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ORGULHO E HUMILDADE

"Eis que desejas que a verdade esteja no íntimo; faz-me, pois, conhecer a sabedoria no secreto da minha alma", Sal.51:6

É muito necessário falar-se sobre este tema da humildade e do orgulho porque o orgulho priva e elimina, mantendo afastado do bem quem dele está necessitado - a humildade mantém em busca do bem da vida que se pode usufruir aqui na Terra antes da morte até, "como os dias dos Céus sobre a Terra", como refere Deut.11:21, ou seja "cá na Terra como no Céu", isto é, da mesma forma, do mesmo jeito.

Porque se acha que o orgulho é gabarolice e falar em grande e em defesa do próprio e daquilo que lhe convém, vai-se sempre achar que a humildade será o oposto disso, isto é, dizer-se que não fizemos quando empreendemos. Por essa razão se dá o ar 'humilde' da hipocrisia e não será de admirar que a partir daí o mundo não se reveja na humildade que os crentes evidenciam porque considera tal coisa hipócrita. Ora, a humildade não é aquilo que transparece dos comentários e pensamentos dos homens iníquos que "transformam a verdade de Deus em mentira pela hipocrisia dos homens", "tendo a aparência de piedade, mas negando sempre a eficácia dela". Vamos então "atentar com mais diligência para as coisas que temos ouvido para que em tempo algum nos desviemos delas", nem mesmo em tempos de mentira e tribulação áspera e sem dó.

O orgulho é o prato principal de qualquer pecador, a força, a motivação e a base de confiança dele porque não tem como achar outra forma de estar na vida - nem outra razão de viver e de se motivar. Vamos analisar um pouco e de forma superficial este engenho pecaminoso que faz com que o homem resista sempre que Deus lhe sugere algo e isso apenas porque Ele é humilde de Espírito e contrário à expectativa do pecador. Onde nasce e porque nasce a soberba? Qual a fonte desta peste negra, que de tão densa que é, que nada deixa ver e observar, nem mesmo "em plena luz do dia"? Porque nasce e subsiste sempre que o pecador seja iluminado lá de cima? Porque se opõem os pecadores a qualquer forma de humildade apenas porque lhes é uma forma estranha de vida? Vamos ver.

Para chegarmos lá, consideremos um pouco daquilo que é, de facto, a humildade na sua essência mais pura. A humildade não é mentirosa. Por isso, para o humilde o falar da verdade é e será sempre o maná que o faz viver dia após dia. Como não é mentirosa, não pode usufruir de comentários como "não fiz" sempre que faz, "foi Deus" e que mais quando foi ele que fez por Deus. A humildade assume sempre a verdade das coisas, doa a quem doer - se é que dói na realidade. A verdade é a fonte de águas vivas de qualquer tipo de humildade, o lugar onde a humildade se abastece. Sem a verdade, a humildade nem existe sequer e nunca subsistirá por muito tempo, pois, a mentira mata tudo aquilo a que se apega, tendo poder para o conseguir sempre, tal como o faria uma praga numa plantação ou peste num rebanho. A mentira em palavra, acção ou feito, crença ou vida, mata irremediavelmente rápido. Depois de matar, tem como manter nas trevas, para que, quem morreu, não seja ressuscitado através do pleno poder que Deus tem para vivificar qualquer tipo de morto, seja este morto em pecado apenas, ou morto fisicamente. Nunca ninguém poderá separar aquilo que Deus uniu: a verdade da humildade, o ser verdadeiro com a simplicidade e singeleza de coração.

A humildade fala verdade, convive com ela e é companheira inseparável do ser verdadeiro intimamente e com a maior das simplicidades existente num grande à-vontade próprio de quem conhece Deus como Ele é de facto, cá e agora na face desta vasta terra tão nova e já assim repleta e cheia de engano e casmurrice por onde quer que se olhe. Essa casmurrice pervertida está enraizada em tudo o que comemos, em tudo o que consumimos e em toda a forma de se expressar do meio mundano, não permitindo que outro género de linguagem se fale, se pense, ou se instale como quando um computador não permite que um programa seja instalado nele; e, quando não seja mais possível que se recuse a permitir tudo que não quer, passa a ser mal vista e prontamente desprezada e dilacerada pela má-língua para afrontá-la. Vamos então procurar ser "imaculados e irrepreensíveis", "guardando-nos de sermos, pelo engano dos homens abomináveis, juntamente arrebatados, descaindo da nossa firmeza" da humildade com isso.

