose and put self fully in the light do
die; in fact, a new convert needs to deal against all forms of
self-justification along with all its side effects. Concerning the saints,
they must know that self-accusation is as good as self-justification.
Self-accusation is a lamentation for not being right. It cries out because
it can no more justify itself. Self-accusation is self mingling in godly
affairs. It is the devil trying to serve in the temple of God. The heart of
man is treacherous indeed. Self-accusations and accusations are not
convictions worked by the Spirit of God. It is self crying because it can't
be good and can't show itself as such. Let conviction be at work.
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Lembra-se de Zacarias, Pai de João Baptista? Lembra-se de
como ele não estava preparado para crer nas palavras que o anjo Gabriel lhe
trouxe e ainda atemorizou-se como se algo estranho estivesse acontecendo?
Ele deveria saber que, trabalhando para Deus, algum dia qualquer coisa do
género lhe poderia acontecer. E isso pode acontecer com qualquer um de nós.
Mas, existem mais verdades acerca disto. Quando consideramos que somos
pequenos demais para ouvirmos tais coisas e descremos, se pensamos que o
tamanho conta para Deus, isso significa que temos um coração que facilmente
despreza aquelas tarefas que consideramos pequenas ou insignificantes. Assim
sendo, temos um coração que vive fora da realidade de Deus e que usará da
força da carne para cumprir e ser presunçoso acerca das tarefas e dos
deveres importantes para a nossa transformação. Não podemos pensar que
existem obras grandes e pequenas para Deus. Elas só são grandes e pequenas
para nós, porque nós assim as consideramos. Todas as obras visam a nossa
fidelidade, fé e capacidade, juntamente com outras virtudes importantes para
o coração. A verdade principal acerca disto é que, quem se considera pequeno
demais para uma tarefa que, a seus olhos, pode parecer grande, tem um
coração que, certamente, desprezará aquilo que considera insignificante e
pequeno. "Porque, quem despreza o dia das coisas pequenas?",
Zac.4:10. Se não conseguirmos crer em alguma coisa que Deus nos diz
por havermos esperado demasiado por essa coisa ou por havermos deixado de
crer que Deus não está connosco, que não se interessa por nós, iremos
descrer quando algo que consideramos importante nos acontecer e, também,
iremos ter um coração que facilmente negligencia tarefas que consideramos
pequenas e insignificantes. Vamos aprender a ser fiéis aos detalhes mais
insignificantes das coisas mais pequenas, para fazermos tudo bem. Só assim
ganharemos um coração que não se perturba quando algo importante ou
grandioso acontece. Esse é o outro lado do coração do homem. Aquele que é
fiel nas coisas pequenas, será fiel nas coisas grandes. O que conta para
Deus não é o tamanho da obra, mas, a capacidade de sermos pessoas de
confiança e fiéis. "Homens israelitas, por que vos maravilhais disto?",
Act.3:2. "Não te temas e nem te espantes",
Jos.1:9. Se pensamos que somos pequenos demais
para nos encontrarmos com um grande homem de Deus, se nos deixamos levar
pelo acontecimento, isso só pode significar que ainda damos valor ao tamanho
das coisas e das pessoas. Se isso ainda acontece connosco, podemos ter a
certeza que ainda nos sentimos superiores perante a pessoa mais
insignificante aos olhos do mundo, ainda que tenhamos algum tipo de comunhão
com ela. Devemos ter a capacidade de sermos mais pequenos que o mais
pequenino e, ainda assim, sermos fiéis a Deus em tudo. Vamos estar
preparados para as coisas que consideramos grandiosas? Olhemos para as mais
insignificantes, sendo fiéis e estaremos na escola dessa preparação.
Existem muitas mais maneiras e muitas mais facetas de nossa vida
quotidiana onde esta verdade sobre os dois lados de cada atitude (O lado visível
de qualquer atitude e o seu lado consequente). A única coisa que tentei fazer
aqui, foi expor minha visão sobre esta verdade do outro lado de cada coisa ou
acção. Estava em meu carro quando, um dia, Deus revelou-me esta verdade. Se cada
um de meus leitores andar com Deus, seguramente que Deus mostrará muitas mais
facetas desta verdade à qual nunca alguém escapará - seja para bem ou para mal.
Deus ensina até ao ser que menos merece nesta terra. E, por isso, agradeço a
Jesus e ao Seu Espírito. Amém.