Caro leitor, o que é para si a humildade? Já deu consigo a pensar em tal coisa? A humildade não é apenas falar a verdade como ela é sem qualquer omissão de qualquer género, não apenas (indo mais longe ainda!) ser-se verdadeiro por natureza: é viver como se nenhuma outra forma de estar na vida existisse e isso da forma mais natural e real possível. Ser humilde é ser na aparência tudo aquilo que você é realmente, também. Daquilo que não existe nem sequer se fala, quanto mais assumir essa tal forma de estar que corrompe tudo e todos! A humildade é e será sempre o ser-se verdadeiro sem qualquer preconceito de qualquer género. Nada mais, nada menos! Tal como a humildade está associada por natureza a todo tipo de verdade e simplicidade na sinceridade, também o orgulho se achará prematuro na avaliação das coisas que vê e que não vê, ou verá as coisas como as quer ver, propondo-se alcançar patamares de ilusão e mentira própria e condicionada pelo próprio, a qual se serve da palavra de Deus para se poder substanciar e evidenciar cada vez mais a si mesmo. Se a humildade é sermos quem somos como somos, o orgulho será evidenciar aquilo que não somos. Se pecámos, a humildade revela que pecámos, enquanto o orgulho dá outra cara à sua aparência encobrindo seu pecado. "Aquele que encobre suas transgressões nunca prosperará, mas aquele que as confessa e deixa, alcançará misericórdia", Prov.28:13.

O orgulho encobre, mata se for descoberto, perverte para se encobrir, acha mecanismos de perversão em tudo aquilo que se pode agarrar para se defender de qualquer ataque de luz que revela e ilumina e isso apenas para  nunca ser visto como é. Está sempre alerta e prontificado para fazer uso de qualquer dos muitos mecanismos de auto-defesa auto-criados, mesmo quando não tem do que se defender - até quando se fala a favor de quem é sempre orgulhoso, este tem um triste instinto infernal para se defender; sua auto-defesa está sempre alerta e em prontidão absoluta mesmo enquanto dorme. O orgulho defende-se até do que imagina e nem é real, pois será isso mesmo que lhe retira a auto-confiança que o abastece continuamente; imagina, digere e culmina em mal, pensando e vivendo daquilo que imagina, estejam essas mesmas coisas baseadas na Bíblia ou não, "pelo engano dos homens detendo a verdade de Deus em mentira" cruel e encobertamente. Vemos que estes se usam da Palavra de Deus para se fortalecerem, pois, se um pecador se convence a si mesmo que é crente e que o pode ser, partirá para convencer os outros também para se poder fortalecer ainda mais e melhor co-substanciado. Ganhando a confiança dos outros, abastece a sua própria confiança enganosa. Não existe bem ou mal ao qual o orgulho não se apegue, desde que consiga tributar e triturar tudo a seu favor, para benefício próprio! É mesquinho, perverso e segue com as forças que um dia por certo lhe faltarão! Não leva Deus em conta de forma real e prática, porque Ele é Verdadeiro e incorruptível - se não fosse assim, levaria! Por essa razão, o orgulho é encobrir quem se é, enquanto a humildade será expor tudo que que é real e tudo quanto somos tal qual somos, isto é, vivermos como somos e sem qualquer cobertura da parte de nada nem de ninguém.

A arte e destreza maior de toda a forma de se orgulhar de qualquer pecador, é o encobrir e o enganar e enganar-se a si mesmo. Sua auto-confiança serve sempre de base para seus enganos, como se dum porta-aviões flutuante se tratasse que atira mísseis para consumo próprio, pois nenhum desses mísseis deixará alguma vez de ferir o próprio eventualmente. Pelo orgulho se desvia da verdade das coisas, encobrindo através de formas de vida e de morte muito próprias, criando uma forma de vida muito sua. Daí que Cristo fale, referindo-se ao pecador, "da sua própria vida", aquela que criou para dela viver e sobreviver ainda, quando se refere aquilo que o pecador deve deixar para poder ser transformado num ser realmente vivente por dentro "perante o Senhor, na terra dos viventes", Sal.116:9. Apenas os humildes de coração poderão estar, ao mesmo tempo, vivos e na real presença de Deus! O Senhor guarda os simples de coração. Toda a confissão de todos os pecados pelo nome, cria em nós um espírito recto e rectilíneo, pois faz-nos humildes, simples e simplesmente verdadeiros. Se um mentiroso em vez de lutar contra a tentação de mentir se propusesse antes falar apenas a verdade, sua vida seria bastante mais económica e duma leveza infinita, na qual nem sentiria aquela tentação de mentir sequer.

Ora, faltando esta base de humildade, de verdade em seu íntimo, num pecador, ele sente-se sempre ameaçado e desprotegido quando não pode mentir ou enganar-se a si mesmo porque não crê que algo de bom possa vir da Galileia, pois descrê e nunca assimila que Deus só perdoa quem vive reconhecendo perante si próprio, Deus e todos os tipos de homens - e apenas isso mesmo. Por essa razão muitos desistem de confessar seus pecados em publico e mesmo em privado, pois sua forma de subsistência e fantasia perece com isso, deixando e criando um certo vácuo na confiança ignorante de toda a espécie de pecado. Todo pecado é sempre soberbo porque a soberba é sua única base para a confiar. Perecendo esse seu modo de sobrevivência, conivência e convivência apoiada e co-substanciada por muitos iguais e pela auto-confiança que isso acarreta, cria-se uma era de estrangulamento "à própria vida" através da confissão incondicional e total, isto é, "vida própria", a qual Cristo quer que neguemos para a poder matar com Ele na Cruz e isto para sempre e não temporariamente como muitos assumem sem pensar muito direito sobre o assunto.

Na verdade, um pecador sempre que começa a viver aquilo que é conforme é, terá sempre enormes problemas em manter seu modo de vida antigo caso esse seja vergonhoso, pois a Luz tratará de se estabelecer e solidificar desse jeito. todo pecador pode viver encobrindo a si próprio seu pecado, mesmo sabendo que os outros vêm seu mal. Mas, se revelar e diante de Deus, sentir-se-á condenado por si mesmo ao ponto de verificar que a Luz de Deus nunca mente sobre ele e sobre ninguém para agradar porque Seu perdão é real e não precisa ser agradável para poder perdoar. Logo, sua auto-confiança se esvai em sangue e morte própria, provocando um grande derramamento e crise de auto-confiança e auto-estima que muitos pregadores tentam manter a qualquer custo como base principal da fé que os incentiva e sobre a qual pregam - substituindo a real com ela. A auto-confiança é simplesmente o principal rival da verdadeira fé, seu inimigo mais mortal. Todos têm medo de falar a verdade, seja sobre eles próprios ou a de outros aos mesmos, porque acham que vão perder com isso. Por essa razão, as crises de identidade são muitas vezes obra do Espírito Santo - algo que a maioria dos pregadores nunca aceita como tal. Mas, caso não fossemos chamados a confiar só em Cristo, essa teoria de manter qualquer pecador confiante quando em pecado, seria algo a ter e levar em conta. Quanto menos confiante ele se puder sentir, maiores serão as hipóteses de viver em Deus de forma real e constante, isto é, de forma eterna: sem altos e baixos, pois Deus é constante e permanece. Mas, tendo Cristo para confiarmos solidária e comodamente, porque temeremos ainda deixar e abandonar essa "própria vida" à qual Cristo se refere muitas vezes como opositora da Vida que só Ele tem como e porque dar, essa "vida própria" sem a qual achamos que não sobreviveremos?

Humildade, aquela à qual a Bíblia se refere, é sermos o que somos sempre e incondicionalmente. Um mentiroso pode falar a verdade ocasionalmente e quando mais lhe convém, sem com isso começar a ser verdadeiro para sempre e em seu íntimo, até para ele próprio. Podemos confessar um pecado porque o cometemos e tornou-se-nos impossível mantê-lo encoberto e manter nossa pose de santo mediante factos que se tornaram conhecidos de outras pessoas, sem com isso começarmos a ser verdadeiros por iniciativa e força própria, nem em relação a isso nem quanto a tudo o resto que ainda se esconde dentro de nossos corações e consciências. Pecado que se encobre e se fecha, é sempre uma porta fechada para Deus também e por essa razão Ele nunca entrará em nossa vida - nem mesmo quando vamos ao altar entregá-la levianamente. Cristo mesmo disse: "Quando levares tua oferta ao altar e aí te lembrares. volta e reconcilia-te primeiro. deixa ali tua oferta e depois volta.". Cristo não rejeita, pois disse para deixar ali a oferta para uma ocasião futura, assim que estiver tudo em pratos limpos com todo tipo de gente.

A humildade é sermos como somos de forma singela e simples, quase inconsciente. Nenhum humilde tem verdadeira consciência de sua humildade, pois tem apenas consciência de que é verdadeiro e assume os factos tal qual eles são e se lhe apresentam e isso quase sem esforço. Humildade é sermos como somos e não dizermos que não fizemos quando fizemos, que não somos sempre que somos. Jesus era extremamente humilde - e continua sendo - e nem por essa razão deixou de dizer que era Todo-Poderoso, que era Deus em pessoa. Logo, pelos parâmetros da igreja actual, isso não seria considerado humildade e por essa razão o crucificaram. Mas Jesus disse: "Se dissesse que tinha pecado, seria mentiroso como vocês". Isto é n'Ele um sintoma de verdade e humildade sã, simplesmente precisa e objectiva. Moisés assumiu que abriu o Mar Vermelho e por essa razão esqueceu rapidamente o assunto que os outros ficaram a lembrar porque não fizeram o mesmo que ele como ele o fez. Moisés não necessitava dizer, "foi Deus quem fez", pois todos viram que foi Ele. E viveu com isso sem mais comentários de sua parte - até sem mais comentários para ele próprio. Se foi Deus, para ele a questão estava resolvida. Se não houvesse sido Deus, também estaria resolvida em sua mente humilde e sã.

Seja humilde sendo você mesmo, diante de Deus. Pecado morre pela sua exposição à luz, tal qual se cria que os vampiros morriam quando expostos à luz do dia. Exponha-se e verá a diferença em si, dentro de si. Mas faça-o diante de e mediante Deus. Amem.

José Mateus
Portugal